O que um passeio da minha mulher no shopping me diz sobre o potencial de alta das ações das varejistas
Boas decisões investimentos dependem mais de suas experiências cotidianas e menos de modelos de excel do que pode parecer à primeira vista.

Pelo menos uma vez por mês o interrogatório abaixo se repete:
R: Onde você estava?
P: Fui ao shopping porque as meninas queriam tomar um café depois do trabalho.
R: Posso saber em qual shopping você foi? Quais lojas você visitou?
Antes que você entenda errado, é bom esclarecer que a conversa acima não retrata uma cena de ciúmes lá em casa.
Mas, primeiro, permita que eu me apresente. Meu nome é Ruy Hungria (o “R” do diálogo), sou formado em Física pela USP e responsável pelas séries focadas em Opções na Empiricus.
A Paloma (“P”) é a minha companheira de alegrias e tristezas, apaixonada por moda (e por mim também, claro).
Continuando o diálogo:
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- R: Eu posso saber quais lojas você visitou?
- P: Ah, dei uma passada na Renner, na Riachuelo, na Zara...
- R: E na C&A?
- P: Também... mas bem rapidinho.
- R: E aí, alguma novidade?
- P: Está melhorando, mas ainda não está “aquelas coisas”.
O meu interesse específico na evolução da C&A é por causa do seu IPO (oferta pública inicial de ações) recente, no qual ela prometeu implementar mudanças estratégicas, melhorar a eficiência e recuperar o terreno perdido para as maiores rivais. Mas isso é assunto para daqui a pouco.
Agora tudo faz sentido
Como você já deve ter percebido, o interrogatório acima não é fruto de uma crise de ciúmes deste que te escreve. Na verdade, a Paloma é a minha fonte mais confiável na hora de avaliar se as varejistas de vestuário listadas em Bolsa estão conseguindo acompanhar as tendências de moda, se os preços estão condizentes com o público consumidor e, principalmente, se a qualidade das peças realmente faz jus ao valor que as lojas estão cobrando por elas.
Aliás, foi em um desses interrogatórios que entendi um dos motivos de os números das Lojas Marisa terem piorado tanto após 2013.
Depois de observar uma sequência de resultados horrorosos da companhia e a consequente queda vertiginosa das suas ações, foi a Paloma quem me deu uma luz:
- R: Você gosta da Marisa?
- P: As roupas eram legais, mas a qualidade caiu muito nos últimos anos. Na última vez que fui encontrei até roupa furada nas araras. Depois disso, nunca mais voltei.
Após esse relato ficou muito mais fácil entender o gráfico abaixo:

É a evolução do valor das ações da Marisa (AMAR3) de 2013 a 2017 (Fonte: Bloomberg)
É verdade que as ações têm se recuperado recentemente. No entanto, nesse mesmo período em que AMAR3 se desvalorizou 40%, as ações da Guararapes (GUAR3), dona das lojas Riachuelo, subiram 233% e as das Lojas Renner (LREN3) mais de 550%.
O que os números não dizem
Eu gosto de usar esse exemplo da Marisa porque muita gente que analisa empresas acredita que a resposta de tudo pode ser encontrada na demonstração de resultados de uma companhia. Infelizmente, aqueles números não conseguem nos dizer muito mais do que “vendeu menos”, “as margens caíram”, “o lucro virou poeira”...
“Por que vendeu menos?”. Essa é a pergunta importante, e não é no anúncio de resultados da companhia que você encontrará a resposta. Pelo menos, não uma que seja totalmente honesta e sincera.
Será que a queda na receita foi um mero erro de precificação dos produtos – algo que pode ser resolvido sem grandes problemas na próxima coleção e colocar as vendas futuras nos trilhos novamente?
Ou, será que foi por causa de uma grande queda na qualidade das peças, que acabou afetando a confiança na marca, afastou clientes fiéis e tem o potencial de continuar impactando as vendas por mais alguns trimestres futuros?
As duas situações afetam as vendas e o lucro em um determinado trimestre. Mas uma tem impactos muito mais profundos do que a outra no longo prazo.
Abuse e Use? Talvez, mas não invista
Um outro exemplo mais recente foi o IPO da C&A aqui no Brasil. Por isso o meu interesse na companhia.
IPO é o processo na qual uma companhia abre o seu capital e permite que pessoas comuns comprem as suas ações.
A sugestão dada aos assinantes da Empiricus foi para que não participassem do processo e comprassem as ações da Guararapes (dona da Riachuelo) ao invés das da C&A.
Apesar do desconto para as rivais, as métricas operacionais e financeiras da companhia estavam bem piores do que as das maiores concorrentes e ela ainda estava perdendo participação de mercado.

Para sacramentar a decisão, adivinha quem me ajudou mais uma vez:
“Eu adorava comprar na C&A muito tempo atrás. Mas a Renner e a Riachuelo ficaram muito melhores em termos de moda e custo vs benefício.”
Pode ser que o turnaround prometido pela C&A na oferta renda frutos polpudos em um futuro próximo. Mas desde o IPO até agora, o que vimos foi um banho de rentabilidade das ações da concorrência.

Enquanto isso, a ação da C&A (CEAB3) ficou paradinha, GUAR3 se valorizou 50% desde então.
Se tivéssemos nos prendido apenas ao que as planilhas de valuation (avaliação do valor das empresas) nos diziam, provavelmente teríamos sugerido a compra da “ação mais descontada dentre as três maiores do setor” naquele momento. Por sorte, e um pouco de senso crítico, não foi o caso.
Eu não quero que você entenda que a análise financeira é dispensável para decidir se um investimento realmente vale realmente a pena. Não é isso!
O que eu quero é mostrar que boas decisões investimentos dependem mais de suas experiências cotidianas e menos de modelos de excel do que pode parecer à primeira vista.
Focar somente nos aspectos financeiros e dar as costas para o que os clientes pensam sobre os produtos e serviços de uma companhia é jogar fora uma das informações mais valiosas sobre o potencial futuro de vendas da empresa.
E se você está se perguntando se ainda gostamos de Guararapes, a resposta é “sim”. Aliás, ela é uma das preferidas do Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus, em sua série Oportunidades de Uma Vida.
Mas essa não é a única grande oportunidade no varejo de moda brasileiro. Uma velha conhecida do setor tem passado por uma transformação na gestão que tende a gerar frutos polpudos nos próximos trimestres. E a melhor parte é que ela ainda paga ótimos dividendos, do jeitinho que a série Vacas Leiteiras gosta.
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Seria capaz de apostar que seu assessor de investimentos não ligou para oferecer uma carteira de small caps brasileiras neste momento. Há algo mais fora de moda do que elas agora? Olho para algumas dessas ações e tenho a impressão de estar diante de “Pomar com ciprestes”, em 1888.
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