Como bem disse o economista John Maynard Keynes, “os mercados podem se manter irracionais por mais tempo do que você é capaz de se manter solvente”. Isso é especialmente verdade para quem resolve apostar na queda de um ativo e o vende a descoberto. E, nos últimos dias, alguns fundos de hedge americanos sentiram isso na pele da pior maneira.
Com suas operações short tornadas públicas, eles foram vítimas do que se convencionou chamar no mercado de um short squeeze. Foram “amassados” por compradores que fizeram disparar os preços das ações em cuja queda esses fundos apostavam.
Só que ao contrário do que se poderia imaginar, não foram (pelo menos, não até onde se sabe) outros “tubarões” do mercado que feriram de morte esses peixes grandes shorteados. Foram as “sardinhas” - pequenos investidores individuais, pessoas físicas comuns, como eu e você.
O ponto de encontro central desses investidores foi um fórum na rede social Reddit, o Wall Street Bets. Lá, investidores pessoas físicas discutem os seus trades, e de vez em quando uma ação bomba, como também acontecem em fóruns aqui no Brasil. O caso mais notório, desta vez, foi o da ação da GameStop, uma rede de lojas físicas de games usados.
As pessoas físicas entraram comprando, de forma a inflar os preços das ações da GameStop e ferrar os grandes fundos. Só hoje, a ação da varejista subiu mais de 130% na bolsa de Nova York, acumulando um ganho de mais 1.700% apenas em 2021.
Muitos dos pequenos investidores certamente estão nessa pelo lucro aparentemente fácil, mas há quem se valha de um discurso de “justiceiro social” de que amassar fundos de hedge é uma forma de as pessoas normais darem o troco nos poderosos de Wall Street, como se fosse algum tipo de reparação justa.
Ironicamente (ou não), boa parte dessas pessoas físicas opera pela Robinhood (aquele personagem que roubava dos ricos para dar aos pobres, sabe?), uma plataforma que não cobra corretagem, mas é paga por grandes fundos para que eles sejam a contraparte das pessoas físicas nos trades. Eles depois operam na posição oposta no mercado e embolsam a diferença.
Ou seja, também tem tubarão se beneficiando desta farra. Mas é fato que o discurso bonito contra os ricos e poderosos ecoa nas redes sociais e fóruns. Só que não é nada improvável que sejam apenas o disfarce de alguns malandros querendo ganhar um às custas dos incautos, tal qual aqueles que alardeiam lucros fáceis. No mínimo, é só a manada agindo de forma irracional, ignorando os fundamentos e correndo risco não calculado.
O Rafael Lara escreveu uma matéria superlegal contando toda essa história da disparada da ação da GameStop nos últimos dias e da aparente derrota dos tubarões pelas sardinhas, organizadas via rede social. Mas a reportagem traz também talvez o mais importante dessa história: a ação da GameStop, afinal, vale a pena?
Durante a pandemia, a pessoa física entrou na bolsa com tudo, as “dicas” de investimento nas redes sociais se multiplicaram, e os reguladores do mercado começaram a ficar de olho nesses fenômenos, justamente pelos riscos e disfunções que poderiam provocar. Nunca é demais lembrar que bolsa não é videogame, e que no fim prevalecem os fundamentos.
MERCADOS
• O Ibovespa fechou em queda de 0,5%, aos 115.882 pontos, e o dólar teve alta de 1,51%, fechando a R$ 5,40, após a decisão de juros pelo banco central americano e o discurso do seu presidente, Jerome Powell. Veja tudo que afetou os mercados hoje na matéria da Jasmine Olga.
• Investir na Locaweb ficou um pouco mais fácil: os acionistas aprovaram um desdobramento das ações na proporção de uma unidade para quatro papéis novos. Saiba mais.
EMPRESAS
• De saída da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior disse que a privatização da empresa é de interesse do governo federal, mas que “a decisão cabe ao Legislativo”. Segundo ele, o processo de desestatização tem chances, sim, de acontecer.
• A Klabin firmou um acordo com a Timber Investment Management Organization (Timo) para a constituição de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE). Ambas querem explorar a atividade florestal no Estado de Santa Catarina.
ECONOMIA
• Um grupo de empresários brasileiros reafirmou que continua a negociar 33 milhões de doses da AstraZeneca, mesmo após o laboratório e o fundo de investimento BlackRock terem declarado que não têm vacinas contra a covid-19 para fornecer à iniciativa privada.
• As contas externas tiveram saldo negativo de US$ 12,5 bilhões em 2020, segundo o Banco Central. No período, o Brasil viu as importações de produtos caírem, enquanto as exportações se mantiveram em níveis elevados.
• Os financiamentos imobiliários para compra e construção de imóveis somaram R$ 123,97 bilhões em 2020, crescimento de 57,5% na comparação com 2019. O resultado foi o maior da história.
Este artigo foi publicado primeiramente no "Seu Dinheiro na sua noite", a newsletter diária do Seu Dinheiro. Para receber esse conteúdo no seu e-mail, cadastre-se gratuitamente neste link.