Felipe Miranda: Periculum in mora — bolhas especulativas e manipulação de mercado
Enquanto celebramos o cenário de “goldlocks”, as manifestações explícitas de periculum in mora continuam em curso
Enquanto, com justiça, celebramos o cenário de “goldlocks" se formando na economia dos EUA e acolhemos a recuperação da credibilidade da política monetária brasileira, deixamos de lado questões da microestrutura de nosso mercado.
Poderíamos perder (ou ganhar, sei lá) várias linhas e colecionar tabelas indicando como, historicamente, a queda da taxa básica de juro nos EUA foi positiva para ativos de risco em situações de desaceleração da economia e sem recessão.
Também poderíamos — e confesso conter certo impulso nessa direção — elogiar a postura responsável e institucionalizada adotada por Gabriel Galípolo, cujas declarações recentes em linha com o livro-texto dissipam preocupações maiores com a perda da âncora monetária a partir da transição no Banco Central em 2025.
Desconfio que os interessados em coerência e justiça da narrativa deveriam fazê-lo. Sob a premissa autoimposta de que formuladores de política econômica são como goleiros e árbitros de futebol, que só devem ser elogiados depois do fim das partidas, deixaremos isso para outro momento.
Em reforço, com o Ibovespa flertando com a máxima histórica nominal e a Squadra encerrando seus shorts (ao menos, parte deles), o discurso otimista já embala o JN e os devocionais de cada manhã — entre o sagrado e o profano, influenciadores digitais publicam para seus milhões de seguidores o insuportável “eu avisei”.
A quem se pretende bom analista, interessa mais o não dito, as distorções ainda não percebidas, as oportunidades não descobertas, a necessidade de alertar para fenômenos capazes de gerar sérios prejuízos.
Leia Também
- CONFIRA: Altcoin ‘barata’ tem potencial de valorização no curto prazo; somada a uma lista exclusiva de moedas, chance é de lucros de até R$ 100 mil em 4 meses, diz especialista
As bolhas especulativas
Duas ideias curiosas sobre bolhas especulativas e manipulações de mercado me visitaram no final de semana. Falo de um caso totalmente hipotético, sem qualquer semelhança com a realidade em curso.
Se o leitor encontra qualquer paralelo com a vida real, é por criatividade própria ou alguma coincidência do acaso.
Um primeiro ponto sobre esse tipo de coisa é que, com o benefício da retrospectiva, as histórias são sempre esdrúxulas, meio sem pé nem cabeça, desprovidas de fundamento econômico e financeiro.
“Era óbvio que aquela supermultiplicação por 10x em curto intervalo de tempo não fazia nenhum sentido.”
A boa bolha, no entanto, é aquela que, enquanto infla, se escora numa narrativa crível. Verossímil não quer dizer verdadeiro, mas um pode facilmente se passar pelo outro.
Todos acham uma delícia o começo da formação da pirâmide. Alguns, inclusive, perseguem essas coisas, sempre com a ideia de que serão capazes de empurrar a batata quente para o próximo idiota de plantão.
São ambidestros, hábeis para comprar e vender muito rápido, apoiados num discurso pseudofundamentalista.
Então, uma empresa faz IPO e promete um crescimento estelar, envolta numa retórica alinhada a alguma megatrend da vez. “Somos ESG e vamos consolidar nosso mercado, capturando X% do adressable market.”
Aí, o sujeito adota mesmo boas diretrizes de ESG (ou algumas delas) e as propagandeia com eficiência.
Compra meia dúzia de empresas, vende ativos non core e diz ter atingido um novo patamar sustentável de receita. Paga bons branded contents nos sites especializados de maior renome. Está tudo pronto.
Agora, precisamos apenas de um programa de recompra, talvez do controlador ou do CEO comprando junto, mais um ou outro grande investidor. Secamos o float e, ao menos por um tempo, levamos a ação para onde quisermos.
Os leilões de fechamento são um capítulo à parte. Passam a ser particularmente informativos, quando lotes equivalentes a 50% de todo o volume negociado no dia são colocados na pedra, muitas vezes bem acima do último tick.
O preço do leilão passa alguns pontos percentuais superior às últimas negociações e, para tornar o escândalo ainda mais caricato, poucos minutos depois, quando começa o after market, os mesmos compradores do leilão se desfazem de parte do excesso recém-adquirido, às vezes bem abaixo de seu preço de compra.
Não importa tanto ter perdido dinheiro no trade, desde que o preço de fechamento oficial, aquele que fica registrado na B3 e nas cotas do fundo, lhe seja favorável.
Financistas são seres platônicos
Outro ponto: financistas são seres platônicos. Como, depois do estouro da bolha, as coisas, em termos de preço das ações e realidade operacional da respectiva companhia, tendem a voltar ao normal, parece que o fenômeno nunca existiu.
A bolha é tratada como anomalia passageira, algo temporário e sem grandes efeitos. A questão aqui é que a trajetória importa. Até podemos sair do ponto A e voltar para o mesmo ponto A, mas o que aconteceu no meio do caminho?
Diante daquela narrativa construtiva de uma supermultiplicação e, não raro, orquestração (irregular, diga-se) de movimentos de short squeeze, milhares de investidores são atraídos para o caso.
Num ambiente de assimetria de informação, destinam parte de suas economias ou até mesmo se alavancam para fazer parte da suposta festa, que, quando termina, deixa cicatrizes profundas.
O mesmo sujeito que adora uma pirâmide no comecinho é aquele que vai quebrar meses depois. Não é uma anedota para desafiar a hipótese de mercados eficientes. Isso não é um debate teórico entre Richard Thaler e Eugene Fama.
Em bolhas especulativas do passado, foram dezenas de milhares de famílias machucadas.
- Onde investir neste mês? Veja GRATUITAMENTE as recomendações em ações, dividendos, fundos imobiliários e BDRs para agosto.
Fiscalização e punição
Por fim, temos a questão da fiscalização e punição. Por mais competentes, bem-intencionados e dedicados que sejam os servidores públicos (de fato, eles são), objetivamente há uma dificuldade grande em se dar o devido tratamento célere a manipulações de mercado, tanto na esfera administrativa quanto no âmbito criminal.
Mesmo em situações em que a BSM já identificou o problema e o repassou à CVM, o crime pode continuar acontecendo por muito tempo — ainda que, lá na frente, venha a acontecer uma condenação, as tais milhares de famílias já foram danificadas e incorreram em prejuízos por anos e anos.
Ainda que fosse possível ressarci-las, o duro período até seu ressarcimento muitas vezes jamais poderá ser recuperado.
O devido tratamento jurídico e cada etapa do processo legal devem ser respeitados, claro. Não é disso que se trata.
O ponto sensível aqui é que, em algumas situações, a manipulação já foi identificada e, num flagrante ato irregular continuado, ela vai sendo perpetuada. Há um crime em curso, em flagrante.
São manifestações explícitas de “periculum in mora”, em que a demora em se tomar alguma medida jurídica gera novos crimes e prejuízos financeiros e psicológicos aos afetados.
Todo mundo sabe o que acontece, em plena luz do dia, com trades já monitorados e identificados.
Enquanto isso na sala da injustiça, sabemos que eles continuarão acontecendo amanhã.
Vulcabras (VULC3): Santander corta preço-alvo da ação, mas expectativa de aumento nos dividendos mantém o interesse pela dona da Mizuno e Olympikus
Os analistas do banco destacam a busca por novos lançamentos e a falta de oportunidades para acelerar o crescimento por meio de aquisições
Petrobras (PETR4), Prio (PRIO3) ou Brava (BRAV3)? BTG Pactual elege principal escolha no setor de petróleo da bolsa
BTG Pactual avalia que apenas duas empresas do setor continuariam a se destacar em um cenário de petróleo depreciado – e escolheu a preferida entre elas
Sem acordo: funcionários da Boeing fazem primeira greve em 16 anos, e ações caem mais de 4% hoje
O acordo com o sindicato, que representa mais de 32 mil trabalhadores no noroeste dos Estados Unidos, foi desaprovado por 94,6% dos participantes
Camisa (de força) da amizade: projeto propõe comissão conjunta nos EUA para legislar setor cripto e colocar fim na disputa entre órgãos reguladores
A proposta colocaria fim na disputa entre a SEC, a CVM americana, e a CFTC, que organiza o mercado de commodities nos Estados Unidos
O tamanho que importa: Ibovespa acompanha prévia do PIB do Brasil, enquanto mercados internacionais elevam expectativas para corte de juros nos EUA
O IBC-Br será divulgado às 9h e pode surpreender investidores locais; lá fora, o CME Group registrou aumento nas chances de um alívio maior nas taxas de juros norte-americanas
A estratégia curiosa adotada por esta construtora proporcionou bons dividendos aos acionistas — e ainda tem muito mais por vir
Normalmente os dividendos estão relacionados aos lucros obtidos pela atividade principal de uma companhia, mas não foi isso que aconteceu nesse caso
O Ibovespa vai voltar a bater recordes em 2024? Na contramão, gestora com R$ 7 bi em ativos vê escalada da bolsa a 145 mil pontos e dólar a R$ 5,30
Ao Seu Dinheiro, os gestores Matheus Tarzia e Mario Schalch revelaram as perspectivas para a bolsa, juros e dólar — e os principais riscos para a economia brasileira
Alupar (ALUP11) vence novo leilão de transmissão no Peru com projeto de US$ 42,8 milhões
A instalação abrange Junín, no planalto central do país; investimentos da Alupar na América Latina somam US$ 732,6 milhões até 2029
Banco eleva preço-alvo para o Nubank — mas explica por que você não deveria se animar (tanto) com as ações
Apesar do aumento do target de US$ 12,80 para US$ 15, a nova cifra implica um potencial de valorização de apenas 5% em relação ao último fechamento
Mercado Livre: BofA acredita que as ações devem subir ainda mais neste ano e eleva aposta de ganhos com MELI
Em relatório publicado mais cedo, o banco estabeleceu um novo preço-alvo de US$ 2.500 para os papéis MELI negociados em NY
Petróleo em queda pressiona Petrobras (PETR4) na B3, mas este banco segue animado com as ações — e com os dividendos extraordinários
Goldman Sachs mantém recomendação de compra para as ações e ADRs da Petrobras, mas corta preço-alvo diante de perspectivas mais fracas para o petróleo
Vale (VALE3) está em negociações avançadas em proposta de compensação por tragédia em Mariana — em acordo que pode chegar a R$ 167 bilhões
Nenhum valor foi informado pela Vale. Porém, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, revelou os termos da negociação em entrevista
Disclaimer nas bolsas: Wall Street ganha uma ajudinha da inteligência artificial, enquanto mercado aguarda corte de juros na Europa
Durante o pregão regular de ontem (11), a Nvidia, joia da coroa do setor, chegou a saltar mais de 8% e animou os índices internacionais nesta quinta-feira
CVM abre consulta pública para regras que facilitam o acesso de empresas de menor porte à bolsa e ao mercado de emissão de dívida
Por meio do FÁCIL – Facilitação do Acesso a Capital e de Incentivo a Listagens – autarquia quer aumentar o acesso de empresas com faturamento até R$ 500 milhões ao mercado de capitais
B3 (B3SA3) na berlinda? Banco corta o preço-alvo das ações da dona da bolsa — e diz o que fazer com os papéis
O Bank of America também reduziu as projeções de lucro líquido recorrente e volume médio diário negociado (ADTV) de ações até 2026
Esta construtora vai pagar milhões em dividendos após lucrar em operações com ações
A empresa em questão fará um distribuição de R$ 79,6 milhões, ou R$ 0,46 por papel, para quem estiver em sua base acionária na próxima semana
Raízen (RAIZ4): CEO diz por que empresa está há mais de três anos sem fazer grandes aquisições — e deve continuar assim
Em evento, Ricardo Mussa avaliou que atualmente não há “nenhum grande benefício” para ir a mercado em busca de novas aquisições
IRB Re (IRBR3): Por que o JP Morgan voltou a rebaixar as ações quatro meses depois de melhorar a recomendação para a resseguradora
Como resultado, os papéis IRBR3 encabeçam a ponta negativa do Ibovespa hoje, registrando uma queda de 8,47% por volta das 11h, sendo negociados a R$ 44,09
Em crise, Infracommerce (IFCM3) negocia financiamento de até R$ 70 milhões e anuncia novo responsável por operação no país
Infracommerce firmou memorando de entendimentos não vinculante com a Geribá Investimentos para reforçar o capital de giro; ações sobem na B3
De dez para um: Kora Saúde (KRSA3) anuncia grupamento de ações após acionistas rejeitarem saída do Novo Mercado da B3
De acordo com as cotações de fechamento do pregão da última terça-feira (10), os papéis da Kora Saúde encerraram cotados a R$ 0,59