🔴 ONDE INVESTIR EM OUTUBRO? MELHORES AÇÕES, FIIS E DIVIDENDOS – CONFIRA AQUI

Lady Tempestade e a era do absurdo 

Os chineses passam a ser referência de respeito à propriedade privada e aos contratos, enquanto os EUA expropriam 10% da Intel — e não há razões para ficarmos enciumados: temos os absurdos para chamar de nossos

25 de agosto de 2025
19:58 - atualizado às 21:41
Imagem criada por IA com as bandeiras dos EUA, Brasil e China
Imagem criada por inteligência artificial - Imagem: DAll E / ChatGPT

É difícil de acreditar, mas aconteceu assim:

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

R. voltava de uma das bebedeiras na cidade em direção à sua fazenda. Deixou o bar em frente à igreja matriz após sucessivas doses de cachaça. Enfiou a mão no bolso e retirou uma porção de notas miúdas amassadas para pagar a conta. Entrou no carro cambaleando, deu a partida e desceu a íngreme rua que ligava a praça central à rodovia. Estava treinado em dirigir alcoolizado. Por sorte, competência ou uma mistura das duas coisas, percorreu sem mais sobressaltos a estrada asfaltada até entrar à direita, margeando aquele ponto de ônibus que servia de ponto de referência para demarcar a ruela de terra que conduzia até sua casa.

Duas conversões à direita e três porteiras depois, viu sua égua no pasto do vizinho. Foi tomado pela raiva. Era a quarta vez que aquilo acontecia. Caminhou apressadamente até o quarto de casa, abriu a gaveta do criado-mudo onde ficava seu revólver 38 de cano longo e voltou para o quintal, em direção ao pasto ao lado. O barulho da bota pesada batendo contra o chão de madeira acordou seu pai, que foi para o alpendre, já antecipando algo fora do comum.

  • VEJA TAMBÉM: Descubra como os gigantes do mercado estão investindo: o podcast Touros e Ursos traz os bastidores toda semana; acompanhe aqui

R. esbravejou contra o equino:

“Tempestade, eu tinha alertado ocê pra num ir pro terreno do lado. Essa comida não é sua. Sua teimusia vai custá sua vida. Eu vou ti matá.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Ergueu o braço trêmulo apontando o revólver na direção da égua Tempestade, fechou o olho esquerdo, como alguém que tentava adequar a direção do disparo, quando foi subitamente interrompido pela voz de seu pai:

Leia Também

“Ocê qué matá, ocê mata. Mais cê vai arrependê.”

Ouviu-se um disparo. Cachorros latindo, cavalos aprumando e relinchando. Tempestade ainda estava lá, incólume, de orelhas em pé, “impávida que nem Muhammad Ali”, como se orgulhosamente afrontasse o atirador. 

R., mesmo se sentindo desafiado pela égua que, em sua cabeça, deliberadamente resistia a obedecer suas orientações de não pular a cerca, acabou atirando em direção ao céu. Se por falta de coragem ou medo de se arrepender, não sabemos, mas poupou a vida de Tempestade. A relação entre os dois, porém, nunca mais foi a mesma. R. não montou mais em Tempestade, que acabou fugindo em definitivo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A era do absurdo

A cada dia que passa, me convenço um pouco mais de que o filósofo John Gray tem razão. Não estamos mais na era da tragédia, como ele temia há alguns meses. Agora, penetramos a era do absurdo. Para Gray, vivemos o pós-liberalismo, uma situação em que a tolerância (ou, na adaptação em palavras da Economia Institucional, “instituições inclusivas”, aquelas responsáveis pelo desenvolvimento a longo prazo) já não é mais admitida.

Ok, talvez os niilistas apontem a falta de novidade no tema. A existência, em si, é um grande absurdo. Não tenho bons contra-argumentos. Mas havemos de concordar que a coisa deu acentuada, vai?

Adam Posen escreveu excelente artigo, publicado em 19 de agosto, com a pergunta “Who profits in a post-american world?” (Algo como: quem lucra num mundo pós-americano?). Posen lembra como, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA promoviam a segurança dos oceanos e dos ares, garantiam que a propriedade privada não sofreria expropriação, estabeleciam e validavam regras de comércio internacional, ofereciam ativos estáveis em dólares para transações globais. Atuavam, fundamentalmente, como grandes fornecedores de seguro. Os demais países, que pagavam prêmios por esses seguros, recebiam maior segurança física, contratual e transacional. Esse comércio ajudava na direção da busca pela prosperidade. 

Para o autor, Trump reconfigura esse ordenamento. Os EUA passam de provedores de seguro para extratores de lucro. Ameaçam fechar o acesso ao mercado norte-americano, exigem compras vultosas de equipamento militar norte-americano para continuar provendo esse seguro (sob o triplo do preço), requerem compras de ativos dos EUA em geral, e investimentos por lá. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Os fornecedores de seguro de ontem hoje são vistos como ameaça, nos quais não se pode mais confiar. Em entrevista ao Estadão, Gabriel Petrus, professor de Relações Institucionais na Sciences Po Paris, o tarifaço é uma das decisões mais anticapitalistas da história dos EUA. Nas palavras dele: “me lembro que há 20 anos se falava das dificuldades de se negociar com a China, pela falta de confiança em contratos. Agora, os papéis se inverteram. Os chineses ganharam reputação, e os EUA, perderam.”

Os chineses passam a ser referência de respeito à propriedade privada e aos contratos, enquanto os EUA expropriam 10% da Intel! Se essa não é a era do absurdo, de que mais precisamos?

Além de Trump

Não há razões para ficarmos enciumados. Temos os absurdos para chamar de nossos.

Lula defende a soberania nacional, mas quer mesmo é manter o problema, não resolvê-lo. Se as sanções puderem continuar ou até piorar, melhor pra ele. O governo, que estava sem rumo e sem discurso, ganha a narrativa de defesa da soberania. Postura de excepcional estadista, na retórica — só na retórica.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O sobrenome que pregava por Deus, pátria e família articula medidas estrangeiras contra a própria pátria e confere poucas demonstrações de respeito filial, ao sugerir que a ingratidão paterna seja autodespejada em orifícios originalmente destinados a outra função fisiológica.

O STF, que seria o guardião da Constituição, a afronta com medidas de censura prévia e falta de comedimento a partir de um gigantismo desproporcional. Na decisão mais recente, coloca o sistema financeiro brasileiro entre a cruz e a espada. Se os bancos, cuja maioria, claro, mantém e gostaria de manter, relações com EUA não acatarem determinação norte-americana, podem ser potencialmente sancionados por lá; se acatarem, podem ser castigados aqui. Bem-vindo ao mundo do inexequível. 

Editorial de hoje do Estadão destaca pesquisa do Instituto Sivis, cujo levantamento mostra 47% dos estudantes brasileiros relutantes em discutir assuntos controversos. O ambiente universitário, supostamente constituído para promover a ampliação do conhecimento e avanços na ciência, caminhando entre teses e antíteses, argumentos e contra-argumentos, hipóteses nulas e alternativas, perde sua dialética. Com ela, morre também sua própria essência.

Sem o farol da ciência, quem poderá nos defender?

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Num mundo sem heróis e assombrado pelos demônios, restam-nos o juro caindo lá fora, um dólar mais fraco no mundo (historicamente bom para mercados emergentes), uma Selic abaixo de 12% ao final de 2026 e a expectativa de que possamos construir uma opção mais racional, reformista e responsável com dinheiro público em 2026. É pouco, mas é o que tem pra hoje — e pode ser suficiente.

Como resume Woody Allen, “a realidade é dura, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um bom bife."

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje

7 de outubro de 2025 - 8:26

No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso

7 de outubro de 2025 - 7:37

Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard

6 de outubro de 2025 - 20:00

O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)

6 de outubro de 2025 - 7:54

No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas

DÉCIMO ANDAR

Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?

5 de outubro de 2025 - 8:00

Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A volta do campeão na ação do mês, o esperado caso da Ambipar e o que move os mercados nesta sexta-feira (3)

3 de outubro de 2025 - 8:06

Por aqui, investidores ainda avaliam aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil; no exterior, todos de olho no shutdown nos EUA, que suspendeu a divulgação de dados econômicos

SEXTOU COM O RUY

Tragédia anunciada: o que a derrocada da Ambipar (AMBP3) ensina sobre a relação entre preço e fundamento

3 de outubro de 2025 - 7:03

Se o fundamento não converge para o preço, fatalmente é o preço que convergirá para o fundamento, como no caso da Ambipar

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

As críticas a uma Petrobras ‘do poço ao posto’ e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (2)

2 de outubro de 2025 - 8:04

No Brasil, investidores repercutem a aprovação do projeto de isenção do IR e o IPC-Fipe de setembro; no exterior, shutdown nos EUA e dados do emprego na zona do euro

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Bolhas de pus, bolhas de sabão e outras hipóteses

1 de outubro de 2025 - 20:00

Ainda que uma bolha de preços no setor de inteligência artificial pareça improvável, uma bolha de lucros continua sendo possível

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Um ano de corrida eleitoral e como isso afeta a bolsa brasileira, e o que move os mercados nesta quarta-feira (1)

1 de outubro de 2025 - 7:59

Primeiro dia de outubro tem shutdown nos EUA, feriadão na China e reunião da Opep

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Tão longe, tão perto: as eleições de 2026 e o caos fiscal logo ali, e o que mexe com os mercados nesta terça-feira (30)

30 de setembro de 2025 - 7:53

Por aqui, mercado aguarda balança orçamentária e desemprego do IBGE; nos EUA, todos de olho nos riscos de uma paralisação do governo e no relatório Jolts

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Eleições de 2026 e o nó fiscal: sem oposição organizada, Brasil enfrenta o risco de um orçamento engessado

30 de setembro de 2025 - 7:18

A frente fiscal permanece como vetor central de risco, mas, no final, 2026 estará dominado pela lógica das urnas, deixando qualquer ajuste estrutural para 2027

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: O Fed e as duas economias americanas

29 de setembro de 2025 - 20:00

Um ressurgimento de pressões inflacionárias ou uma fraqueza inesperada no mercado de trabalho dos EUA podem levar a autarquia norte-americana a abortar ou acelerar o ciclo de queda de juros

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

B3 deitada em berço esplêndido — mas não eternamente — e o que mexe com os mercados neste segunda-feira (29)

29 de setembro de 2025 - 7:54

Por aqui, investidores aguardam IGP-M e Caged de agosto; nos EUA, Donald Trump negocia para evitar paralisação do governo

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Pequenas notáveis, saudade do que não vivemos e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (26)

26 de setembro de 2025 - 8:07

EUA aguardam divulgação do índice de inflação preferido do Fed, enquanto Trump volta a anunciar mais tarifas

SEXTOU COM O RUY

A microcap que garimpa oportunidades fora da bolsa e vem sendo recompensada por isso

26 de setembro de 2025 - 6:02

Há ótimas empresas fora da bolsa, mas não conseguimos nos tornar sócios delas; mas esta pequena empresa negociada na B3, sim

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Mais água no feijão e o que sobra para os acionistas minoritários, e o que mexe com os mercados nesta quinta (25)

25 de setembro de 2025 - 7:54

Por aqui temos prévia da inflação e reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN); nos EUA, PIB do segundo trimestre e mais falas de dirigentes do Fed

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O amor pode estar do seu lado

24 de setembro de 2025 - 20:00

Não serei eu a querer estragar o story telling de ninguém, mas o (eventual) rali eleitoral no Brasil sequer começou

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A chama que não se apaga das debêntures incentivadas e o que esperar dos mercados hoje

24 de setembro de 2025 - 7:48

Após renovar recorde ontem, Ibovespa tem dia de agenda esvaziada; destaques são fluxo cambial no Brasil e falas de dirigentes do Fed nos EUA

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Dois coelhos com uma cajadada só, um grande encontro e o que move os mercados nesta terça-feira (23)

23 de setembro de 2025 - 8:17

Investidores acompanham hoje ata do Copom, início da Assembleia Geral da ONU e discurso do presidente do Fed

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar