Tributação, Taxa Selic, Inflação… Uma alternativa de FII para enfrentar o segundo semestre
Período promete trazer alguns impactos para os fundos imobiliários, mas ainda existe ao menos uma boa opção para proteção

Antes de qualquer tema, é preciso tratar do impacto da proposta de Reforma Tributária que vem interferindo na performance dos fundos imobiliários desde sexta-feira (25).
Em resumo, o Ministério da Economia divulgou a intenção de encerrar a isenção sobre os rendimentos distribuídos a pessoa física a partir de 2022, com uma alíquota de 15%. Como “compensação”, a tributação no ganho de capital cairia de 20% para 15% no próximo ano, em linha com outros ativos negociados em Bolsa.
A justificativa principal do governo seria a simplificação da regra entre as classes de ativos. Deste modo, a tributação dos FIIs seria equiparada ao restante dos fundos (não listados), que passa a ser de 15%.
De fato, há muito o que acontecer em relação ao texto apresentado por Paulo Guedes na sexta-feira, pois ele deve ser discutido e aprovado na Câmara e no Senado, para depois ainda passar pela sanção presidencial.
Mas a tributação de dividendos (ações), o fim do JCP e a tributação dos rendimentos dos FIIs pressionou bastante o mercado local.
Até o fechamento de quarta-feira, o IFIX apresentava queda de 2,2% em junho e 4% em 2021. O impacto nas cotas dos FIIs já era esperado, mas é importante citar que o processo ainda está em negociação.
Leia Também
O salvador da pátria para a Raízen, e o que esperar dos mercados hoje
Felipe Miranda: Um conto de duas cidades
Sem entrar nos méritos da proposta (que possui inconsistências na minha opinião) e de sua aprovação, minha missão aqui é direcionar uma alternativa de proteção, que pode até se tornar uma oportunidade para o segundo semestre.
Como interpretar o segundo semestre
Mesmo fora do contexto da Reforma Tributária, o cenário para FIIs ainda possui algumas questões a serem endereçadas.
Se, por um lado, o mercado residencial segue aquecido, o nicho comercial ainda engatinha quando tratamos de recuperação econômica.
O IFIX — que é composto majoritariamente por FIIs de tijolo (destaque para lajes, galpões e shoppings) — segue em trajetória descendente, impactado por diversos fatores macro e microeconômicos.
Falando sobre a parte macro, gostaria de ressaltar o impacto da elevação da taxa de juros (Selic), cuja mediana das expectativas para o final do ano sofreu diversas atualizações até se fixar em 6,5% ao ano.
A inflação, que acumula alta de 8% nos últimos 12 meses (IPCA-15), é fator determinante nesse movimento.
A inflação que, inclusive, segue sendo revisada para cima no mercado, impulsionada pelo crescimento econômico do país. Nesta semana, foi a vez do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) elevar sua projeção do IPCA de 5,3% para 5,9% no final do ano.
A alta da taxa básica de juros normalmente causa reflexo negativo na indústria de FIIs, por ser um concorrente natural de seus rendimentos.
Por outro lado, o mercado imobiliário sempre foi considerado uma excelente opção de investimento para proteção contra a inflação, muito em função da indexação dos contratos de locação.
Porém, devido ao momento de volatilidade no mercado, promovido pela pandemia, nem todos os FIIs de tijolo conseguem repassar essa correção inflacionária aos locatários, que foram prejudicados pelo fechamento dos estabelecimentos.
Shoppings e Lajes Corporativas, por exemplo, foram os principais prejudicados no período e alguns proprietários se viram obrigados a flexibilizar as correções por determinado tempo a fim de evitar desocupações.
Neste cenário, os FIIs de CRIs se tornam alternativas atrativas para o momento, dado que são atrelados ao crédito imobiliário.
Conforme já trouxe em colunas anteriores, os fundos de crédito atuam no mercado imobiliário por meio de títulos de dívidas atrelados ao setor, alcançando diversos segmentos. Em sua maioria, os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) são os principais ativos presentes nas carteiras dos fundos.
Normalmente, os títulos investidos são indexados às taxas de mercado, inclusive CDI, IPCA e IGPM. Dessa forma, eles são capazes de repassar as altas inflacionárias, por exemplo, dado que as operações de renda fixa são atualizadas diariamente pelos índices.
Em função da correção do mercado nos últimos dias, entendo que há uma janela interessante de oportunidade para criar uma exposição a categoria e se proteger mais fielmente aos índices.
Qual é a melhor opção neste momento?
Para este cenário estipulado, uma das minhas principais opções seria o fundo RBR High Grade, o RBRR11.
O RBRR11 é um fundo imobiliário gerido pela RBR Asset e administrado pelo BTG Pactual. O fundo nasceu em maio de 2018 com o objetivo de auferir rendimentos e ganhos de capital na aquisição de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).
Com um amplo portfólio de ativos, o fundo possui três estratégias (Core, Tático e Liquidez), sendo que a Core é a mais representativa da carteira atualmente, com 87% do patrimônio, de acordo com o último relatório gerencial.
Aqui encontraremos os CRIs high grade, aqueles que possuem rating RBR de pelo menos “A”, isto é, estamos tratando de ativos de qualidade.
Além disso, na estratégia Core se encontram CRIs destinados a investidores profissionais e operações que foram originadas e estruturadas pela própria gestora, o que garante que a equipe acompanhe os processos de emissão e tenha uma avaliação mais diligente.
Atualmente, a carteira é composta por 36 CRIs de diversos devedores e indexados ao CDI (46%), IGP-M (27%) e IPCA (27%). É importante citar que o fundo acabou de encerrar uma nova emissão e, devido ao processo de alocação dos recursos, esta composição será marginalmente alterada.

A duration média da carteira é de 3,4 anos e o LTV (loan-to-value) médio é de 58%, valor bem interessante que pode ser traduzido da seguinte forma: a cada R$ 58 que o fundo “empresta” via CRIs, existem R$ 100 como garantias ou como valor de imóveis – também podemos ler o número como uma razão de garantias, ou seja, as garantias são, em média, 1,7 vez maiores do que os montantes emprestados nos CRIs.
As garantias são importantíssimas para uma operação de CRI, especialmente no momento atual. O aumento da correção monetária das dívidas pode provocar uma deterioração na qualidade de crédito das operações, visto que impõe um pagamento de juros superior ao devedor.
Caso este não tenha um fluxo de caixa saudável e a estruturação não tenha garantias firmes, existe uma possibilidade de default que pode prejudicar o cotista do fundo.

A última distribuição foi de R$ 0,80 por cota, o que, aos preços atuais, representa um yield anualizado de cerca de 9,7%, interessante se levarmos em consideração o risco do fundo, que é baixo.
Mesmo atribuindo uma alíquota de imposto neste montante, ainda temos uma renda interessante para capturar. O RBRR11 também possui um resultado acumulado de R$ 0,70 por cota, que pode ser utilizado para “cobrir” eventuais inadimplências e/ou para turbinar a distribuição de proventos.
Em nossas estimativas, projetamos um yield na casa de 8% a 9% nos próximos doze meses, a depender do tempo de alocação integral dos recursos da última emissão.
Em geral, interpreto que sempre é importante manter um portfólio equilibrado para se proteger de cenários negativos.
Atualmente, os fundos de crédito, que conseguem capturar a elevação dos juros em seus rendimentos, se tornaram as melhores alternativas de renda neste curto prazo, principalmente após o anúncio de sexta-feira em relação a tributação. Por isso, o RBRR11 é uma alternativa interessante para o portfólio.
Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor
Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro
Cada um tem seu momento: Ibovespa tenta manter o bom momento em dia de pacote de Lula contra o tarifaço
Expectativa de corte de juros nos Estados Unidos mantém aberto o apetite por risco nos mercados financeiros internacionais
De olho nos preços: Ibovespa aguarda dados de inflação nos Brasil e nos EUA com impasse comercial como pano de fundo
Projeções indicam que IPCA de julho deve acelerar em relação a junho e perder força no acumulado em 12 meses
As projeções para a inflação caem há 11 semanas; o que ainda segura o Banco Central de cortar juros?
Dados de inflação no Brasil e nos EUA podem redefinir apostas em cortes de juros, caso o impacto tarifário seja limitado e os preços continuem cedendo
Felipe Miranda: Parada súbita ou razões para uma Selic bem mais baixa à frente
Uma Selic abaixo de 12% ainda seria bastante alta, mas já muito diferente dos níveis atuais. Estamos amortecidos, anestesiados pelas doses homeopáticas de sofrimento e pelo barulho da polarização política, intensificada com o tarifaço
Ninguém segura: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de balanços e dados de inflação, mas tarifaço segue no radar
Enquanto Brasil trabalha em plano de contingência para o tarifaço, trégua entre EUA e China se aproxima do fim
O que Donald Trump e o tarifaço nos ensinam sobre negociação com pessoas difíceis?
Somos todos negociadores. Você negocia com seu filho, com seu chefe, com o vendedor ambulante. A diferença é que alguns negociam sem preparo, enquanto outros usam estratégias.
Efeito Trumpoleta: Ibovespa repercute balanços em dia de agenda fraca; resultado da Petrobras (PETR4) é destaque
Investidores reagem a balanços enquanto monitoram possível reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin
Ainda dá tempo de investir na Eletrobras (ELET3)? A resposta é sim — mas não demore muito
Pelo histórico mais curto (como empresa privada) e um dividendo até pouco tempo escasso, a Eletrobras ainda negocia com um múltiplo de cinco vezes, mas o potencial de crescimento é significativo
De olho no fluxo: Ibovespa reage a balanços em dia de alívio momentâneo com a guerra comercial e expectativa com Petrobras
Ibovespa vem de três altas seguidas; decisão brasileira de não retaliar os EUA desfaz parte da tensão no mercado
Rodolfo Amstalden: Como lucrar com o pegapacapá entre Hume e Descartes?
A ocasião faz o ladrão, e também faz o filósofo. Há momentos convidativos para adotarmos uma ou outra visão de mundo e de mercado.
Complicar para depois descomplicar: Ibovespa repercute balanços e início do tarifaço enquanto monitora Brasília
Ibovespa vem de duas leves altas consecutivas; balança comercial de julho é destaque entre indicadores
Anjos e demônios na bolsa: Ibovespa reage a balanços, ata do Copom e possível impacto de prisão de Bolsonaro sobre tarifaço de Trump
Investidores estão em compasso de espera quanto à reação da Trump à prisão domiciliar de Bolsonaro
O Brasil entre o impulso de confrontar e a necessidade de negociar com Trump
Guerra comercial com os EUA se mistura com cenário pré-eleitoral no Brasil e não deixa espaço para o tédio até a disputa pelo Planalto no ano que vem
Felipe Miranda: Em busca do heroísmo genuíno
O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira
No pain, no gain: Ibovespa e outras bolsas buscam recompensa depois do sacrifício do último pregão
Ibovespa tenta acompanhar bolsas internacionais às vésperas da entra em vigor do tarifaço de Trump contra o Brasil
Gen Z stare e o silêncio que diz (muito) mais do que parece
Fomos treinados a reconhecer atenção por gestos claros: acenos, olho no olho, perguntas bem colocadas. Essa era a gramática da interação no trabalho. Mas e se os GenZs estiverem escrevendo com outra sintaxe?
Sem trégua: Tarifaço de Trump desata maré vermelha nos mercados internacionais; Ibovespa também repercute Vale
Donald Trump assinou na noite de ontem decreto com novas tarifas para mais de 90 países que fazem comércio com os EUA; sobretaxa de 50% ao Brasil ficou para a semana que vem
A ação que caiu com as tarifas de Trump mas, diferente de Embraer (EMBR3), ainda não voltou — e segue barata
Essas ações ainda estão bem abaixo dos níveis de 8 de julho, véspera do anúncio da taxação ao Brasil — o que para mim é uma oportunidade, já que negociam por apenas 4 vezes o Ebitda
O amarelo, o laranja e o café: Ibovespa reage a tarifaço aguado e à temporada de balanços enquanto aguarda Vale
Rescaldo da guerra comercial e da Super Quarta competem com repercussão de balanços no Brasil e nos EUA