Onda de calor na bolsa: a ação que pode elevar a temperatura da sua carteira e ainda render bons dividendos
Nos níveis atuais, esse ativo ainda negocia por preços muito menores, e com um portfólio ainda mais robusto após aquisições

"Você viu que o Juca está no escritório hoje?", disse a colega fofoqueira se aproximando de mim com a garrafa vazia, enquanto eu observava pacientemente a minha encher no bebedouro da firma.
Apenas para contextualizar, Juca é um daqueles defensores ferrenhos do home office e só usa o LinkedIn para postar os benefícios do trabalho à distância. Sua presença no escritório é um evento raro, e pode ser comparada com acontecimentos como a passagem do cometa Halley ou um título do meu XV de Piracicaba – acontece de vez em nunca.
Sem querer desapontar a colega, que claramente estava ansiosa para falar mais sobre o assunto, eu apenas respondi: é mesmo?
"Pois é, Ruy, você acredita? E não foi só hoje, não. Ele veio a semana inteirinha! Você sabe que eu não gosto de fofoca, mas tem gente que disse que até no feriado ele estava aqui".
Ela deu aquela risada maldosa e continuou: "Ah, com esse calor todo, C-E-R-T-E-Z-A que ele só veio por causa do ar-condicionado. Bom, deixa eu voltar porque tenho muito trabalho ainda", disse ela, levando a garrafa (vazia!!!) de volta para a sua mesa.
O consumo de energia explodiu
Antes que você entenda errado, não tenho nada contra o home office, mas também não é esse o tema da coluna de hoje.
Leia Também
Para quem perdeu a hora, a 2ª chamada das debêntures da Petrobras, e o que mexe com os mercados hoje
O assunto é essa enorme onda de calor que estamos vivendo no Brasil. Não é só o Juca que está apelando para o ar-condicionado, o consumo de energia aumentou brutalmente nos últimos dias, principalmente por conta dos aparelhos de refrigeração.

Como isso afeta o setor elétrico?
Nos últimos anos, três fatores importantes contribuíram para trazer um desequilíbrio de preços e despachos no setor.
Para começar, a atividade econômica ainda lenta atrapalhou a demanda. Isso, combinado com a enxurrada de novos ativos de geração solar e eólica, trouxe uma sobreoferta de energia.
Para fechar, o elevado índice de chuvas no país desde o ano passado tornou as termelétricas praticamente inúteis, já que elas não eram chamadas para gerar energia (despachos).
Essa combinação de preços baixos e falta de despachos impactou diretamente a Eneva (ENEV3), que tem na geração termelétrica sua principal fonte de receitas.
Como você pode ver no gráfico abaixo, a receita variável (aquela proveniente dos despachos) do complexo Parnaíba despencou, e isso também pesou sobre os papéis nos últimos trimestres.

Apenas como medida de comparação, no 3T21, quando a situação dos reservatórios era crítica, o complexo Parnaíba apresentou receita de R$ 912 milhões, enquanto no 3T23 esse número foi de apenas R$ 520 milhões.
Despachos baixos para sempre (?)
Esse não é um grande problema em nossa visão, já que o simples fato de as condições não estarem favoráveis agora não significa que continuarão assim para sempre. O problema é que os investidores têm uma tendência perigosa de extrapolar para o futuro as condições atuais.
É comum vermos empresas que tiveram dois ou três anos de ótimos resultados fazerem seu IPO, porque os seus donos sabem que não será nada difícil convencer o mercado que esses números continuarão crescendo na mesma magnitude para sempre, mesmo que isso seja muito improvável. Nem preciso dizer que isso costuma dar bastante errado para os investidores.
Mas também acontece o cenário oposto: resultados ruins por dois ou três anos também tendem a afetar bastante o pessimismo das projeções.
A Eneva é um exemplo. Por conta da conjuntura atual (reservatórios elevados, sobreoferta de energia renovável e baixo crescimento do PIB) muita gente extrapola os despachos ínfimos por vários e vários anos.
É possível que isso realmente aconteça, especialmente se as condições não mudarem muito. Mas boa parte desse "pessimismo" com os despachos também já está incorporado nos preços, e não deveria afetar muito o humor se as coisas continuarem como estão.
Mas estamos falando do clima, e prever o que vai acontecer nos próximos dois, três ou quatro anos é praticamente impossível.
Qualquer perturbação que modifique esse cenário projetado tem chances de elevar as perspectivas para despachos, deixando a situação assimétrica. E estamos observando exatamente isso nos últimos dias.
Os despachos voltaram... e a ação?
Com a explosão da demanda de energia, algumas térmicas foram "chamadas" para despachar e suprir toda a necessidade que o calorão criou recentemente.
Entre essas térmicas estão algumas da própria Eneva, que não via todas as suas usinas do Complexo Parnaíba ligadas desde a crise hídrica de 2021.
Por isso, mesmo com resultados relativamente tímidos no 3T23, a ação engatou uma boa valorização nos últimos dias, na expectativa de números melhores já para o 4T23 (outubro, novembro e dezembro).
Mas a valorização recente da ação reflete apenas uma pequena melhora nas perspectivas de curto prazo, na minha visão. Há mais por vir se os desequilíbrios continuarem.

Lembre-se que em 2021, quando a crise hídrica fez os analistas extrapolarem os despachos elevados para a eternidade, e a ação da Eneva chegou a negociar por R$ 18.
Nos níveis atuais, a ação ainda negocia por preços muito menores, e com um portfólio ainda mais robusto após as aquisições do complexo Solar Futura I e das térmicas Celse e Termofortaleza (que são bem menos sensíveis aos despachos).
Gostamos da Eneva não porque acreditamos que os despachos vão melhorar daqui para frente, mas porque nos preços atuais há espaço para surpresas positivas e pouco espaço para surpresas negativas.
Por isso, temos recomendação de compra para a Eneva na série Vacas Leiteiras, de olho em uma eventual valorização das ações se o mercado ficar menos pessimista com relação aos despachos e também nos dividendos que devem começar a pingar daqui a alguns anos.
Mas enquanto o longo prazo não chega, existe uma outra vaca que está prestes a pagar um ótimo dividendo já no dia 1º de dezembro, mas só para quem tiver as ações na carteira até a quarta-feira (22) da semana que vem.
Essa ação está na série Vacas Leiteiras e você pode conferir qual é neste relatório gratuito.
- 5 ações além de Eneva (ENEV3) para buscar bons pagamentos na Bolsa, segundo Ruy Hungria: conheça os papéis que todo investidor de dividendos deve ter na carteira agora acessando este relatório 100% gratuito.
Um grande abraço e até a próxima semana!
Rodolfo Amstalden: Nem cinco minutos guardados
Se um corte justificado da Selic alimentar as chances de Lula ser reeleito, qual será o rumo da Bolsa brasileira?
Quando a esmola é demais: Ibovespa busca recuperação em meio a feriado e ameaças de Trump
Investidores também monitoram negociações sobre IOF e audiência com Galípolo na Câmara
Sem avalanche: Ibovespa repercute varejo e Galípolo depois de ceder à verborragia de Trump
Investidores seguem atentos a Donald Trump em meio às incertezas relacionadas à guerra comercial
Comércio global no escuro: o novo capítulo da novela tarifária de Trump
Estamos novamente às portas de mais um capítulo imprevisível da diplomacia de Trump, marcada por ameaças de última hora e recuos
Felipe Miranda: Troco um Van Gogh por uma small cap
Seria capaz de apostar que seu assessor de investimentos não ligou para oferecer uma carteira de small caps brasileiras neste momento. Há algo mais fora de moda do que elas agora? Olho para algumas dessas ações e tenho a impressão de estar diante de “Pomar com ciprestes”, em 1888.
Ontem, hoje, amanhã: Tensão com fim da trégua comercial dificulta busca por novos recordes no Ibovespa
Apetite por risco é desafiado pela aproximação do fim da trégua de Donald Trump em sua guerra comercial contra o mundo
Talvez fique repetitivo: Ibovespa mira novos recordes, mas feriado nos EUA drena liquidez dos mercados
O Ibovespa superou ontem, pela primeira vez na história, a marca dos 141 pontos; dólar está no nível mais baixo em pouco mais de um ano
A história não se repete, mas rima: a estratégia que deu certo no passado e tem grandes chances de trazer bons retornos — de novo
Mesmo com um endividamento controlado, a empresa em questão voltou a “passar o chapéu”, o que para nós é um sinal claro de que ela está de olho em novas aquisições. E a julgar pelo seu histórico, podemos dizer que isso tende a ser bastante positivo para os acionistas.
Ditados, superstições e preceitos da Rua
Aqueles que têm um modus operandi e se atêm a ele são vitoriosos. Por sua vez, os indecisos que ora obedecem a um critério, ora a outro, costumam ser alijados do mercado.
Feijão com arroz: Ibovespa busca recuperação em dia de payroll com Wall Street nas máximas
Wall Street fecha mais cedo hoje e nem abre amanhã, o que tende a drenar a liquidez nos mercados financeiros internacionais
Rodolfo Amstalden: Um estranho encontro com a verdade subterrânea
Em vez de entrar em disputas metodológicas na edição de hoje, proponho um outro tipo de exercício imaginativo, mais útil para fins didáticos
Mantendo a tradição: Ibovespa tenta recuperar os 140 mil pontos em dia de produção industrial e dados sobre o mercado de trabalho nos EUA
Investidores também monitoram decisão do governo de recorrer ao STF para manter aumento do IOF
Os fantasmas de Nelson Rodrigues: Ibovespa começa o semestre tentando sustentar posto de melhor investimento do ano
Melhor investimento do primeiro semestre, Ibovespa reage a trégua na guerra comercial, trade eleitoral e treta do IOF
Rumo a 2026 com a máquina enguiçada e o cofre furado
Com a aproximação do calendário eleitoral, cresce a percepção de que o pêndulo político está prestes a mudar de direção — e, com ele, toda a correlação de forças no país — o problema é o intervalo até lá
Tony Volpon: Mercado sobrevive a mais um susto… e as bolsas americanas batem nas máximas do ano
O “sangue frio” coletivo também é uma evidência de força dos mercados acionários em geral, que depois do cessar-fogo, atingiram novas máximas no ano e novas máximas históricas
Tudo sob controle: Ibovespa precisa de uma leve alta para fechar junho no azul, mas não depende só de si
Ibovespa vem de três altas mensais consecutivas, mas as turbulências de junho colocam a sequência em risco
Ser CLT virou ofensa? O que há por trás do medo da geração Z pela carteira assinada
De símbolo de estabilidade a motivo de piada nas redes sociais: o que esse movimento diz sobre o mundo do trabalho — e sobre a forma como estamos lidando com ele?
Atenção aos sinais: Bolsas internacionais sobem com notícia de acordo EUA-China; Ibovespa acompanha desemprego e PCE
Ibovespa tenta manter o bom momento enquanto governo busca meio de contornar derrubada do aumento do IOF
Siga na bolsa mesmo com a Selic em 15%: os sinais dizem que chegou a hora de comprar ações
A elevação do juro no Brasil não significa que chegou a hora de abandonar a renda variável de vez e mergulhar na super renda fixa brasileira — e eu te explico os motivos
Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA
Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária