Tony Volpon: Aprendendo a amar a bolha AI (e se preparando para a volta do Trump nos EUA)
Um assunto que tem gerado atenção dos mercados é a eleição norte-americana — e a situação não parece muito boa para o presidente Joe Biden

E a festa continua. Apesar de não ser mais o “Mag 7” como conjunto – a ação da Apple está fechando o mês no vermelho e a Google está sofrendo devido ao dano reputacional causado pelos excessos na programação politicamente correta do novo chatbot Gemini – os mercados tiveram mais um mês bom.
E isso em um mês em que o fluxo de dados mostrou a economia americana ainda muito forte – o Fed Now para o primeiro trimestre está rodando na casa dos 3% – junto com uma pausa (poucos acham que seria uma reversão) na tendência de desinflação.
Assim, boa parte do mercado migrou para junho na sua expectativa do início do ciclo de queda de juros por parte do Fed, elevando a taxa dos Treasuries de dez anos para o patamar de 4,25%.
Quem não desapontou foi a Nvidia. Seus resultados trimestrais superaram as já elevadas expectativas do mercado e a ação prontamente, elevando seu valor de mercado para perto de 2 trilhões de dólares.
- VOCÊ JÁ DOLARIZOU SEU PATRIMÔNIO? A Empiricus Research está liberando uma carteira gratuita com 10 ações americanas pra comprar agora. Clique aqui e acesse.
Nvidia e a bolha da inteligência artificial
Tudo isso já resultou em uma discussão de "estamos ou não vivendo uma bolha especulativa?", com óbvias comparações sendo feitas com a bolha da internet no final dos anos 90.
A meu ver estamos certamente vivendo uma bolha, mas uma bolha no bom sentido. Olhando a história econômica, toda a grande mudança de paradigma econômico/tecnológico tem sido acompanhada por processos de especulação extremos.
Leia Também
Felipe Miranda: Recuperação técnica?
Foi assim com o início das descobertas marítimas europeias no século 15, pela revolução industrial no século 19, a electrificação nos anos 20 do último século e a internet nos anos 90.
Talvez a melhor maneira de entender por que uma bolha não é somente uma expressão de ganância e irracionalidade, é de aplicar a teoria de opções reais para a valorização das empresas.
Em ambientes de rápidas inovações tecnológicas, não podemos somente fazer exercícios de valor olhando o resultado esperado e a taxa de desconto apropriada.
Devemos perceber que boa parte do valor reside na capacidade de aquela empresa abrir novas frentes de negócios e lucro: de ter a opção de abrir essas frentes.
E como no caso das opções financeiras, quanto maior a volatilidade tecnológica, maior o valor dessas opções reais.
Assim, muitos acham ridículo que a Nvidia tenha uma razão valor de mercado/vendas acima de 30, ou um P/L acima de 60. Mas pela sua posição tecnológica nesta nova era, talvez não seja tão ridículo assim; só o tempo dirá.
- Leia também: Tony Volpon: Os efeitos das divergências na economia dos EUA no desempenho dos mercados financeiros
O que esperar dos mercados e eleições dos EUA
Eu continuo tendo uma visão positiva dos mercados americanos.
Tenho certeza de que em breve veremos alguma correção mais dolorosa, e um cenário de “no landing” com o Fed nem entregando o já mais magro orçamento de cortes de juros, é um risco que não está bem precificado.
Isso dito, estamos vivendo uma bolha que eu acredito ainda está na sua fase inicial.
Outro assunto que tem gerado bastante atenção dos mercados é a eleição americana.
Estamos a muitos meses para a eleição presidencial de novembro nos EUA, mas a situação não parece muito boa para o presidente Joe Biden.
Vamos começar pelas pesquisas. Na média das pesquisas do site Real Clear Politics, Donald Trump lidera Biden por 2% – lembrando que Trump perdeu o voto total em 2016 e 2020, tendo resultados sempre melhores que as pesquisas.
Mas como sabemos o resultado do colégio eleitoral será decidido em alguns poucos estados, e aqui as pesquisas são bem piores: Trump supera Biden por margens de: 6,8% em Georgia, 4,7% em Arizona, e 4,2% em Michigan.
Somente em Pennsylvania que Biden lidera Trump por 1,4%. Então, não por acaso, os mercados de previsão estão operando a probabilidade de Trump ganhar em 44,2% versus 27,8% de Biden (Michelle Obama tem 9% de probabilidade em um cenário de desistência de Biden).
Tudo isso quando a economia americana está no melhor estado possível, e onde uma recente pesquisa mostra 67% do eleitorado achando que Biden está muito velho para continuar presidente, contra 41% para Trump.
Lógico que Biden terá a vantagem da incumbência e ele terá muito mais dinheiro que Trump para gastar na campanha. Mas seria melhor se preparar para a volta de Trump.
- VEJA TAMBÉM: ONDE INVESTIR EM MARÇO 2024: AÇÕES, DIVIDENDOS, FIIS, BDRS E CRIPTOMOEDAS - MELHORES INVESTIMENTOS
Quais as prováveis consequências econômicas para os EUA?
Já anunciando o resultado: a eleição de Trump deve levar a um choque inflacionário nos EUA, o que pode ter efeitos negativos de segunda ordem para o Brasil.
Isso terá dois canais: uma alta – pelo menos inicial – das bolsas de valores, e uma política fiscal expansionista.
O governo Biden tem tomado iniciativas, especialmente no campo regulatório, que não são de agrado para muitos setores e empresas.
A FTC, por exemplo, que aplica as leis concorrenciais, sobre a liderança da Lina Khan tem se posicionado contra várias aquisições e fusões (a lista é longa: Microsoft comprando Activision Blizzard; Nvidia comprando ARM, etc.).
A SEC de Gary Gensler tem travado uma guerra incansável quando o setor de cripto, e recentemente sugeriu mais regulações para o mercado financeiro.
No setor energético, Biden recentemente embargou a construção de novos terminais para a exportação de gás natural.
Assim, é bastante provável que a promessa de desregulação em um novo governo Trump deve elevar a valorização de setores e empresas afetadas pelas políticas de Biden.
As consequências fiscais de um novo governo Trump
Outro canal – que também deve ter um resultado inicial positivo para o mercado acionário – será as consequências fiscais de um novo governo Trump.
Muitos analistas políticos esperam que, independentemente de quem ganhar a eleição presidencial, os Republicanos devem retomar o Senado (o Congresso pode mudar de mãos e voltar aos Democratas).
Lembramos que os EUA têm sua versão das “pedaladas fiscais”. Para não impactar as projeções de longo prazo do endividamento governamental, calculados pelo CBO (o equivalente ao nosso IFI), vários programas de despesa e cortes de tributos são aprovados de forma temporária.
Os grandes cortes de impostos aprovados pelo governo Trump em 2017 vão caducar no final de 2025. Se Trump ganhar, com um Senado Republicano, é bastante provável que esses cortes sejam renovados.
Com Biden, há dúvidas se ele tentará a renovação – sua administração tem continuamente defendido que qualquer ajuste fiscal deve ser baseado no aumento da arrecadação.
Como isso pode impactar o Brasil? Como em qualquer economia, choques fiscais acabam impactando a política monetária.
Assim, devemos ver um aumento da taxa de juros neutra, com o Fed praticando uma política mais restritiva, elevando o valor do dólar americano nos mercados globais, com as consequências usuais para mercados emergentes.
*Tony Volpon é economista e ex-diretor do Banco Central
Selic abaixo dos 15% no fim do ano: Inter vai na contramão do mercado e corta projeção para os juros — mas os motivos não são tão animadores assim
O banco cortou as estimativas para a Selic terminal para 14,75% ao ano, mas traçou projeções menos otimistas para outras variáveis macroeconômicas
Duas faces de uma mesma moeda: Ibovespa monitora Galípolo para manter recuperação em dia sem Trump
Mercados financeiros chegam à última sessão da semana mostrando algum alívio em relação à guerra comercial norte-americana
O jogo virou na bolsa? Por que Wall Street acelerou a alta e o Dow Jones subiu 350 pontos após as tarifas recíprocas de Trump
A política tarifária do republicano pode facilmente sair pela culatra se acelerar a inflação e reduzir o crescimento, mas o mercado viu as medidas desta quinta-feira (13) com outros olhos
Da ficção científica às IAs: Ibovespa busca recuperação depois de tropeçar na inflação ao consumidor norte-americano
Investidores monitoram ‘tarifas recíprocas’ de Trump, vendas no varejo brasileiro e inflação do produtor dos EUA
Tarifas recíprocas, inflação, juros e guerra: nada passa batido por Trump
Presidente norte-americano usa a mesma estratégia da primeira gestão e faz pressão em temas sensíveis à economia norte-americana e ao mundo
Tesouro Direto e títulos isentos de IR: Itaú BBA recomenda renda fixa para fevereiro, e retorno líquido chega a 8,50% a.a. + IPCA
Banco recomenda pós-fixados e indexados à inflação, mas vê oportunidade até mesmo em prefixados com prazos até três anos
Volatilidade em alta: inflação dos EUA derruba bitcoin (BTC), mas apenas por um instante; veja o que move o mercado cripto hoje
A inflação nos EUA cresceu mais que o esperado em janeiro, mas após um choque inicial no início do dia, grande parte do mercado conseguiu reverter as perdas e seguiu em alta
‘O barco vai balançar’: Galípolo prevê mercado mais agitado com fim do guidance do BC e indica inflação fora da meta
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, participou do primeiro evento desde a posse no cargo e comentou sobre a rota dos juros no Brasil
Brasil não vive crise como a de 2016, mas precisa largar o ‘vício em gasto público’ se quiser que os juros caiam, diz Mansueto Almeida, do BTG
Comentários do economista-chefe do banco foram feitos durante evento promovido pelo BTG Pactual na manhã desta quarta-feira em São Paulo
Daqui ninguém me tira? Powell desafia Trump e diz que vai continuar no comando do Fed
Em meio a uma relação tensa com o republicano, o presidente do BC dos EUA fala abertamente sobre a possibilidade de renunciar ao cargo antes do final do mandato
Bolsa ladeira abaixo, dólar morro acima: o estrago que o dado de inflação dos EUA provocou nos mercados
Os investidores ainda encararam o segundo dia de depoimentos do presidente do Fed, Jerome Powell, ao Congresso e uma declaração polêmica de Trump sobre os preços
Mais uma chance na vida: Ibovespa tenta manter bom momento em dia de inflação nos EUA e falas de Lula, Galípolo e Powell
Investidores também monitoram reação a tarifas de Trump sobre o aço e o alumínio; governo brasileiro mantém tom cauteloso
Juros nos EUA: o que Powell disse que fez o mercado adiar a aposta no corte das taxas neste ano
Presidente do Federal Reserve concede depoimento ao Senado nesta terça-feira (11) e reforçou uma mensagem que vem sendo repetida pelas autoridades de política monetária nas últimas semanas
Inflação desacelera a menor nível para janeiro desde o Plano Real, mas não vai impedir Galípolo de continuar subindo os juros
Inflação oficial desacelerou de +0,52% para +0,16% na passagem de dezembro para janeiro, mas segue fora da meta no acumulado em 12 meses
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Um rolezinho no shopping: Ibovespa reage a tarifas de Trump em semana de testemunhos de Powell e IPCA
Enquanto isso, banco BTG Pactual dá andamento à temporada de balanços com lucro recorde em 2024
Dólar nas mínimas do dia: o dado de emprego dos EUA que derrubou a moeda norte-americana aqui e lá fora
As bolsas tanto aqui como lá fora reagiram pouco ao payroll, que trouxe dados mistos sobre a saúde do mercado de trabalho norte-americano em janeiro; saibam como ficam os juros na maior economia do mundo após esses relatórios
O raio-x da Moody’s para quem investe em empresas brasileiras: quais devem sofrer o maior e o menor impacto dos juros altos
Aumento da Selic, inflação persistente e depreciação cambial devem pressionar a rentabilidade das companhias nacionais em diferentes graus, segundo a agência de classificação de risco
Um (dilema) Tostines na bolsa: Ibovespa reage a balanços e produção industrial em dia de aversão ao risco lá fora
Santander Brasil é o primeiro bancão a divulgar balanço do quarto trimestre de 2024; Itaú publica resultado depois do fechamento
Galípolo prepara a caneta: a meta de inflação já tem data para ser descumprida — e isso tende a tornar o Banco Central ainda mais rigoroso
Ata do Copom trouxe poucas novidades em relação ao comunicado, mas proporcionou vislumbres sobre o novo regime de metas de inflação.