Tenda (TEND3) sem milagres: por que a incorporadora ficou (mais uma vez) para trás no rali das ações do setor?
O que explica o desempenho menor de TEND3 em relação a concorrentes como Cury (CURY3), Direcional (DIRR3) e Plano & Plano (PLPL3) e por que há ‘má vontade’ dos gestores

As empresas que atuam no segmento imobiliário voltado à baixa renda vivem um momento favorável aos negócios e têm recomendações de compra da maioria dos analistas. Mas uma incorporadora em particular atrai um misto de interesse e ressalvas no mercado: a Tenda (TEND3).
Os papéis até que apresentam um bom desempenho nos primeiros meses do ano, com uma valorização da ordem de 20% na B3. Ainda assim, estão atrás de nomes como Cury (CURY3), Direcional (DIRR3) e Plano & Plano (PLPL3).
- VEJA MAIS: Momento pode ser de menos defensividade ao investir, segundo analista; conheça os ativos mais promissores para comprar em abril
Aliás, a Tenda sobe menos na bolsa mesmo sendo mais barata que as concorrentes — ou seja, em tese com maior potencial de valorização.
Os papéis da companhia negociam a cerca de 4 vezes o lucro estimado para 2025. Enquanto isso, algumas das concorrentes são negociadas entre 6,5x a 8,8x.
Para entender o que acontece com a Tenda, vale a pena entender o que tem atraído o mercado para as ações das incorporadoras mesmo no atual cenário de juros altos.
Blindagem contra a alta da Selic
O BTG Pactual fez uma pesquisa com 52 investidores e identificou uma “sólida exposição” ao segmento imobiliário no Brasil: 50% deles têm mais de 6% do capital no setor.
Leia Também
A preferência por incorporadoras de baixa renda é bastante clara: elas são a principal escolha de 78% dos entrevistados. Os shoppings e propriedades aparecem na preferência de 16% e as incorporadoras de média/alta renda, de apenas 6%.
As construtoras que atuam no segmento de entrada são apontadas como uma boa oportunidade de investimentos porque a maioria delas opera hoje com um nível de endividamento baixo. Além disso, elas ainda contam com o subsídio do programa governamental Minha Casa Minha Vida (MCMV).
Segundo um analista, o setor está de certa forma “blindado” dos ventos adversos da macroeconomia. Embora os juros altos afetem a oferta e a demanda, as empresas do setor — à exceção da MRV — estão desalavancadas. Assim, o encarecimento do serviço da dívida por conta dos juros elevados não é uma questão.
- VEJA MAIS: Como declarar os seus investimentos? Guia gratuito do Seu Dinheiro ensina como acertar as contas com o Leão
Já do lado da oferta, o FGTS está à disposição “faça chuva ou sol”. Em outras palavras, a Selic mais alta praticamente não afeta as incorporadoras que possuem maior exposição a projetos do Minha Casa Minha Vida.
A “má vontade” com a Tenda (TEND3)
O cenário, portanto, favorece as ações das incorporadoras que atuam com o público de baixa renda, e isso se reflete no desempenho das ações na B3.
Mas a coisa muda de figura quando chega a hora da Tenda. O desconto que o mercado exige das ações da companhia vem de um histórico operacional mais complicado em relação às concorrentes.
O mais recente ocorreu no fim de 2021, quando a empresa enfrentou uma explosão dos custos e perda de produtividade com a disparada da inflação no pós-pandemia. Um gestor que conhece bem a longa história da Tenda na bolsa admite que tem má vontade com o papel.
“Eu não sei onde vai dar ruim, se vão errar na execução ou no custo… Mas vai dar ruim… É preconceito mesmo”, disse.
Nesse sentido, qualquer ruído pode se transformar em algo grande quando acontece com a Tenda. “Acho que a ferida da perda de credibilidade ainda está aberta. Por outro lado, é uma oportunidade…”, avalia outro gestor, mais construtivo (sem trocadilho) com a empresa.
- VEJA TAMBÉM: O Lifestyle do Seu Dinheiro quer te manter bem-informado sobre as principais tendências de comportamento e consumo em uma newsletter especial
Na visão dele, existem dois tipos de crises numa companhia: quando o modelo de negócios deixa de funcionar e a empresa precisa ser reinventada; ou quando há erros de execução, por fatores internos ou externos.
“Nesse último caso não é caso de reestruturar o negócio, mas sim de ajeitar a execução e melhorar controles. E esta última situação foi a que viveu a Tenda em 2022. A empresa não mudou o modelo de negócios, não passa por uma reestruturação”, disse.
A provisão da discórdia
De certo modo, o mercado parecia disposto a dar um voto de confiança conforme a Tenda avançou na reestruturação após a crise no fim da pandemia.
A percepção de risco diminuiu de forma considerável após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2024 — logo depois disso, a ação chegou a superar os R$ 17.
Mas a alegria durou pouco.
Quando saíram os números do quarto trimestre, aconteceu o inverso. Isso porque a Tenda decidiu aumentar a provisão de inflação refletida em seus orçamentos, que passou de 5% para 7% ao ano.
- VEJA MAIS: Prazo para declaração do Imposto de Renda 2025 já começou; saiba como acertar as contas com o Leão
Além disso, a incorporadora lançou R$ 12,7 milhões em “provisões adicionais de eventuais e investimentos em inovação, visando mitigar o impacto da mão de obra nos custos de construção”. As provisões afetaram negativamente a margem e o lucro.
Pagando pelo conservadorismo?
Na visão de um gestor mais otimista com a Tenda, a companhia desta vez está sendo punida pelo conservadorismo.
“A companhia é criticada por ser muito agressiva e desta vez tentou dar uma sinalização positiva, de que se acontecesse algo como ocorreu em 2021 já estaria preparada, mas acabou sendo mal compreendida.”
No ano passado, com o temor de que a alta do dólar impactasse fortemente os preços de matérias-primas, como o aço e o concreto, o mercado estava muito preocupado com a possibilidade de que uma alta do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) levasse a um novo estouro de custos.
Para o analista de uma gestora, a gestão da Tenda fez o provisionamento para dizer ao mercado: “meu lucro está bom, estou dentro do guidance, podem ficar despreocupados porque estou deixando uma gordura aqui para queimar, caso o INCC volte a ficar acima de 10%.”
- VEJA MAIS: Momento pode ser de menos defensividade ao investir, segundo analista; conheça os ativos mais promissores para comprar em abril
Segundo ele, pensar assim faz sentido para a Tenda. Só que nenhuma outra companhia lançou qualquer provisão adicional. “Depois daquele estresse todo, o dólar voltou para R$ 5,80 e sumiu a discussão de preço de materiais.”
Quando a pressão sobre o dólar diminuiu e mesmo assim a Tenda veio com as provisões, parte do mercado interpretou o movimento como um sinal de que algo mais pode estar errado com a companhia.
“Essa leitura fez o papel descolar dos pares. As pessoas têm receio de qualquer coisa que saia do script”, disse o analista.
Tira-teima vem agora
Com a situação atual, de câmbio mais controlado e preço das commodities recuando, a expectativa é que a Tenda reverta essa provisão e as margens venham melhores no balanço do primeiro trimestre.
“Não existe problema no negócio outra vez. O caixa da empresa está aí para não deixar qualquer confusão na cabeça do mercado. O caixa não mente”, disse uma fonte de mercado.
A geração de caixa da Tenda no quarto trimestre foi recorde, de R$ 83,6 milhões, o que contribuiu para a redução do endividamento da companhia. A alavancagem medida pela relação entre dívida líquida corporativa e patrimônio líquido fechou o 4T24 em -10,3%, frente a um limite fixo de 15%. O resultado do primeiro trimestre sai em 8 de maio.
Prévia positiva
A prévia de resultados operacionais do primeiro trimestre divulgada pela Tenda no último dia 8 de abril não tira a razão de quem se mantém mais esperançoso com o papel.
A empresa registrou números fortes, com crescimento de 13% nas vendas líquidas e alta nos lançamentos — foram 10 novos projetos durante o trimestre, totalizando R$ 921 milhões, uma alta de 21%.
- VEJA MAIS: Vai declarar o Imposto de Renda pela primeira vez? GUIA GRATUITO ensina passo a passo para acertar as contas com o fisco
“Continuamos confiantes na trajetória da empresa, pois observamos sinais claros de que o pior já passou: a alavancagem está diminuindo, as margens e o ROE estão melhorando, e a Alea [braço para a construção de casas de madeira] está ganhando escala”, escreveram os analistas do BTG Pactual, reiterando recomendação de compra.
Eles também destacaram que a Tenda transferiu R$ 772 milhões em recebíveis para bancos no 1T25, “o que deve suportar uma forte geração de caixa para o trimestre”.
Os analistas do Itaú BBA, destacaram que a velocidade de vendas da Tenda atingiu 26% no primeiro trimestre de 2025, ante 23% no trimestre anterior, com lançamentos 15% acima do esperado.
O Itaú BBA tem recomendação market perform (equivalente a neutra) para as ações da companhia, com preço-alvo de R$ 15.
Para o Citi e o JP Morgan, os dados operacionais do primeiro trimestre mostraram um início de ano promissor. O relatório do Citi destacou que as unidades canceladas na Tenda mantiveram estabilidade, ficando em 9,7%, e apresentaram alívio na Alea, indo de 29,5% no fim de 2024 para 16,2%. “O desempenho alivia, desta forma, um ponto de preocupação do último trimestre”, escreveram os analistas.
O Citi tem recomendação de compra/alto risco para as ações da Tenda. O JP Morgan está overweight, também equivalente a compra.
Desde a divulgação da prévia, as ações da Tenda sobem 10% e na quinta-feira (17) fecharam a R$ 15,95.
O fator confiança
Mesmo assim, boa parte do mercado segue com o pé atrás: “Depois que quebrou a confiança, fica difícil de acreditar de novo. Alguns heróis ficam comprando o discurso da empresa de que está barato. Não acho que vale o risco”, disse outro gestor.
A Tenda é uma empresa de capital pulverizado, sem controlador definido. O principal acionista é a gestora de recursos Polo Capital, com 25,09% das ações. Outros investidores relevantes são Total Return Investment (7,18%) e Santander Brasil (6,27%). A empresa vale aproximadamente R$ 1,8 bilhão na bolsa.
Robotáxi: como vai funcionar o serviço que estreia nos EUA em 2026 — e veja como ele já roda na China
Lyft e Waymo lançam robotáxis em Nashville; enquanto isso, a Baidu já roda com o Yichi 06 na China e pressiona a Tesla a tirar o Cybercab do papel
“Migração para a bolsa pode chegar a R$ 1 trilhão com melhora de juros e inflação”, diz CEO da B3
Em participação no AGF Day, Gilson Finkelsztain afirmou que esse volume é possível com a volta de institucionais locais e estrangeiros
Natura (NATU3) anuncia a tão esperada venda da Avon International — e vai receber 1 libra por ela
A empresa fechou na quarta-feira (17) um acordo vinculante para vender a holding dos negócios da Avon International; confira os detalhes do negócio
Por que essa empresa ‘queridinha’ de Luiz Barsi e em recuperação judicial quer engordar o capital em até R$ 1 bilhão
Essa companhia prevê uma capitalização por subscrição privada de ações, ao preço de emissão de R$ 1,37 por ação, e por conversão de dívidas
“Desinteresse dos jovens pela faculdade é papo de redes sociais, não realidade”, diz CEO da Cogna (COGN3), dona da Anhanguera e outras
Em entrevista exclusiva ao Seu Dinheiro, o CEO da Cogna, Roberto Valério, questina a narrativa de que a Geração Z estaria “largando a faculdade” e fala sobre o avanço da inteligência artificial no mercado de trabalho
“Se não fosse pela nova regulação do EaD, a ação da Cogna (COGN3) teria subido mais”, diz CEO da empresa — que triplicou na bolsa em 2025
Em entrevista ao Seu Dinheiro, Roberto Valério falou sobre o impacto do novo marco regulatório para o ensino à distância (EaD), as avenidas de crescimento e preocupações do mercado sobre a recente aquisição da Faculdade de Medicina de Dourados
Azul (AZUL4) apresenta plano de reestruturação à Justiça dos EUA, e audiência de confirmação ganha data; veja os objetivos da aérea
Empresa brasileira pretende eliminar US$ 2 bilhões em dívidas em tempo recorde
Raízen (RAIZ4) e Cosan (CSAN3) avançam 3% com rumores de venda de ativos na Argentina
A venda faz parte da estratégia de reduzir a dívida da holding; no entanto, há o temor de que a instabilidade argentina possa adiar ou desvalorizar a negociação
JHSF (JHSF3) dispara mais de 10% na B3 após anunciar veículo de investimento bilionário; entenda o que pode mudar para as ações
A iniciativa prevê a venda de ativos já entregues ou em desenvolvimento em seus principais empreendimentos nos complexos Cidade Jardim e Boa Vista
Vale (VALE3) avança no controle de risco, e S&P eleva rating de crédito da mineradora
A agência indica que a companhia melhorou consideravelmente sua supervisão e seus controles nos últimos anos
Carros voadores colidem durante ensaio para show aéreo; veja o vídeo
Acidente durante preparação para o Changchun Air Show reacende debate sobre segurança dos carros voadores; ao menos uma pessoa ficou ferida
Cogna (COGN3) inicia processo de saída da Vasta da Nasdaq — e BTG enxerga pontos positivos na jogada
Caso a oferta seja bem-sucedida, a Vasta deixará de ser registrada na SEC e passará por deslistagem na Nasdaq
Nova bolsa de derivativos A5X capta R$ 200 milhões em terceira rodada de investimentos. O que isso significa para a B3 (B3SA3)?
Valor arrecadado pela plataforma será usado para financiar operações e ficar em dia com exigência do BC
Itaú BBA inicia cobertura das construtoras brasileiras de baixa renda e já tem sua favorita
Para o banco, as construtoras estão em seus melhores dias devido à acessibilidade no nível mais alto já registrado
99 Food acelera investimentos no Brasil e intensifica batalha com iFood pelo delivery de comida brasileiro
A companhia agora prevê investir R$ 2 bilhões no primeiro ano de operação. O que está por trás da estratégia?
Prio (PRIO3) recebe aval final do Ibama e obtém licença para instalação dos poços de Wahoo, no Espírito Santo
Com a autorização, a petroleira iniciará a interligação submarina (tieback) de até onze poços à unidade flutuante de Frade
BTG eleva preço-alvo da Vale (VALE3) e prevê dividendos extraordinários, mas não muda recomendação; é hora de comprar?
Estratégia comercial e redução de investimentos contribuem para elevação do preço-alvo do ADR para US$ 11, enquanto valuation e fluxo de caixa fazem o banco “pensar duas vezes”
Itaú BBA sobre Eletrobras (ELET3): “empresa pode se tornar uma das melhores pagadoras de dividendos do setor elétrico”
Se o cenário de preços de energia traçado pelos analistas do banco se confirmar, as ações da companhia elétrica passarão por uma reprecificação, combinando fundamentos sólidos com dividend yields atrativos
O plano do Google Cloud para transformar o Brasil em hub para treinamento de modelos de IA
Com energia limpa, infraestrutura moderna e TPUs de última geração, o Brasil pode se tornar um centro estratégico para treinamento e operação de inteligência artificial
Banco Master: quais as opções disponíveis após o BC barrar a venda para o BRB?
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, há quatro cenários possíveis para o Master