Inflação e juros dão sinais de forte descompressão — e oportunidade de rali na bolsa igual ao de 2016 começa a aparecer
Mesmo que a desinflação esteja ocorrendo de forma gradual, existem fatores positivos à frente e Copom tem espaço para discutir corte nos juros

As últimas semanas foram frutíferas para as projeções sobre a economia brasileira. Mais recentemente, foi a prévia da inflação oficial de maio, o IPCA-15 do IBGE, que surpreendeu positivamente os investidores.
O índice apresentou uma alta de 0,51% no mês, abaixo da mediana das expectativas, que apontava para uma alta de 0,65% no período, e 0,06 ponto percentual abaixo da taxa de abril (0,57%).
Não foi só na comparação mensal que tivemos uma desaceleração. No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,12% e, em 12 meses, de 4,07%, abaixo dos 4,16% registrados nos 12 meses finalizados em abril. Se há menos inflação, temos como consequência menos juros também.
A perspectiva de inflação e juros mais baixos impulsiona setores como consumo, construção civil e bancos no Ibovespa.
Inflação em queda controlada
Mais do que a simples desaceleração, o dado foi mais saudável também. O núcleo, que exclui os itens mais voláteis, como combustíveis e alimentos, desacelerou de 0,45% em abril para 0,42% em maio.
A difusão, por sua vez, que mede quanto a alta está se espalhando pelos preços, ficou próxima da estabilidade, em 64% — sete dos nove grupos de produtos e serviços tiveram alta no mês.
No mês em análise, os grupos de "saúde e cuidados pessoais", com um aumento de 1,49%, e "alimentação e bebidas", com um aumento de 0,94%, tiveram um impacto significativo no índice.
Cada um desses grupos contribuiu com 0,20 ponto percentual para o dado geral. Logo em seguida, o grupo de "habitação" apresentou um aumento de 0,43%, contribuindo com 0,07 ponto percentual.
No entanto, houve também dois grupos que registraram quedas nos preços. O grupo de "artigos de residência" apresentou uma queda de 0,28%, enquanto o grupo de "transportes" teve uma pequena queda de 0,04%. Essas variações negativas também tiveram um impacto leve no índice geral.
Afinal, o que isso quer dizer?
Com isso, nossa leitura é de que a maior parte do impacto na inflação foi impulsionada por itens voláteis ou regulamentados, como combustíveis e passagens aéreas, e houve uma desaceleração nos bens duráveis (parcialmente compensado pelo aumento no segmento de alimentos em casa e nos bens não duráveis e semiduráveis).
Resumidamente, a divulgação dos dados mostrou surpresas em diversos setores. Como resultado desses dados, o mercado seguiu revisando as projeções de inflação para o IPCA de 2023 de 5,8% para 5,7% no último Boletim Focus, enquanto a estimativa para 2024 foi mantida em 4,1%.
Como podemos ver abaixo, o aprimoramento nas expectativas para o IPCA acumulado nos respectivos anos tem sido considerável mais recentemente.

Não vai demorar muito para que os agentes de mercado comecem a projetar uma inflação abaixo de 5,5% em 2023.
Vale lembrar que os preços devem voltar a acelerar no acumulado de 12 meses a partir da segunda metade do ano por causa da base de comparação, mas a média dos núcleos deve continuar a cair.
Arcabouço e Petrobras ajudam na descompressão da inflação
Sim, a situação ainda é preocupante (as medidas subjacentes e centrais seguem muito acima da meta de inflação), sem dúvida; contudo, a trajetória é cada vez mais positiva — vemos progresso na formação de expectativas de inflação no longo prazo, apesar de permanecerem elevadas devido ao debate sobre a meta e as incertezas fiscais. Sem dúvidas, o novo arcabouço fiscal tem ajudado bastante nesse processo.
Além disso, a redução nos preços dos combustíveis pela Petrobras nos próximos meses terá um impacto adicional na queda esperada para o primeiro semestre, além de suavizar a alta a partir do segundo semestre.
Em outras palavras, o IPCA-15 trouxe otimismo de volta ao mostrar uma desaceleração no núcleo da inflação e na inflação subjacente.
Sem inflação, juro tem espaço para cair
Os dados indicam que estamos retornando à trajetória de descompressão que observamos em março, o que possibilita tom construtivo sobre a trajetória dos juros.
Não só da Selic, mas da curva como um todo; afinal, a redução considerável em alguns segmentos da inflação pode trazer um alívio positivo para o cenário do Banco Central na condução da política monetária, embora a inflação ainda esteja acima do desejado.
Espero que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a taxa Selic no nível atual de 13,75% em sua próxima reunião em junho, porém abre-se uma possibilidade de iniciar discussões sobre possíveis cortes em breve, muito provavelmente no terceiro trimestre, em agosto ou setembro, com uma redução de 25 pontos-base. Será um começo de flexibilização importante para a política monetária.
E o rali...
Pouco importa o mês de início do ciclo de cortes. O que importa é a tendência de queda dos juros, que impulsiona os ativos de risco, como aconteceu entre 2016 e 2019, no último grande bull market (mercado de alta) brasileiro.
Podemos observar essa tendência até mesmo no otimismo do presidente da autoridade monetária. Segundo Roberto Campos Neto, pela primeira vez, a inflação está em queda no Brasil, enquanto nos países comparáveis ela se mantém estável em níveis mais elevados. Nesse sentido, o IPCA-15 apresentou resultados positivos, com uma surpresa significativa em serviços e uma melhora nos indicadores de núcleo.
Embora a desinflação esteja ocorrendo de forma mais lenta do que o esperado, observamos fatores positivos em perspectiva.
A queda dos juros se dará de forma gradual, sim, mas para o mercado o que interessa é a trajetória. Claro, quanto maior for a amplitude do ajuste nos juros, maior poderá ser o efeito. Ainda assim, diante dos valuations atuais, poucas variações já podem resultar em grandes valorizações.
5 investimentos em tecnologia para os próximos 5 anos — e quase todos passam pela inteligência artificial
Inteligência artificial desponta como força-motriz do setor de tecnologia nos próximos anos; conheça as melhores opções para investir
Rodolfo Amstalden: Os caminhos escolhidos por Elon Musk fizeram o dinheiro correr atrás dele e não o contrário
O bilionário Elon Musk, dono da Tesla e do Twitter, teve biografia lançada recentemente e mostra que a motivação da sua vida nem sempre foi o dinheiro
Bilionário “anônimo” da bolsa: Confira as lições de investimentos de um dos investidores mais bem sucedidos do Brasil
Quando o assunto é investimento, ninguém tem conselhos melhores do que Luiz Alves Paes de Barros
5 investimentos que estão fora do radar agora, mas nos quais é melhor ficarmos de olho nos próximos cinco anos
Para comemorar o aniversário de cinco anos do Seu Dinheiro, separamos uma seleção de cinco grandes tendências de investimento para os próximos anos.
Felipe Miranda: Entenda o que aconteceu com o GetNinjas (NINJ3) nos últimos dias — e por que um ninja nunca será um samurai
Getninjas está propondo uma redução de capital de R$ 4,40 por ação. Na prática, equivale a uma distribuição de dividendos de quase todo o caixa da companhia
MP dos fundos exclusivos e o impacto do come-cotas na rentabilidade de uma estratégia
A MP 1184, publicada no final de agosto deste ano, trouxe como principal novidade a inclusão da tributação do “come-cotas” para os fundos fechados
Rali de fim de ano do Ibovespa pode ser o ‘Papai Noel’ da Faria Lima e Casas Bahia (ex-Via) tem problemas maiores do que a mudança de ticker
Além disso, saiba quais mudanças fazer na sua carteira de investimentos com a Selic a 12,75% e veja qual país assumiu o lugar do Brasil no ranking de maior juro real do mundo
Perdi R$ 7 mil com ações da Via (VIIA3), hoje Grupo Casas Bahia (BHIA3); é hora de vender?
Leitora tem ações da Via, rebatizada de Grupo Casas Bahia, e já perdeu uma boa grana; é hora de vender?
O que rende mais: dividendos ou a conta do Nubank que paga 1% ao mês?
Nos últimos 12 meses a conta Nubank conseguiu um retorno de 13%, e com risco muito menor do que as ações que pagam dividendos. Mas a mamata vai acabar com a queda da Selic
Quantas vezes você muda de ideia? Disputa da Netflix e Disney mostra a importância da moderação para investidores
O fundador e primeiro CEO da Netflix, Marc Randolph, tem um ensinamento importante para investidores: mudar de ideia; entenda o motivo
Leia Também
-
Lojas Renner (LREN3), Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) em alta: Por que as ações de varejo sobem hoje na B3
-
Fundo imobiliário RZTR11 estima lucro de mais de R$ 73 milhões após venda de fazenda e deve pagar dividendos maiores; confira o valor por cota
-
Locatária que deve milhões ao fundo imobiliário GGRC11 tem plano de recuperação judicial aprovado; veja como será o pagamento da dívida
Mais lidas
-
1
Filme ‘Som da Liberdade’ lidera bilheterias no Brasil e produtora libera ingressos gratuitos
-
2
3 sortudos faturam a Lotofácil, mas nenhum fica milionário; Quina e Mega-Sena acumulam
-
3
O que a Natura (NTCO3) está fazendo para recuperar a “beleza” perdida na bolsa após o fracasso na tentativa de virar uma holding global