🔴 DIVIDENDOS DE ATÉ 13% COM ESTE FUNDO IMOBILIÁRIO – VEJA QUAL

Macunaíma já está imune, se hidrata e passa bem

12 de março de 2021
11:17 - atualizado às 20:13
Imagem: Shutterstock

As notícias sobre a morte do Brasil foram demasiadamente exageradas. 

O original de Mark Twain, escrito em primeira pessoa, era mais legal, mas a versão adaptada me pareceu pertinente.

Querem enterrar o Brasil antes da hora. Calma. O bicho está respirando ainda. Se insisto em nosso caráter macunaímico, da nossa tendência à complacência, à mediocridade, à milonga, também preciso pontuar uma certa natureza antifrágil. Se pararmos para pensar, é razoável que essas coisas se complementem em alguma medida. Em situações de fragilidade, um novo choque negativo acaba sendo positivo, porque precisamos voltar para a média. Se já estamos com a nota 1 e tomamos um novo soco, se temos a tendência à reversão à média, precisamos ir para o 5 — e note que isso é uma bela multiplicação. 

Macunaíma não deveria ser apenas o herói duplamente preguiçoso. Sua duplicação também poderia estar na cabeça, como a Hidra de Lerna — quando lhe cortavam o pescoço, criavam-se outras duas cabeças. 

Tenho uma confidência íntima: quando meu WhatsApp começa a ser abastecido por notícias como “este país não tem jeito”, “estou muito desanimado”, “você sabe como estão os preços de imóveis na Flórida?” e afins, tal como aconteceu na segunda-feira, sinto vontade de sair comprando ações. 

A verdade é que, objetiva e concretamente, a semana me parece terminar com um saldo líquido positivo, sem que os ativos brasileiros tenham reagido de acordo com isso. Esclareço: sem falsas ilusões ou expectativas ingênuas. Não foi uma goleada. Tomamos uns bons gols — aliás, nós mesmos fizemos gols contra o patrimônio.

Entendo que boa parte dessa reação negativa dos mercados brasileiros na semana se deva a paixões exageradas com que normalmente se interpretam acontecimento políticos, num país que vive de heróis e vilões personalistas e pesa pouco suas instituições; e a um gringo grande, que especula-se ser o GIC, na ponta vendedora, literalmente fritando algumas posições em ações. Essas decisões de vender uma cesta a qualquer preço vinda de investidores estrangeiros machucam bastante determinadas cotações; em especial daquelas ações de “segunda linha”, com menor liquidez. Daí infere-se até uma dificuldade adicional para bater o Ibovespa no curto prazo. A desmontagem de uma posição dessas em Petrobras, Vale e Itaú, por exemplo, leva poucos dias. Para se desfazer de empresas menores, precisamos de semanas.

Então, surgem distorções meio bizarras. Essa é a verdade. Vemos empresas já especulando sobre fechamento de capital. Outras pensam em dividendos extraordinários e recompras mais agressivas. Em termos mais práticos, apresentam-se aberrações como Mitre negociando a 4,5 vezes lucros estimados para 2022, BR Distribuidora a 10 vezes, Via Varejo a 0,4 vez EV/Sales, Lojas Renner abaixo de 20 vezes lucros, Unidas perdendo a referência de preço com Localiza, Locaweb abrindo em alta de 7% e fechando zerada, BTG vindo bem abaixo do preço do último aumento de capital, e por aí vai.

Do lado negativo, tivemos, a partir da decisão do ministro Edson Fachin sobre os processos envolvendo o ex-presidente Lula, aumento do risco de polarização no país, a possibilidade de lançamento de um candidato de esquerda mais competitivo, com potenciais consequências negativas sobre a gestão macroeconômica brasileira (e micro também), e o medo de que o presidente Jair Bolsonaro possa enveredar por práticas mais populistas diante de riscos maiores para sua reeleição.

Passado o susto inicial, porém, as notícias positivas parecem sobrepujar as mazelas, em termos de impacto sobre os ativos de risco. 

Ao menos momentaneamente, o yield dos Treasuries está mais bem comportado, amenizando a trajetória recente de subida — embora volte a apontar para cima nesta manhã.

Taxas de juro de mercado mais altas implicam maior atratividade relativa da renda fixa frente à variável. Além disso, como os Treasuries são a referência global de taxa livre de risco, a escalada de seus yields implica revisitar os valuations dos demais ativos. Ações ligadas a crescimento, cujos fluxos de caixa estão lá na frente, são particularmente afetadas, porque esses fluxos de caixa acabam sendo trazidos a valor presente por uma taxa mais alta. Se todo o valor vem da perpetuidade, sobra muito pouco para hoje quando os juros são altos. 

Semelhante ao ocorrido em 2013, quando o Fed sinalizou o “tapering”, o afunilamento das compras de títulos, a disparada dos yields lá fora era um risco importante para mercados emergentes e para ações em geral. Seu estancamento é fundamental para uma caminhada mais profícua dos ativos de risco. E isso, ao menos circunstancialmente, aconteceu nesta semana. 

Internamente, com tiro, porrada e bomba, foi aprovada a PEC Emergencial dentro de parâmetros bastante razoáveis. Fora do platonismo dos sonhadores, pode-se considerar uma vitória da equipe econômica. A PEC Emergencial ideal mora no mundo das ideias somente. No mundo real, roda a PEC Emergencial possível — e ela está bem ok. 

Isso retira pressão importante sobre os juros futuros e mantém a âncora fiscal relevante neste momento, que é o teto de gastos. Além disso, mostra uma certa vitória da agenda, despersonalizada, dado que o próprio presidente teria pessoalmente trabalhado para retirar policiais dos gatilhos para congelamento de salários. Como conversei com Lucas de Aragão, “só há uma agenda agora” e ela aponta para mais medidas fiscais e liberais do que o consenso de mercado supõe (com muita dificuldade, claro; não há ingenuidade aqui). 

Outro ponto marcante da semana foi a queda do dólar em relação ao real. Além de seguir o comportamento de outras moedas emergentes, nossa taxa de câmbio foi diretamente impactada pelo aumento das intervenções do Banco Central. Interessante notar que isso aconteceu mesmo num momento em que a volatilidade do real estava alinhada àquela de outras moedas emergentes — a cartilha típica prescreve a necessidade de atuação no câmbio quando há o chamado “fear of floating”; ou seja, os BCs devem atuar para suavizar um identificado excesso de flutuação, o que não foi o caso agora.

Há variadas explicações para a observada mudança de postura do Banco Central. Talvez seja um aumento do medo do pass through cambial (repasse cambial para os demais preços da economia), talvez seja o oferecimento de liquidez para um investidor estrangeiro demandando dólar, talvez seja uma tentativa heterodoxa de não validar um aumento da Selic superior a 50 pontos-base na próxima reunião do Copom.

Não consigo saber. É um exercício de arrogância se achar capaz de pensar com a cabeça do outro e entender as razões alheias. Como resultado prático, porém, a valorização do real amenizou a pressão sobre as taxas de juro de mercado. O corolário é a boa resposta, em termos de fundamentos, de nomes diretamente afetados pela dinâmica de juros, como consumo e varejo, incorporadoras, utilities e shoppings, entre outros.

Um terceiro elemento se refere a uma mudança nas diretrizes e na retórica do governo no combate à pandemia. O presidente Bolsonaro apareceu de máscara, intensificou a defesa da vacinação e, segundo a imprensa, um de seus filhos chegou a dizer que “nossa arma é a vacina”. Se a nova postura vem como resposta à elegibilidade do ex-presidente Lula ou ao aumento do número de mortes por Covid-19, não sei. Pragmaticamente, porém, significa algum resgate da racionalidade e do pragmatismo, da defesa do que realmente precisamos, uma caminhada em direção ao centro e um afastamento da ala mais ideológica. Enquanto poderia vir mais polarização, vimos, na margem, um pouco mais de moderação.

O sapo não pula por boniteza, mas por precisão. Há algo curioso com o Brasil. Para avançar, ele precisa de um susto, de olhar para o abismo, chegar bem perto e resolver se afastar. Trocamos o presidente da Petrobras para no dia seguinte encaminhar a MP de privatização da Eletrobras. Arriscamos o teto de gastos para depois passar a PEC Emergencial com quase todos os gatilhos. Tememos a polarização radical para acordar com flertes ao centro e à moderação, vindos dos dois lados.

No final, ainda somos os mesmos. Macunaímicos e antifrágeis.

Compartilhe

EXILE ON WALL STREET

A simplicidade é a maior das sofisticações na hora de investir

12 de setembro de 2022 - 18:55

Para a tristeza dos estudiosos das Finanças, num daqueles paradoxos do conhecimento, quanto mais nos aprofundamos, parece que cavamos cada vez mais no subterrâneo

EXILE ON WALL STREET

Marcas da independência: Vitreo agora é Empiricus Investimentos

5 de setembro de 2022 - 8:43

Com a mudança de nome, colhemos todos os benefícios de uma marca única, com brand equity reconhecido e benefícios diretos, imediatos e tangíveis ao investidor

EXILE ON WALL STREET

Além do yin-yang: Vale a pena deixar os fundos para investir em renda fixa?

2 de setembro de 2022 - 11:47

Investidores de varejo e institucionais migraram centenas de bilhões em ativos mais arrojados para a renda fixa, o maior volume de saída da história do mercado de fundos

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Encaro quase como um hedge

1 de setembro de 2022 - 13:27

Tenho pensado cada vez mais na importância de buscar atividades que proporcionem feedbacks rápidos e causais. Elas nos ajudam a preservar um bom grau de sanidade

EXILE ON WALL STREET

Complacência: Entenda por que é melhor investir em ativos de risco brasileiros do que em bolsa norte-americana

29 de agosto de 2022 - 11:25

Uma das facetas da complacência é a tendência a evitar conflitos e valorizar uma postura pacifista, num momento de remilitarização do mundo, o que pode ser enaltecido agora

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O elogio que nem minha mãe me fez

25 de agosto de 2022 - 12:02

Em mercados descontados que ainda carregam grandes downside risks, ganha-se e perde-se muito no intraday, mas nada acontece no dia após dia

EXILE ON WALL STREET

Degrau por degrau: Confira a estratégia de investimento dos grandes ganhadores de dinheiro da bolsa

24 de agosto de 2022 - 13:57

Embora a ganância nos atraia para a possibilidade de ganhos rápidos e fáceis, a realidade é que quem ganha dinheiro com ações o fez degrau por degrau

EXILE ON WALL STREET

Blood bath and beyond: Entenda o banho de sangue dos mercados financeiros — e as oportunidades para o Brasil

22 de agosto de 2022 - 12:25

Michael Hartnett, do Bank of America Merrill Lynch, alerta para um possível otimismo exagerado e prematuro sobre o fim da subida da taxa básica de juro nos EUA; saiba mais

EXILE ON WALL STREET

Você está disposto a assumir riscos para atingir seus sonhos e ter retornos acima da média?

19 de agosto de 2022 - 13:50

Para Howard Marks, você não pode esperar retornos acima da média se você não fizer apostas ativas. Porém, se suas apostas ativas também estiverem erradas, seus retornos serão abaixo da média

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Qual é o mundo que nos aguarda logo à frente?

18 de agosto de 2022 - 11:45

O mercado inteiro fala de inflação, e com motivos; afinal, precisamos sobreviver aos problemas de curto prazo. Confira as lições e debates trazidos por John Keynes

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar