Qual o legado de Giorgio Armani? Especialistas em luxo detalham o impacto do estilista, morto aos 91 anos
Da renovação da alfaiataria italiana ao pioneirismo do chamado luxo silencioso, impacto do estilista bilionário, morto aos 91 anos nesta terça-feira (4), vai muito além da elegância de seus desenhos

Morreu, nesta quinta-feira (4), o estilista Giorgio Armani. Sua passagem, confirmada em um comunicado da empresa que leva seu nome, encerra uma trajetória de 91 anos nos quais ele ajudou a ressignificar a elegância do design italiano e global.
“O Signor Armani, como sempre foi chamado com respeito e admiração pelos funcionários e colaboradores, faleceu pacificamente, cercado de seus entes queridos", diz o comunicado do Grupo Armani.
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Sua resiliência e ética de trabalho, que incluiu passagens por todos os desfiles de sua marca até poucos meses atrás, também foram destacadas pela empresa: "Incansável, trabalhou até os últimos dias, dedicando-se à empresa, às coleções, aos diferentes e sempre novos projetos”, comunicou a marca.
Bilionário e dono de um dos últimos impérios independentes da moda internacional, Armani expandiu seus negócios além das roupas em si, tornando símbolo de estilo em áreas como homewear e até empreendimentos imobiliários. Em 2024, o valor de mercado Armani foi avaliado entre 8 e 10 bilhões de euros pela Bloomberg Intelligence.
"Quando você entra em um hotel Armani ou quando vê uma campanha da linha Casa, a sensação é a mesma de olhar ou de vestir uma roupa dele: conforto, elegância natural, sem precisar provar nada para ninguém", diz Patrícia Diniz, professora do HUB de Luxo da ESPM
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A moda e o legado de Armani
Seu maior impacto e legado, no entanto, vai para a moda. Com um olhar renovado, sem romper com cânones, ele esteve na vanguarda da transformação da alfaiataria italiana da segunda metade do século 20. Tudo isso sem gritar, mantendo nos designs a sobriedade que também trazia marca de sua personalidade.
"A assinatura dele é absoluta e incontestável. Ele nunca quis ser só um estilista fazendo roupas bonitas, mas procurou desde o início criar um universo onde tudo falasse a mesma língua", diz a professora. "Ele foi da moda aos móveis, aos hotéis, restaurantes, cosméticos… e em tudo tem aquela estética marcante, que a gente bate o olho e reconhece na hora: minimalismo, sofisticação, aquela paleta neutra. O luxo silencioso, que tanto se fala agora."
De um lado, ele alterou as estruturas internas dos tradicionais cortes napolitanos, que alteraram permanentemente a moda masculina dos anos 1980 em diante. Mas sua visão se excedeu também para a moda feminina, que se apropria dos códigos dessa alfaiataria menos rígida com os, hoje icônicos, terninhos da Armani.
"Essa revolução que ele faz no mundo da moda foi muito sutil, ele não precisou gritar para conseguir implementar essa mudança. Ele saiu de uma alfaiataria clássica, que era muito pesada, muito masculina, e suavizou tudo. Ele foi tirando a estrutura, o peso, colocando fluidez, colocando tons mais terrosos, mais suaves, e, principalmente, trazendo muito conforto para unir com essa elegância", conta Patrícia. "Ele costumava dizer que 'a sociedade muda e eu mudo com ela'."
A seu favor, teria uma visão menos ligada a códigos de vestimenta tradicionais - longe de um conceito contemporâneo de androginia, ele borraria a linha entre o design para homens e mulheres. "Fui o primeiro a suavizar a imagem dos homens e a endurecer a imagem das mulheres", disse Armani mais tarde.
"O Giorgio Armani é o responsável por uma nova silhueta do homem, literalmente. Ele faz muito bem o feminino também, mas nos anos 1980, com o filme Gigolô Americano, ele se destaca fazendo uma nova silhueta de homem, um terno mais largado, mais solto, mais fluido. E ele cria então uma silhueta chamada Yuppie. O Yuppie basicamente vem dele", reflete Márcio Banfi, professor do Curso de Moda da Faculdade Santa Marcelina.
Posteriormente, pondera Banfi, o estilista assume essa elegância como assinatura. "Uma extrema elegância, muitos bordados, muita roupa, como eu disse, muita roupa sob medida, bordados incríveis, os vestidos longos, que vão invadir os red carpets e a alta costura, mais para esse lugar."
A moda que veio mais tarde
A trajetória profissional de Armani começa nos idos dos anos 1950. Nascido em 1934 em Piacenza, no norte da Itália, o estilista já estudara medicina e servira nas forças armadas italianas antes de ingressar na criatividade. Seu início se deu como vitrinista na loja La Rinascente, em Milão.
Menos de 10 anos depois, passou para o time de Nino Cerruti, onde passou a desenhar suas próprias peças. Por essa época, acabou conhecendo Sergio Galeotti, parceiro que o incentivou a abrir sua própria marca. A dupla o faria em 1975. Armani tinha então 40 anos.
"Ele começou tudo isso, sua marca, após vender seu próprio Fusca, porque ele acreditava realmente no seu sonho e esse sonho virou uma realidade gigante" diz Patrícia.
O design de Armani chamou atenção logo no primeiro desfile, em 1976, quando liberou as modelos para dançarem na passarela após o encerramento – com Galeotti como DJ.
Nos anos 1980, impulsionado também pela popularidade de Richard Gere, que usou seus ternos no filme Um Gigolô Americano, teria impacto principalmente sobre um público nos Estados Unidos. Dali em diante, os americanos passariam a adotar, pela década seguinte e além, os trajes Armani, tanto na moda masculina quanto na feminina, como um uniforme aspiracional, símbolo de status e poder.
Como relembra o The New York Times, o terno Giorgio Armani virou uniforme entre a elite americana, dos executivos de Wall Street e da Madison Avenue às agência de talento de Hollywood.
Com os anos 1990, ele ganharia holofotes pela proposta de terno que ficou conhecido como The Natural, que tinha um corte mais ajustado, com caimento leve, que ficou sendo uma referência por muitos anos.
Sucessão e o futuro da marca
Fora dos conglomerados de moda como LMVH e Kering, Armani deixa hoje um império sem herdeiros definidos. O italiano recusou todas as ofertas de compra da marca, mesmo de investidores bancos poderosos.
"Uma vez eu li ele dizendo em uma entrevista que um desses investidores que tentou comprar a marca disse em uma mesa: 'senhores, o Signor Armani não precisa de nós, vamos embora'", conta a professora.
Com sua morte, a expectativa de sucessão para a Giorgio Armani recai hoje sobre Leo Dell’Orco, responsável pela linha masculina da grife. Mas existe uma miríade de negócios que imprimem o nome e a chancela do italiano, como hotéis, restaurantes e imóveis, além de um teatro, um museu e até uma casa noturna.
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