Trump tem medo da moeda dos Brics? Por que as ameaças do presidente dos EUA podem surtir efeito oposto ao desejado
Trump repete ameaça de impor sobretaxa de 100% aos países que compõem o Brics se eles insistirem em moeda alternativa ao dólar, mas acaba revelando fraqueza

Era noite de quinta-feira (30) em Washington e Donald Trump tinha acabado de confirmar a imposição de sobretaxas ao petróleo do Canadá e do México pelos Estados Unidos. O presidente norte-americano aproveitou então para dar uma esticada de pernas e mexer nas redes sociais.
Ao invés de relaxar e se distrair, no entanto, Trump resolveu publicar em sua conta na Truth Social, rede social da qual é dono e que, aparentemente, só ele usa. A bazuca tarifária de Trump então migrou de alvo e foi apontada para os países que integram o Brics.
“A ideia de que os países do Brics vão se afastar do dólar enquanto olhamos de braços cruzados acabou”, escreveu o presidente norte-americano.
Depois, no melhor estilo copia e cola, Trump repetiu a ameaça feita no fim de novembro do ano passado.
“Nós vamos exigir um compromisso desses países aparentemente hostis de que eles não vão criar uma nova moeda dos Brics nem apoiar nenhuma outra moeda que possa substituir o poderoso dólar. Caso contrário, eles vão enfrentar tarifas de 100%”, escreveu.
Freud explica?
Há quem veja Trump como um valentão convicto — ou patológico para os desafetos.
Leia Também
O fato é que a psicologia dispõe de incontáveis estudos que buscam decifrar o comportamento dos valentões.
Existe até divergência quanto a se o praticante do bullying seria vilão ou vítima.
O consenso, porém, é que quem se dedica de maneira permanente à intimidação e à provocação revela (inconscientemente, claro) insegurança e medo.
A questão então é: Trump tem medo de que em relação ao dólar?
Apesar do crescente uso do euro e do renminbi nas transações internacionais, o dólar é, de longe, a moeda mais usada do mundo.
A moeda norte-americana representa mais da metade de todas as alocações em reservas internacionais do mundo, segundo os cálculos mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI), referentes ao fechamento do terceiro trimestre de 2024.
Além de compor o grosso das reservas internacionais, o dólar é usado como referência para o comércio exterior.
São raros os casos nos quais as importações e exportações são feitas sem passar pelo dólar.
A primazia do dólar proporciona uma série de vantagens para os Estados Unidos.
Entre outras coisas, ela permite que o governo norte-americano tome dinheiro emprestado a custos relativamente baixos e imprima dinheiro a rodo sem que a inflação interna dispare.
Além disso, proporciona imenso poder geopolítico a Washington.
O medo de Donald Trump é justamente que os países passem a buscar alternativas ao dólar nas trocas bilaterais.
Em larga escala, isso tenderia a enfraquecer o dólar e alimentar o dragão da inflação.
A chance de que isso aconteça, no entanto, é baixa — ao menos no curto prazo.
O crescimento do Brics
O acrônimo Bric data de 2001, quando Jim O’Neill, então economista-chefe do banco Goldman Sachs, publicou um relatório sobre o potencial de crescimento de Brasil, Rússia, Índia e China.
Menos de uma década depois, em 2009, as potências emergentes uniram-se em um bloco informal.
No ano seguinte, graças à adesão da África do Sul, o bloco passou a se chamar Brics (o “s” se deve ao nome do país em inglês).
Em meio a novas ampliações a partir de 2023, o grupo passou a abrigar também o Egito, a Etiópia, os Emirados Árabes Unidos, a Indonésia e o Irã — felizmente sem mudar a sigla.
Diante dessa expansão, o Brics abrange atualmente 40% da população mundial e responde por 37% do PIB global, bem como por 26% do comércio.
Uma pedra no sapato de Donald Trump
O que incomoda Trump é que, nos últimos anos, os países do bloco passaram a estudar meios de contornar o dólar em suas transações comerciais e colocaram em pauta a possível criação de uma unidade monetária comum.
Embora o Brics pareça disposto a desafiar a ordem global dominada pelos EUA, o efeito mais imediato de uma eventual moeda não seria geopolítico, mas econômico. Isso porque os custos das importações e exportações dentro do bloco diminuiriam.
Simultaneamente, um estudo recente do FMI nota que o fortalecimento do dólar nos últimos anos vem mascarando uma queda lenta, mas constante, da presença da moeda norte-americana nas reservas internacionais.
Há 20 anos, o dólar representava mais de 70% das reservas mundiais. Em 2024, a participação era inferior a 60%.
Daí a dizer que uma eventual moeda do Brics ameaçaria o dólar, como Trump transparece temer, vai um longo caminho.
As transações de commodities como o petróleo, o ouro e o minério de ferro ocorrem em dólar e nada sugere que isso vá mudar em um horizonte previsível.
“Economicamente, não é um problema importante porque a ideia de os países do Brics serem capazes de estruturar uma moeda de reserva alternativa ao dólar americano não é plausível no curto ou no médio prazo", disse Mark Weinstock, especialista em comércio global e professor de economia na Pace University, em entrevista à CBS.
Ao tentar demonstrar força, Trump transparece fraqueza
Donald Trump acha que está sendo feito de bobo pelo Brics.
“Eles que procurem outra nação otária”, escreveu ele na Truth.
A questão é que, ao tentar demonstrar força, Trump transparece fraqueza diante de um risco de longo prazo.
No X (antigo Twitter), Brad Setser, integrante do Conselho de Relações Exteriores e ex-economista do Departamento do Tesouro dos EUA, escreveu que a postura de Trump não passa uma boa impressão.
De acordo com ele, a ameaça de Trump pode realmente acelerar um afastamento do dólar por parte de outros países.
"Faz parecer que o uso do dólar é um favor aos Estados Unidos", disse ele.
Simultaneamente, à medida que os Estados Unidos sob Donald Trump sinalizam um fechamento para o mundo, eles acabam estimulando a ascensão de outros países, avalia o cientista político Alexandre Uehara, da ESPM.
“Ao invés de colocar a América em primeiro lugar, ele está deixando a América sozinha”, disse Uehara ao Seu Dinheiro, em alusão ao slogan de campanha de Trump.
Lula promete reagir
Qualquer que seja o comportamento de Trump em relação ao Brics, os países do bloco se preparam para responder na mesma moeda. É a famosa reciprocidade, tão comum nos meios diplomáticos.
Ontem, em entrevista coletiva em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que seguirá nessa linha no que se refere ao Brasil.
"Se ele [Trump] taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade no Brasil em taxar os produtos que são importados dos EUA", afirmou Lula.
"Ele só tem que respeitar a soberania dos outros países. Ele foi eleito para governar EUA. Outros presidentes eleitos para governar com outros países", disse o brasileiro.
Essa cidade votou em peso em Donald Trump em 2024 — e agora é uma das que mais sofrem com o ‘shutdown’
Shutdown expõe contradições em cidade que depende de empregos federais — e que ajudou a eleger Trump em 2024
A guerra em Gaza acabou, diz Trump. Entenda o que está por trás da negociação que pôs fim ao conflito de dois anos
Após dois anos de conflito, Trump sela cessar-fogo entre Israel e Hamas e tenta consolidar legado diplomático no Oriente Médio
Argentina sai na frente do Brasil e anuncia projeto de data centers com a OpenAI, dona do ChatGPT
Projeto da OpenAI em parceria com a argentina Sur Energy prevê investimentos de até US$ 25 bilhões na região da Patagônia
China reage à ameaça de tarifa de 100% de Trump: “Não queremos uma guerra tarifária, mas não temos medo de uma”
A troca de acusações ameaça atrapalhar um possível encontro entre Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping e acabar com a trégua de uma guerra comercial
Lula tem encontro marcado com o papa Leão 14 nesta segunda-feira (13)
Esta será a quarta vez que Lula se encontra com um papa desde o início de sua trajetória política
Trump anuncia nova tarifa de 100% sobre importações da China, por postura ‘hostil’ e ‘sem precedentes do país asiático
Ameaças de tarifas e críticas à China feitas por Trump na tarde desta sexta já haviam azedado os mercados em Wall Street
Ministro brasileiro conversa com Marco Rubio e diz que delegação vai aos EUA negociar tarifaço
Presidente Lula afirma que a conversa entre os dois inicia uma nova fase da relação comercial do Brasil com o país norte-americano
Como era o avião da Embraer (EMBR3) que Putin admite ter abatido no Cazaquistão
Entenda o modelo de avião da Embraer (EMBR3) abatido pela Rússia no Cazaquistão, que deixou 38 mortos e gerou repercussão internacional
Enfim, o cessar-fogo: Hamas declara fim da guerra com Israel sob garantias internacionais
Em um discurso nesta quinta-feira (9), o chefe do Hamas afirmou que o grupo chegou a um acordo que visa a encerrar a guerra
EUA: Fed diz que riscos para emprego justificam corte de juros, mas cautela com inflação continua a afetar opinião dos diretores
Taxa de desemprego nos EUA atingiu o maior patamar em quase quatro anos, enquanto a inflação se afasta da meta de 2%
Quem são os brasileiros que chegaram mais perto do Prêmio Nobel até hoje
Brasil segue sem um Nobel oficial, mas já teve um filho de estrangeiros nascido no Rio, um físico injustiçado e a primeira vencedora do “Nobel da Agricultura”
Suprema Corte dos EUA mantém Lisa Cook no Fed até julgamento no início do ano que vem
Audiência só ocorrerá em janeiro de 2026; até lá, a diretora indicada por Biden permanece no cargo em meio à disputa com Donald Trump
Taylor Swift faz história com mais de 100 milhões de álbuns vendidos — e “The Life of a Showgirl” promete ampliar recorde
Primeira mulher a ultrapassar 100 milhões de álbuns certificados nos EUA, Taylor Swift lança nesta sexta “The Life of a Showgirl”, já recordista em pré-saves
Shutdown nos EUA: governo é paralisado pela 1ª vez desde 2019 e divulgação de dados é adiada; o que acontece agora?
Divulgação dos dados do payroll, previstas para a sexta, foi adiada para o fim do shutdown, quando o Congresso deverá entrar em acordo sobre o Orçamento
Apostador sortudo encontra bilhete esquecido e ganha quase R$ 100 milhões na loteria (e teria perdido tudo se fosse no Brasil)
Ele havia esquecido o bilhete premiado de loteria no fundo de um casaco e só o encontrou seis meses depois, por causa de uma onda de frio
Banheiro de US$ 1 milhão em Los Angeles provoca polêmica nos EUA
Moradores acusam a prefeitura de gastar demais em uma obra simples, enquanto a cidade corta orçamento de bombeiros e ainda depende de banheiros químicos em parques
O caminho ao Canadá: vistos, cidadania, desafios e estratégias para brasileiros
Especialistas detalham o caminho, os custos e as estratégias para brasileiros que planejam imigrar para o Canadá em meio a novas regras e um cenário mais competitivo
“Você está demitido”: Trump volta a colocar Powell sob a sua mira
Recentemente, uma decisão da Suprema Corte indicou que o presidente dos EUA não tem autoridade para destituir autoridades do Fed à vontade
Copa do Mundo 2026: anfitriões fogem do costume e anunciam três mascotes — mas não é a primeira vez que isso acontece
Copa do Mundo 2026 surpreende com três mascotes oficiais, representando Canadá, Estados Unidos e México. Mas, embora seja raro, essa não é a primeira vez que o torneio tem mais de um personagem símbolo
Argentina recua no desmonte do ‘cepo cambial’ e volta a impor restrição à compra de dólar
O controle argentino é um conjunto de controles às negociações do dólar que historicamente manteve a moeda americana em nível artificial