A economia global está “resfriada”, mas enquanto a maioria dos países ocidentais lida com espirros e talvez um certo calafrio, a China já se encontra imersa em uma pneumonia. A afirmação é de Ruy Alves, gestor de fundos globais da Kinea Investimentos.
O sino de alerta de uma recessão global foi tocado diversas vezes ao longo dos últimos meses, especialmente dos Estados Unidos, que encontram-se com uma dívida trilionária, juros altos e o risco de um calote inédito.
Mas os problemas do gigante asiático não são apenas culpa nem da desaceleração global nem da escalada nas tensões geopolíticas com os EUA, segundo o especialista da Kinea, que possui um total de R$ 75 bilhões em ativos.
No episódio #45 do Market Makers, Alves explica que o principal problema de Xangai é a etapa de transição econômica, que faz parte do modelo de economia que a própria China decidiu adotar.
“Essa transição para consumo não vai ser fácil na China. Quando eu penso nos próximos anos, eu digo que, se o mundo está resfriado, isso aí está com pneumonia e essa transição vai ser complicada.”
Isso porque, segundo o economista, as nações asiáticas costumam “fechar o sistema financeiro de uma certa maneira em que o recurso vai todo para investimento, traduzido em infraestrutura, fábricas e capacidade de exportação”.
“Aí chega num momento do processo que você tem que transicionar para uma economia de consumo, porque não dá mais para ficar investindo tanto com os mesmos recursos, e você não consegue.”
Confira o episódio completo aqui:
Além da China, o que esperar da economia global?
Em conversa com os apresentadores Renato Santiago e Larissa Quaresma, o gestor da Kinea revela que, ao contrário do que te dizem no mercado financeiro, na realidade, não é simples traçar cenários de longo prazo para a economia global.
“Uma das maiores mentiras de investimento contadas é que o longo prazo é fácil e o curto prazo é difícil. Pelo amor de Deus, quem contou essa mentira? O longo prazo só foi fácil na história da humanidade para a economia americana. Para o resto do mundo sempre foi difícil para caramba, saber o futuro sempre foi uma tarefa muito difícil.”
Para Ruy Alves, a situação econômica dos países é quase que como um resfriado, devido ao baixo desemprego, inflação alta e taxas de juros não naturais.
“Quando você está resfriado, sua mãe recomenda: ‘fica em casa, dá uma descansada e depois você sai para correr, mas não sai pra correr de cara porque pode gerar pneumonia’”, explica Alves.
“Na minha concepção, a economia global está parecendo que precisa descansar um pouco para que essa demanda arrefeça, para esse mercado de trabalho se recompor e essas taxas de juros poderem voltar pro ponto de equilíbrio dela e não ficarem tão restritivas como parecem estar no momento.”
Apesar de não apostar no exercício de “futurologia dos mercados” a longo prazo, Alves projeta que o geopolítico não fique mais fácil no mundo.
“Acredito que vai continuar ficando mais difícil. Acho que a energia vai ser mais cara. No processo de gente, as demografias não estão ficando melhores também. Você não tira a gente treinada do ralo, precisa de tempo. Tem coisas que só o tempo cura.”
Já no caso da China, a previsão do especialista segue longe do otimismo: para Alves, o gigante asiático não contribuirá com o crescimento econômico global nas mesmas proporções dos últimos anos.
Quer assistir ao bate-papo na íntegra? Dê play aqui.