‘Ouro e bitcoin não são reservas de valor: um não é uma boa defesa contra a inflação e o outro é cassino’
Quando alguém fala em reserva de valor, deve ter em mente que se refere a ativos cotados na moeda do país em que o investidor vive, ganha e gasta.

Como pauta de minha crônica do Seu Dinheiro deste mês me foi sugerido escrever sobre o conceito de bitcoin como reserva de valor, comparado com o ouro.
Antes de mais nada, é bom lembrar que estamos contrapondo um ativo multimilenar com outro que surgiu há pouco tempo, já no século 21.
Há alguns dias, vi uma recomendação de compra de bitcoins, alegando justamente ser reserva de valor.
Só que o profissional que fez essa indicação alertou para que os investidores aplicassem não mais do que cinco por cento de seu patrimônio na criptomoeda.
“Ora”, pergunto eu, “se é reserva de valor, por que limitá-la a cinco por cento?”
O que sei é que as criptos são altamente voláteis. Em dezembro de 2017, por exemplo, o bitcoin bateu US$ 20 mil. Desse ponto, caiu para US$ 3.250 um ano depois.
Leia Também
“Foi uma bolha especulativa, dessas que acontecem de vez em quando, como o episódio da tulipomania”, pode ter dito alguém. “Burro fui eu que não shorteei”, quem sabe completou o especulador, fruto de minha imaginação.
Bolha? Que nada!
Dos três mil e poucos dólares, o bitcoin deu um salto para quase 60 mil num espaço de três anos e meio.
Estamos falando de um ganho de quase 20 vezes. Isso para quem não alavancou.
E se houve alguém que achou que bitcoin era reserva de valor, e pôs tudo que tinha na cripto, tornou-se um bilionário.
Já aquele que aplicou apenas uma merrequinha, só para testar, esse deve ter morrido de dor de cotovelo.
Resumindo, bitcoin não é reserva de valor coisa nenhuma. Trata-se de um cassino no qual, pelo menos até agora, os apostadores têm ganhado muito mais do que a banca.
Essa é pelo menos minha visão.
Um detalhe. Nesse ativo, estou invicto. Apliquei 100 mil reais e tirei 135 mil um mês depois.
Foi só esta vez.
Ouro é reserva de valor?
Vamos agora ao ouro.
Também não considero reserva de valor, embora seja o oposto do bitcoin em termos de volatilidade.
Ao contrário do que se pensa, o ouro não é uma boa defesa contra a inflação.
O metal é muito mais procurado quando o mundo está trabalhando com taxas de juros negativas.
Senão vejamos:
De julho de 1999, quando fez um fundo a US$ 250,00, até julho de 2020, no auge do pânico da Covid-19, quando prevaleceram taxas de juros negativas na maioria dos países ricos, e o dinheiro andou sobrando em todo o mundo, a onça de ouro subiu 700% até bater 2 mil dólares numa cotação intradia na Comex.
Houve então mais uma demonstração de como o mercado, em seu conjunto, é sábio e premonitório. Percebeu o início de um período inflacionário, que agora está se materializando.
Dos dois mil, a onça já caiu para 1.750,00 dólares. E, em meu juízo, está num bear market que poderá levá-la a mil redondos. Isso quando os BCs dos países ricos, a começar pelo Fed, iniciarem um ciclo de alta de taxas de juros para debelar a inflação causada pelo excesso de moeda em poder do público.
Golpes com bitcoin
Voltando a falar de bitcoin e das demais criptomoedas, é bom que o caro amigo leitor fique atento aos golpes que estão acontecendo.
Refiro-me a trambiques os mais diversos que normalmente atraem os otários gananciosos, explorando-lhes a cobiça.
Recentemente, Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó do Novo Egito, do balneário de Cabo Frio, município da Costa Azul do Estado do Rio, foi preso pela Polícia Federal, após movimentar bilhões num esquema de pirâmides.
Reserva de valor é algo com que os japoneses lidam extremamente bem. Com uma deflação anual de 0,2% (julho deste ano) e títulos de dois anos do Tesouro com taxa negativa de 0,13%, os investidores de lá conseguem não perder.
Desde, é claro, que não precisem descapitalizar para viver, é evidente. Neste caso é preciso ponderar a expectativa de vida (cálculo dos mais incertos) com os saques que terão de ser feitos do principal.
Em seu delicioso livro Um Século de Boa Vida (Editora Globo, 1997), Jorginho Guinle, herdeiro de uma das mais ricas famílias do Brasil, narra sua vida de playboy.
Entre outras coisas, ele conta que jamais trabalhou um minuto sequer. Contava com sua fortuna para viver à tripa forra o resto da existência. Só não esperava chegar aos 88 anos, vendo o dinheiro, sua reserva de valor, acabar antes dele.
Morreu pobre, sobrevivendo às custas dos amigos.
Quando alguém fala em reserva, deve ter em mente que se refere a ativos cotados na moeda do país em que o investidor vive, ganha e gasta.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADECONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Sonho factível
Conversando há pouco tempo com um colega de mercado, ele explicou como monta sua carteira.
“Para ações compradas”, disse ele, “me defendo vendido no Ibovespa ou comprando puts [opções de venda] do meu papel. Sempre mantenho dez por cento de meu patrimônio mobiliário comprado em ouro”, prosseguiu.
“Mas aí”, perguntei, “como é que você pretende ganhar dinheiro? Estou falando em dinheiro grande, coisa de passar o resto da vida de papo para o ar,”
Ele respondeu com a maior satisfação:
“Cinco por cento estão sempre aplicados em criptomoedas.”
Refleti bem sobre a resposta e concluí que ele estava com toda a razão. Sua reserva de valor era um sonho altamente factível.
O resto ele acumularia com o trabalho.
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução
Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)
No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas
Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?
Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores
A volta do campeão na ação do mês, o esperado caso da Ambipar e o que move os mercados nesta sexta-feira (3)
Por aqui, investidores ainda avaliam aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil; no exterior, todos de olho no shutdown nos EUA, que suspendeu a divulgação de dados econômicos
Tragédia anunciada: o que a derrocada da Ambipar (AMBP3) ensina sobre a relação entre preço e fundamento
Se o fundamento não converge para o preço, fatalmente é o preço que convergirá para o fundamento, como no caso da Ambipar
As críticas a uma Petrobras ‘do poço ao posto’ e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (2)
No Brasil, investidores repercutem a aprovação do projeto de isenção do IR e o IPC-Fipe de setembro; no exterior, shutdown nos EUA e dados do emprego na zona do euro