Entre o rali eleitoral e o malabarismo fiscal: o que já está nos preços?
Diante de uma âncora fiscal frágil e de gastos em expansão contínua, a percepção de risco segue elevada. Ainda assim, fatores externos combinados ao rali eleitoral e às apostas de mudança de rumo em 2026, oferecem algum suporte de curto prazo aos ativos brasileiros.

No Brasil, a semana tende a ser particularmente intensa, tanto no campo econômico quanto no político. No front dos indicadores, o destaque fica para a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, prevista para hoje (2), que deve oferecer uma leitura mais clara sobre os efeitos da política monetária contracionista — com a Selic estacionada em 15% ao ano — no ritmo de desaceleração da atividade.
Cabe reforçar que, como já destacamos, a trajetória de cortes na Selic pode começar ainda neste ano, mas a decisão dependerá não apenas da evolução dos indicadores locais nas próximas leituras, como também do rumo da política monetária norte-americana, que segue como variável determinante no cenário.
No ambiente internacional, a atenção rapidamente se volta para um calendário carregado de dados que podem redefinir as apostas sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed). O grande foco será a divulgação do relatório de emprego de agosto (payroll), marcada para sexta-feira (5), visto como peça-chave para a reunião do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) em 17 de setembro.
- LEIA TAMBÉM: Conheça a carteira que já rendeu +380% do Ibovespa e participe da comunidade no Telegram para receber análises e relatórios exclusivos sem custos
A leitura fraca do payroll de julho, somada às expressivas revisões negativas de meses anteriores, fortaleceu a visão de que qualquer novo sinal de enfraquecimento no mercado de trabalho praticamente consolidará a expectativa de início de um ciclo de cortes de 25 pontos-base já em setembro.
O contexto é ainda mais relevante diante das declarações recentes de Jerome Powell em Jackson Hole, que reforçaram a disposição do Fed em adotar uma postura mais flexível, o que sustenta a aposta de investidores em uma mudança iminente na política monetária norte-americana.
O rali eleitoral no Brasil
De volta ao Brasil, no campo político, o centro das atenções concentra-se no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), evento que promete intensificar as tensões institucionais e adicionar ruídos ao já delicado relacionamento com os Estados Unidos.
Leia Também
Nos últimos dias, esse quadro político voltou a se sobrepor aos fatores externos e passou a direcionar de forma mais clara o humor dos ativos locais. O estopim foi a pesquisa AtlasIntel/Bloomberg, que trouxe uma reviravolta significativa na disputa presidencial de 2026: em um eventual segundo turno, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aparece com 48,4% das intenções de voto, superando o presidente Lula, que registra 46,6% — uma inversão em relação a julho, quando o petista liderava.
A força de Tarcísio se refletiu também no levantamento da Paraná Pesquisas em São Paulo, onde ele abriu 12,8 pontos percentuais sobre Lula (50,4% a 37,6%). Esse resultado é relevante não apenas por São Paulo ser o maior colégio eleitoral e motor econômico do país, mas também porque representa um desempenho superior ao de Jair Bolsonaro em 2022 no estado. Caso esse padrão se reproduza em outros redutos de eleitorado parecido, como Paraná e Santa Catarina, o equilíbrio nacional pode ser alterado de forma significativa.
- Leia também: Entre cortes de juros e barulhos de Brasília: por que o desafio brasileiro não dá trégua
Ao mesmo tempo, a pesquisa Atlas também mostrou nova queda na popularidade de Lula em agosto, indicando que o ganho momentâneo de apoio após o embate tarifário com Trump teve efeito passageiro. O contínuo foco do eleitorado para pautas de segurança pública e combate à violência — bandeiras tradicionalmente associadas à direita — reforça a percepção de que a alternância de poder em 2026 está cada vez mais no radar, o que explica a reação positiva imediata do mercado.
A percepção dominante entre os investidores é relativamente cristalina: cresce a expectativa de que o Brasil possa caminhar para uma mudança política em 2026, na direção de uma agenda mais reformista, com maior disciplina fiscal e sintonia com o mercado. Esse fator, somado aos valuations ainda convidativos e a um posicionamento técnico favorável, tem dado sustentação adicional ao rali recente.
- CONFIRA: O Seu Dinheiro liberou acesso gratuito a análises de mercado aprofundadas e recomendações de investimento; confira como turbinar seus ganhos
A questão fiscal
É verdade que os ativos locais também se beneficiam de ventos externos — como a fraqueza global do dólar e a perspectiva de cortes de juros tanto no Brasil quanto nos EUA, com a divulgação da taxa de desemprego norte-americana hoje ajudando a calibrar o grau de resiliência do mercado de trabalho. O impulso eleitoral, que ganhou corpo nas últimas semanas, completa esse quadro.
Ainda assim, os riscos permanecem evidentes e não podem ser ignorados. Dois pontos se destacam: a possibilidade de agravamento das tensões diplomático-comerciais entre Brasil e EUA, em meio ao embate tarifário, e a persistente fragilidade fiscal doméstica, marcada por gastos obrigatórios em alta e ausência de uma âncora clara.
Em julho, o setor público consolidado apresentou um déficit primário de R$ 66,6 bilhões — resultado superior ao esperado e sensivelmente pior que o registrado no mesmo mês do ano passado. No acumulado, a dívida bruta do governo geral alcançou 77,6% do PIB (ou 89,9% pela métrica do FMI) e segue em trajetória ascendente, sinalizando um quadro de deterioração estrutural das contas públicas.
A situação fica ainda mais delicada com o Projeto de Lei Orçamentária de 2026, encaminhado ao Congresso logo após o fechamento do mercado na última sexta-feira. O documento prevê R$ 19,8 bilhões em cortes lineares de benefícios tributários, ainda sem definição de quais setores seriam atingidos, além de receitas adicionais projetadas a partir de medidas que ainda estão em negociação. Embora o governo estime um superávit primário de R$ 34,5 bilhões (0,25% do PIB) em 2026, as projeções de mercado apontam para um déficit próximo de R$ 100 bilhões.
Diante de uma âncora fiscal frágil e de gastos em expansão contínua, a percepção de risco segue elevada. Ainda assim, fatores externos, como a perspectiva de cortes de juros pelo Federal Reserve e a fraqueza do dólar global, combinados ao rali eleitoral e às apostas de mudança de rumo em 2026, oferecem algum suporte de curto prazo aos ativos brasileiros.
Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança
Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução
Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)
No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas
Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?
Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores
A volta do campeão na ação do mês, o esperado caso da Ambipar e o que move os mercados nesta sexta-feira (3)
Por aqui, investidores ainda avaliam aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil; no exterior, todos de olho no shutdown nos EUA, que suspendeu a divulgação de dados econômicos