Quem conhece as histórias de J. R. R. Tolkien está acostumado com as grandes jornadas retratadas em seus clássicos. Longos caminhos percorridos pelos heróis sempre possuem começo, meio e fim.
Curiosamente, em Tolkien, inclusive, de maneira similar aos ativos no mercado financeiro, as trilhas não são lineares, com os caminhos tendo de ser alterados com certa frequência, surpresas e reviravoltas.
Ainda assim, sempre depois do longo percurso, nossos heróis precisam voltar para casa - Bilbo, Frodo e Sam voltam para o Condado ao final de suas respectivas viagens.
Lá e de volta outra vez. Nossos investimentos, em grande parte, mimetizam esse ciclo, com começo, meio e fim, sujeito a bastante volatilidade no meio do caminho.
Observe abaixo uma ilustração sobre ciclos econômicos no mercado financeiro e no mercado de bens. Perceba que os ciclos financeiros costumam ser mais rápidos que o de bens, em uma antecipação do processo – trazer a valor presente.

Paralelamente a este raciocínio, já faz algum tempo que tenho falado de commodities, uma classe que se encaixa perfeitamente com este contexto cíclico.
Depois de um grande momento entre a década de 90 e o início dos anos 2000, os investimentos em matérias-primas enfrentaram uma fase ruim por bastante tempo, muito por conta de dois choques: i) a crise do subprime, em 2008; e ii) a crise da Zona do Euro, entre 2012 e 2014.
De lá para cá, até o final de 2019, os preços do setor flertaram com mínimas históricas, enquanto as empresas envolvidas no segmento se tornaram indiscutivelmente baratas.
Em 2020, porém, houve uma mudança de rota. A grave crise peculiar da covid-19, a paralisação temporária das cadeias de suprimento globais e o subsequente reaquecimento das economias, com a vacinação e a normalização das condições sociais, pressionaram novamente os ofertantes, que voltaram a demandar desregradamente as commodities.
O resultado foi um grande choque de preço, os quais têm pressionado não só o setor, mas toda a inflação mundial.
Note abaixo a evolução dos preços das commodities (medidas pelo CRB Index no eixo da direita) versus a inflação implícita americana para cinco anos (linha amarela no eixo da esquerda).

A reabertura econômica, uma ótica mais multilateral para o comércio global e os estímulos fiscais e monetários lançaram a possibilidade das commodities voltarem a ser um tema quentíssimo no mercado, assim como o fizeram há 20 anos. Lá e de volta outra vez. O herói volta à casa.
Nas últimas semanas, porém, tamanha foi a alta dos preços vista do último trimestre de 2020 até hoje, que o mercado começou a experimentar uma correção considerável.
Naturalmente, alguns preços pareciam de fato esticados. Não à toa, verifica-se um contraste considerável entre a performance dos últimos 12 meses e os da última semana, como podemos ver abaixo.

As commodities voltaram a sofrer. Para ilustrar, o minério de ferro chegou a cair quase 5% na semana encerrada no dia 18 de junho, ainda se ajustando à perspectiva de aperto monetário no mundo e aos esforços chineses de conter movimentos especulativos.
A noção de ajuste nos preços, contudo, pode ser confundida com um eventual fim de ciclo para as empresas de commodity. Os investidores se perguntam: deveríamos abandonar as commodities novamente? Este entendimento não se verifica, entretanto.
Vamos separar duas coisas: i) provavelmente haverá uma pressão vendedora no curto prazo, muito derivada de notícias negativas sobre os preços, o que ensejaria uma correção; e ii) mesmo passando por volatilidade no curto prazo, durante a correção do preço da commodity, a ação que opera a matéria-prima não deixa de ser atrativa.
O motivo? Em grande parte porque mesmo com uma correção de preços frente ao patamar atual, muitas empresas ainda estariam baratas – o preço ainda estaria acima da curva de custos, provocando geração de caixa robusta.
Olhe a Vale, por exemplo: mesmo se o minério caísse mais de 35%, a companhia ainda estaria negociando a 3,5 vezes EV/Ebitda para 2022, patamar que consideramos barato.
Ou seja, precisaremos agora apenas ser mais seletivos, buscando principalmente fluxos de caixa.
Busque fluxos de caixa foi a lição que Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus, a maior casa de análise independente de ações, passou para seus assinantes leituras da série best-seller “Palavra do Estrategista”.
Se o momento atual requer seletividade, precisamos estar bem acompanhados, com quem verdadeiramente entende de selecionar ativos. Por isso, deixo aqui o convite para conferir a Palavra do Estrategista e ler de Felipe Miranda seus principais nomes para o segundo semestre.