Em Recife, por volta de 1928, foi inaugurado o hospício Juliano Moreira, em homenagem ao psiquiatra brasileiro mais respeitado da época.
Moreira era defensor da psicoterapia pelo trabalho, que pregava que pacientes deveriam passar por rotinas de atividades como parte do tratamento.
Pois bem, na cerimônia de inauguração, que contou com a presença do então Governador João Suassuna, os pacientes da instituição se enfileiraram na porta do hospital, cada um com o seu carrinho de mão carregado com pedras, prontos para oferecer ao público ali presente um "gostinho" do que se tratava a tal psicoterapia pelo trabalho.

Quem é o doido nessa história?
Tudo ia bem até que um dos pacientes apareceu empurrando o carrinho de cabeça para baixo.
João Suassuna, certo de que a loucura estava atrapalhando a capacidade de raciocínio do sujeito, ofereceu ajuda: “olha, não é assim não que se carrega, é assim…”, virando o carrinho na posição correta.
O paciente pegou o carrinho novamente, tornou a virar de cabeça para baixo e cochichou ao governador: "eu sei doutor. Mas é que se eu carregar de cabeça pra cima eles colocam pedra dentro pra eu carregar".
De doido esse sujeito não tinha nada.
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É difícil ser diferente
Essa história foi contada pelo escritor Ariano Suassuna, que era filho de João Suassuna, em uma de suas palestras. Se é verídica eu não sei, mas ela não deixa de ser genial por mostrar como é difícil nos livrar do efeito manada.
Qualquer pessoa (com problemas psicológicos ou não) que tivesse o poder de escolher sem se preocupar com o julgamento alheio, obviamente iria preferir empurrar um carrinho vazio.
Mas às vezes nem nos damos conta que temos essa escolha. Empurramos o carrinho cheio porque parece certo, porque faz parte do protocolo ou simplesmente porque todos estão fazendo o mesmo.
Há um estudo famoso sobre isso, conhecido como o "Experimento de Asch". Nele, o pesquisador apresentava uma linha na carta da esquerda e pedia para que os participantes do experimento encontrassem qual era a linha correspondente na carta da direita.

Quando estavam sozinhos, sem sofrer a influência do julgamento alheio, todos os participantes davam a resposta óbvia: A.
Até aqui, nenhum grande insight. Mas a coisa ficou bem mais interessante na segunda parte do experimento. A mesma pessoa é colocada em uma sala com vários outros participantes, que são atores sem ele saber.
As mesmas cartas são apresentadas, mas os atores são instruídos a dar respostas claramente erradas. Em boa parte dos casos, os participantes reais do experimento se sentiram pressionados, mudaram de opinião e "preferiram errar" junto com a maioria.
Voltando ao hospício de Recife, foi preciso um sujeito considerado doido, sem amarras sociais ou de necessidade de pertencimento ao grupo para tomar uma decisão que era óbvia, mas que dificilmente seria tomada por uma pessoa considerada "comum".
Acontece o mesmo no mercado financeiro
Esse experimento de Asch explica muito sobre o comportamento das pessoas no mercado financeiro.
Às vezes uma ação, uma criptomoeda ou qualquer outro ativo está subindo 1.000% no ano e não existe qualquer fundamento que sustente essa alta. Não há motivos para investir no papel, mas é difícil agir contra o comportamento da massa e ser o único "doido" a escolher ficar de fora da festa. Até que num belo dia a bolha estoura, e quem seguiu a manada se dá mal, muito mal.
Mas não é só na euforia que os "doidos" se saem bem. No bear market isso também acontece.
Quase todo mundo está cansado de ver as ações caindo, e quando todos os seus amigos vendem suas ações, você parece ser o único "doido" a continuar insistindo em perder dinheiro.
Mesmo que não faça sentido vender as suas ações por preços tão baixos e múltiplos tão descontados, você tende a fazer isso porque todo mundo está fazendo, e porque é muito difícil se livrar do efeito manada.
Admito, eu sou um pouco doidinho
Eu tenho ações na minha carteira e, acredite, eu sei que não é nada agradável ver esses ativos se desvalorizando. Às vezes, por semanas seguidas.
Por exemplo, desde novembro de 2022 meus investimentos em renda variável na Empiricus Investimentos acabaram se desvalorizando, por conta de todas as incertezas fiscais. Com isso, a rentabilidade dessa classe de ativos ficou em apenas +2% nos últimos 6 meses.

No entanto, não dá para abrir mão de ter ações na carteira, especialmente nos múltiplos atuais. Uma pequena melhora no humor e essa parcela simplesmente voa.
Como manter essa exposição em ações sem sofrer muito, então?
Deixar cerca de metade da sua grana em renda fixa, aproveitando os ótimos juros atuais, é uma boa saída. Veja como essa outra parcela do meu portfólio, investida no Fundo DI Empiricus Selic, navegou muito bem nos últimos 6 meses de volatilidade.

Se as coisas continuarem ruins, eu sei que terei uma parcela do meu portfólio rendendo todos os dias. Mas se as coisas voltarem a melhorar, meu lado "doidinho" vai pegar na veia essa evolução, que costuma ser rapidamente incorporada no preço dos ativos de risco.
Apesar de a minha carteira ter ativos mais voláteis, que sofreram um pouco mais com a deterioração dos últimos meses, você pode deixar essa parcela investida em ações um pouco menos arriscadas, pagadoras de dividendos, e que se saíram muito bem mesmo com a piora das condições de mercado nos últimos 6 meses.

O desempenho mostrado acima é do Fundo Empiricus Dividendos, que é baseado na série Vacas Leiteiras e se valorizou 9% no período.
Se quiser conferir as ações presentes na série e ter você mesmo o prazer de comprar esses ativos, deixo aqui o convite.
Por outro lado, se você não tem muito tempo e prefere "terceirizar" esse processo de investimento, pode fazer através do fundo Dividendos, que você pode conferir aqui.
Observação: se mesmo com a minha influência você insistiu que a resposta correta no desafio de Asch era a linha C, você já tem o que é preciso para se livrar do efeito manada.
Um grande abraço e até a semana que vem!
Ruy