🔴 AÇÕES PARA INVESTIR EM JULHO: CONFIRA CARTEIRA COM 10 RECOMENDAÇÕES – ACESSE GRATUITAMENTE

Felipe Miranda: O último trem do sertão (ou do bull market)

Seja lá qual for a razão, os mercados atropelaram a notícia ruim do IOF, mostrando que há forças maiores em curso em favor do kit Brasil. Talvez essa seja a última parada do trem antes do verdadeiro bull market.

26 de maio de 2025
20:00 - atualizado às 18:28
otimismo mercado de ações touro bull market
Imagem: iStock.com/ChakisAtelier

"Ói, ói o céu 
Já não é o mesmo céu que você conheceu
Não é mais
Vê, ói que céu
É um céu carregado, rajado, suspenso no ar
Vê é o sinal
é o sinal das trombetas dos anjos e dos guardiões”
O trem das sete – Raul Seixas

Quando me mostraram aquele monte de brasileiro indo viajar, imaginei: devem estar indo para Ubatuba, tamanha a aglomeração. Estava enganado, por uma pequena margem. O pessoal ia para Omaha, à conferência da Berkshire Hathaway. Eu, acostumado ao trânsito da Oswaldo Cruz, preferiria ir a Budapeste.

Claro que prefiro a Europa como farol cultural e intelectual, mas as razões são outras. Embora admire, respeite e procure emular os conceitos do value investing clássico de Benjamin Graham e Warren Buffett, sempre achei George Soros mais profundo. Talvez seja até um tanto óbvio: Soros é filósofo, Buffett é um praticante.

As razões importam pouco. Fato é que a ideia de um valor intrínseco (indissociável, inapartável, alheio ao mundo exterior) sempre me pareceu uma simplificação excessiva (e comprometedora) da realidade.

As ciências sociais e seus objetos de estudo sofrem de recursividade. A interferência do observador gera efeitos significativos sobre a realidade. O papel das expectativas na Economia é documentado já há bastante tempo, inclusive anterior ao “Investidor Inteligente”, de Graham. Os “espíritos animais”, despertados a partir das expectativas, estavam bem retratados na Teoria Geral, de Keynes, sendo determinantes para o funcionamento da economia.

Soros avançou talvez como ninguém sobre o tema, em sua teoria da reflexividade. A realidade influencia sobre as expectativas, que, por sua vez, impactam a realidade. O processo dialético continua. Assim, o valor seria extrínseco (depende de variáveis alheias às características internas e particulares àquele ativo). Até Aswath Damodaran afirma que mesmo os valuations mais criteriosos dependem de uma narrativa, de uma história sobre o ativo em análise. 

Leia Também

Os preços de mercado, muitas vezes, nos contam coisas sobre a realidade. O comportamento das ações brasileiras na sexta-feira é um exemplo de livro-texto do fenômeno.

Uma máquina de crises

Ao observar a valorização de nossas carteiras no último pregão, me lembrei do episódio de Romeu Zema no podcast Market Makers.

Em resposta à confiança do governador de Minas Gerais na eleição de um candidato de direita para Presidente em 2026, o apresentador Thiago Salomão apresenta uma réplica, algo como: olha, mas será que o governo não poderia abrir a caixa de ferramentas e tentar uma série de medidas populistas para se reeleger? Zema rebate com uma argumentação na seguinte linha: pode. Mas também pode aparecer uma série de novos escândalos ou novas crises, o que afetaria ainda mais sua popularidade.

Desde então, tomamos ciência da falcatrua no INSS e convivemos com a trapizonga do IOF – negligencio a trapalhada do Janjismo com Xi Jinping pois essa já não faz mais preço, dada a frequência de pérolas da mais recente agraciada com a classe grã-cruz da Ordem do Mérito Cultural; tenho convicção de que, algum dia, descobriremos o que ela fez para merecer a tal medalha.

Usamos um imposto regulatório (extrafiscal, não arrecadatório; por isso, passível de implementação por decreto) para cobrir um rombo nas contas públicas. Desafiamos as melhores práticas internacionais e nos afastamos do compromisso firmado com a OCDE de caminhar rumo à extinção do IOF, um imposto que aumenta o custo do crédito e das operações cambiais, reduzindo a já castigada produtividade brasileira (lembra da CPMF?).

Flertamos com controle da conta de capitais, para rapidamente voltar atrás na medida – ainda bem que retrocedemos, mas o recuo não retira a impressão de despreparo e amadorismo, tampouco deixa de sinalizar a direção do pensamento dos atuais formuladores de política econômica. Impusemos um imposto alto sobre aplicações grandes em VGBL, em novo empecilho à poupança de longo prazo. 

Tudo isso apagou os efeitos positivos do freio na despesa de R$ 31 bilhões, acima do projetado pelo mercado (de R$ 10 bilhões), e da maior credibilidade da nova peça orçamentária, pois a anterior inchava receitas e comprimia despesas exageradamente. Gustavo Franco resumiu de forma simples e direta em sua coluna no Estadão: “o pacto desta semana foi bem ruinzinho”.

Apesar de tudo isso, as ações brasileiras, na média, tiveram um dia de alta na sexta-feira, mesmo diante de maior aversão a risco no exterior, causada pelo medo das tarifas de Trump sobre a União Europeia. Eis o recado do mercado: “assim serão os nossos dias ruins!”

Há explicações técnicas possíveis para a alta. Recorrendo ao mesmo Gustavo Franco, ele afirma: “Uma vez estabelecida a indisposição de o governo diminuir o tamanho do gasto, o ministro Haddad procurou oferecer ao país a política fiscal menos irresponsável possível, consideradas as circunstâncias.” A seu modo, circunscrito à direção inexorável dada pelo chefe, o Ministério da Fazenda tenta impedir algum tipo de ruptura. Assim, temos uma garantia (ou, ao menos, algo perto disso) de que o país não explode até 2026, quando então teremos uma rediscussão profunda sobre a rota.

Isso, inclusive, alimenta uma segunda questão relevante: com essa máquina de crises, será difícil a reeleição. “O que anima os mercados, mas ainda de forma tímida, é justamente a percepção de que a mudança vai ficando mais nítida. (…) Graças à preservação da democracia, vamos ter alternância”, arremata Gustavo Franco. Se você tem dúvidas sobre a capacidade da mudança do ciclo de economia política de guiar os mercados, recupere a inflexão entre os períodos de Dilma Rousseff e Michel Temer – entre 2016 e 2019, o Ibovespa se multiplicou por 3x.

Veja: não é um problema de comunicação apenas. O governo lê mal a situação. Erra no diagnóstico e, portanto, prescreve uma receita desalinhada à necessidade do paciente. A sociedade não tolera mais aumento de impostos.

O próprio ministro se comprometera a não elevar a carga tributária. Além disso, a economia cresce acima do potencial. Em vez de fechar um pouco a torneira dos gastos fiscais, o governo anuncia novos subsídios (vale gás, nova tarifa de energia, ampliação do Minha Casa, Minha Vida, etc).

Segue estimulando a demanda agregada, para uma oferta que cresce mais devagar. As consequências são óbvias: se a demanda aumenta e a oferta está parada, teremos mais inflação e mais importação (ampliação do déficit em conta corrente). Como aumentar a popularidade do presidente assim?

A última parada antes do bull market

Outro erro de avaliação do governo: não identificar a amplitude dos impactos do novo IOF. Não se trata de pegar a Faria Lima ou o grande empresário.

Permita-me a rápida anedota: no sábado, levei meus filhos ao teatro, naquela tentativa do pai platônico de introduzir os filhos aos clássicos. Fomos ver “O Mágico de Oz”. Parada obrigatória para guloseimas antes. O pipoqueiro não perdoou: “Ow, chefe, me ajuda e compra mais alguma coisa além da pipoca. Com esse novo IOF, vai ficar mais puxado pra mim.” Agora, pipoqueiro tem maquininha da Stone e antecipa recebíveis apertando dois botões. A classe média ou média-baixa não sonha mais em ser funcionária da Caixa, mas em empreender num pequeno negócio.

O trem das sete horas, o último do sertão, de Raul Seixas, aquele em referência à morte, parece chegar para esse governo. O mercado vai dando peso crescente à ideia.

A esse elemento, se soma a ideia de fim definitivo das altas da Selic. O IOF mais alto encarece o crédito e, na prática, representa uma deterioração das condições financeiras, um aperto monetário adicional. Os últimos moicanos esperando uma elevação adicional do juro básico revisam suas projeções. Aumenta a probabilidade de corte da Selic ainda neste ano.

Seja lá qual for a razão, os mercados atropelaram a notícia ruim do IOF, mostrando que há forças maiores em curso em favor do kit Brasil. Sinal bom em prol do “buy the dip” (compre na fraqueza). Há muita gente ainda sem exposição louquinha para comprar, sob o medo de ficar de fora. Talvez essa seja a última parada do trem antes do verdadeiro bull market.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Sem avalanche: Ibovespa repercute varejo e Galípolo depois de ceder à verborragia de Trump

8 de julho de 2025 - 8:11

Investidores seguem atentos a Donald Trump em meio às incertezas relacionadas à guerra comercial

Insights Assimétricos

Comércio global no escuro: o novo capítulo da novela tarifária de Trump

8 de julho de 2025 - 6:07

Estamos novamente às portas de mais um capítulo imprevisível da diplomacia de Trump, marcada por ameaças de última hora e recuos

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Troco um Van Gogh por uma small cap

7 de julho de 2025 - 20:00

Seria capaz de apostar que seu assessor de investimentos não ligou para oferecer uma carteira de small caps brasileiras neste momento. Há algo mais fora de moda do que elas agora? Olho para algumas dessas ações e tenho a impressão de estar diante de “Pomar com ciprestes”, em 1888.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Ontem, hoje, amanhã: Tensão com fim da trégua comercial dificulta busca por novos recordes no Ibovespa

7 de julho de 2025 - 8:14

Apetite por risco é desafiado pela aproximação do fim da trégua de Donald Trump em sua guerra comercial contra o mundo

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Talvez fique repetitivo: Ibovespa mira novos recordes, mas feriado nos EUA drena liquidez dos mercados

4 de julho de 2025 - 8:26

O Ibovespa superou ontem, pela primeira vez na história, a marca dos 141 pontos; dólar está no nível mais baixo em pouco mais de um ano

SEXTOU COM O RUY

A história não se repete, mas rima: a estratégia que deu certo no passado e tem grandes chances de trazer bons retornos — de novo

4 de julho de 2025 - 7:08

Mesmo com um endividamento controlado, a empresa em questão voltou a “passar o chapéu”, o que para nós é um sinal claro de que ela está de olho em novas aquisições. E a julgar pelo seu histórico, podemos dizer que isso tende a ser bastante positivo para os acionistas.

SEU MENTOR DE INVESTIMENTOS

Ditados, superstições e preceitos da Rua

3 de julho de 2025 - 19:55

Aqueles que têm um modus operandi e se atêm a ele são vitoriosos. Por sua vez, os indecisos que ora obedecem a um critério, ora a outro, costumam ser alijados do mercado.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Feijão com arroz: Ibovespa busca recuperação em dia de payroll com Wall Street nas máximas

3 de julho de 2025 - 8:28

Wall Street fecha mais cedo hoje e nem abre amanhã, o que tende a drenar a liquidez nos mercados financeiros internacionais

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um estranho encontro com a verdade subterrânea

2 de julho de 2025 - 20:00

Em vez de entrar em disputas metodológicas na edição de hoje, proponho um outro tipo de exercício imaginativo, mais útil para fins didáticos

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Mantendo a tradição: Ibovespa tenta recuperar os 140 mil pontos em dia de produção industrial e dados sobre o mercado de trabalho nos EUA

2 de julho de 2025 - 8:29

Investidores também monitoram decisão do governo de recorrer ao STF para manter aumento do IOF

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Os fantasmas de Nelson Rodrigues: Ibovespa começa o semestre tentando sustentar posto de melhor investimento do ano

1 de julho de 2025 - 8:13

Melhor investimento do primeiro semestre, Ibovespa reage a trégua na guerra comercial, trade eleitoral e treta do IOF

Insights Assimétricos

Rumo a 2026 com a máquina enguiçada e o cofre furado

1 de julho de 2025 - 6:03

Com a aproximação do calendário eleitoral, cresce a percepção de que o pêndulo político está prestes a mudar de direção — e, com ele, toda a correlação de forças no país — o problema é o intervalo até lá

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: Mercado sobrevive a mais um susto… e as bolsas americanas batem nas máximas do ano

30 de junho de 2025 - 19:50

O “sangue frio” coletivo também é uma evidência de força dos mercados acionários em geral, que depois do cessar-fogo, atingiram novas máximas no ano e novas máximas históricas

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Tudo sob controle: Ibovespa precisa de uma leve alta para fechar junho no azul, mas não depende só de si

30 de junho de 2025 - 8:03

Ibovespa vem de três altas mensais consecutivas, mas as turbulências de junho colocam a sequência em risco

TRILHAS DE CARREIRA

Ser CLT virou ofensa? O que há por trás do medo da geração Z pela carteira assinada

29 de junho de 2025 - 7:59

De símbolo de estabilidade a motivo de piada nas redes sociais: o que esse movimento diz sobre o mundo do trabalho — e sobre a forma como estamos lidando com ele?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Atenção aos sinais: Bolsas internacionais sobem com notícia de acordo EUA-China; Ibovespa acompanha desemprego e PCE

27 de junho de 2025 - 8:09

Ibovespa tenta manter o bom momento enquanto governo busca meio de contornar derrubada do aumento do IOF

SEXTOU COM O RUY

Siga na bolsa mesmo com a Selic em 15%: os sinais dizem que chegou a hora de comprar ações

27 de junho de 2025 - 6:01

A elevação do juro no Brasil não significa que chegou a hora de abandonar a renda variável de vez e mergulhar na super renda fixa brasileira — e eu te explico os motivos

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA

26 de junho de 2025 - 8:20

Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Não existem níveis seguros para a oferta de segurança

25 de junho de 2025 - 19:58

Em tese, o forward guidance é tanto mais necessário quanto menos crível for a atitude da autoridade monetária. Se o seu cônjuge precisa prometer que vai voltar cedo toda vez que sai sozinho de casa, provavelmente há um ou mais motivos para isso.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

É melhor ter um plano: Ibovespa busca manter tom positivo em dia de agenda fraca e Powell no Senado dos EUA

25 de junho de 2025 - 8:11

Bolsas internacionais seguem no azul, ainda repercutindo a trégua na guerra entre Israel e o Irã

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar