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Fiscal é assunto do dia, mas Banco Central não se move no ritmo do mercado, reforça diretor; dirigentes se reúnem na próxima semana para debater nova alta nos juros

Foto da fachada do Banco Central; servidores finalizam greve

Fachada da sede do Banco Central do Brasil, em Brasília

Com o lançamento do Auxílio Brasil marcado para a tarde desta terça-feira (19), o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, reconheceu que a questão fiscal é o assunto do dia, mas reforçou que o BC não se move na velocidade do mercado.

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"O BC tem o seu ritmo, vai avaliar todas as informações e aí avaliar os impactos do fiscal sobre a dinâmica de inflação. O fiscal é sempre um componente exógeno. Não devemos seguir tudo que o mercado e diz e precisamos ter a nossa própria opinião", afirmou, em participação no JP Morgan Investor Seminar.

A partir da próxima quarta-feira (20) a diretoria colegiada do órgão entra em período de silêncio prévio à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana.

Prêmio de risco

Para Kanczuk, a possibilidade de mudanças no regime fiscal já é considerada pelo BC em cenários alternativos desde o ano passado, que incluem a alta do prêmio de risco. Em caso extremo, a política monetária precisa se adaptar para lidar com prêmios de risco maiores.

Como mostrou o Broadcast na segunda-feira (18) o Auxílio Brasil deverá pagar em média R$ 400 em 2022, ano em que o presidente Jair Bolsonaro buscará a reeleição. Parte desse valor, estimado em R$ 30 bilhões, seria contabilizado fora do teto de gastos, em uma vitória da ala política do governo sobre a equipe econômica.

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Aumento no ritmo da alta de juros?

O diretor do BC repetiu que, na última reunião do Copom, os dirigentes debateram se manteria no ritmo de aumento de 1 ponto porcentual Selic ou se o aumentaria para 1,25 ponto. O colegiado chegou à conclusão que manter o ritmo seria suficiente para entregar o centro da meta de inflação em 2022.

Segundo ele, a discussão fiscal para reunião da próxima semana deve ser semelhante. "Se eu acredito que a questão fiscal ficará pior, aumentamos o ritmo ou o tamanho do ciclo? O nosso procedimento foi olhar para a inflação em 2022, embora o horizonte relevante considere parte de 2023", reforçou Kanczuk.

Inércia inflacionária

Fabio Kanczuk repetiu também que o BC vê muito pouca inércia inflacionária para 2022. Ainda assim, ele reconheceu que a inflação de serviços vai subir no próximo ano, rodando acima da alta geral dos preços.

"Há um hiato, mas escolas e serviços têm que colocar custos em novos preços. Mas a parte de alimentos deve abaixar de preço. O difícil é calcular os preços de bens industriais, onde temos cometido erros sistemáticos", admitiu. "Inflação de bens está alta nos Estados Unidos, e há questão se é problema de oferta ou demanda. Na nossa visão, parece um problema de oferta. Em algum momento, os preços de bens industriais vão cair muito e rápido", argumentou Kanczuk.

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Para ele, se essa reversão de preços demorar a ocorrer em 2022, a inflação do próximo ano continuará muito alta. "É possível alcançar números muito mais baixos de inflação, a questão é quando. Por isso, encarando esse problema, o BC decidiu elevar os juros para colocar a inflação na meta ainda em 2022. Se eu não entregar 2022 corretamente, não vou entregar 2023", repetiu. "Não é um dilema entre 2022 e 2023, mas foco em 2022", acrescentou.

Tempo de convergência

O diretor de Política Econômica do Banco Central também reconheceu que o BC precisará analisar o tempo para convergência da inflação para a meta ainda em 2022, assim como deve continuar a necessidade de elevar o ritmo do ciclo de aperto monetária.

"Pode-se argumentar que, se aumentarmos muito os juros agora, a inflação vai para baixo em 2022 e 2023 e, em algum momento, a inflação de 2023 virá para baixo da meta. É uma avaliação válida, pode haver esse dilema, mas isso não é consistente com a maioria das projeções do mercado", respondeu.

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