Uma rotação setorial está em andamento — e ela conversa com o ‘Trump Trade’
Rotação setorial coincide com esgotamento da valorização das ‘big techs’ em Wall Street e inflação desacelerando nos EUA

Na semana passada, o mercado de ações dos EUA passou por uma esperada rotação setorial, fenômeno aguardado por muitos investidores.
O Dow Jones Industrial Average, que reúne empresas tradicionais da economia americana, e o Russell 2000, composto por empresas de menor capitalização, apresentaram um desempenho notável.
Este resultado contrasta com o S&P 500 e o Nasdaq Composite, que vinham liderando os ganhos ao longo do ano, mas que corrigiram recentemente.
Nos últimos meses, o mercado de ações foi dominado pelas "Sete Magníficas" — grandes empresas de tecnologia que se destacaram como líderes de mercado.
No entanto, essa tendência começou a mostrar sinais de esgotamento.
- As melhores recomendações do analista Matheus Spiess na palma da sua mão: newsletter especial revela uma recomendação por dia; acesse aqui.
O que provoca essa rotação setorial?
Investidores, motivados por um relatório de inflação mais moderado do que o esperado, começaram a redirecionar sua atenção dessas gigantes da tecnologia para ações anteriormente negligenciadas, diversificando assim seus portfólios para outros setores.
Leia Também
Anatomia de um tiro no pé: Ibovespa busca reação após tarifas de Trump
A possibilidade de uma desaceleração na inflação permitindo ao Federal Reserve iniciar um ciclo de redução das taxas de juros em setembro representa uma excelente notícia para a maior parte do mercado acionário.
As empresas de menor capitalização, que geralmente possuem maior endividamento em comparação às grandes corporações tecnológicas com amplas reservas de caixa, tendem a se beneficiar particularmente dessas expectativas de cortes nas taxas.
Historicamente, os ciclos de afrouxamento monetário nem sempre favorecem as ações de menor capitalização em relação às de maior capitalização.
No entanto, desta vez, o contexto proporcionou um impulso significativo. O Russell 2000 teve um desempenho extraordinário nos cinco dias subsequentes ao dado, comparável apenas aos períodos de recuperação pós-crise.
Investidores corrigem a rota
Essa rotação foi provavelmente intensificada pela superexposição anterior aos grandes nomes da tecnologia, que estavam sobrevalorizados.
Desde o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022, as "Sete Magníficas" se tornaram a aposta recorrente dos investidores.
A influência crescente dessas plataformas tecnológicas passou a ser percebida como desproporcional.
De acordo com a pesquisa global de gestores de fundos do Bank of America em julho, 78% dos entrevistados apontaram o "Long Magnificent Seven" como o investimento mais popular do mundo pelo 16º mês consecutivo, pouco antes da rotação de mercado.
A saída desse investimento era apenas uma questão de tempo.
Para contextualizar, no ponto mais baixo em julho, o Russell 2000 estava sendo negociado ao nível mais baixo em relação ao S&P 500 desde 1999.
Isso desencadeou uma reação em cadeia, com o ETF Russell 2000 registrando dias de fortes entradas de capital.
Além disso, as vendas no varejo superaram as expectativas, sugerindo que o consumo dos clientes permanece robusto.
A temporada de resultados, que está ganhando tração, também contribuiu para essa mudança.
Os indicadores apontam que os resultados corporativos se tornarão mais diversificados nos próximos trimestres.
Embora as grandes empresas de tecnologia continuem a registrar crescimento nos lucros, é possível que esse crescimento desacelere, enquanto as empresas que estavam em desvantagem nos trimestres anteriores podem começar a melhorar.
Essa dispersão no crescimento dos lucros dentro do índice está ajudando a justificar essa redistribuição dos investimentos.
E por quanto tempo essa correção pode persistir?
Dada a expressiva diferença de desempenho e a disparidade de valuations entre grandes e pequenas capitalizações, há um considerável potencial de crescimento para as pequenas capitalizações. No entanto, a continuidade desse impulso é incerta.
Eventos negativos, como um aumento na inflação, podem desencadear uma correção desproporcional nos mercados. Com base nos dados de inflação do último trimestre, os investidores parecem não ter grandes preocupações no momento.
Simultaneamente, as ações de Big Tech têm uma real possibilidade de recuperação. Este segmento pode continuar a se valorizar, impulsionado pelo entusiasmo em torno da inteligência artificial, um fenômeno semelhante à ascensão da Internet na segunda metade da década de 1990.
Naquele período, até meados de 1999, as ações de pequena capitalização frequentemente apresentavam desempenho inferior às de grande capitalização. Quando a bolha tecnológica estourou em 2000, seguida pela recessão de 2001, o cenário mudou.
Após a crise das empresas pontocom, o índice Russell 2000 superou o índice Russell Top 50, composto por empresas de megacapitalização, em 217% ao longo dos doze anos seguintes. Essa recuperação histórica é um dos fatores que atualmente alimentam o otimismo no mercado.
Trazendo essa realidade para a política
Ao mesmo tempo, a percepção crescente de que uma nova presidência de Trump poderia estar ajudando a rotação nos setores de mercado está ganhando força.
Essa influência deve-se, em parte, à sua conhecida preferência por políticas de desregulamentação e expansão fiscal.
Conforme discutido anteriormente, a probabilidade de Trump retornar à Casa Branca é considerada a mais provável ao longo deste ano.
Essa expectativa também inclui a possibilidade de os republicanos obterem a maioria no Senado.
O mercado está começando a perceber que o cenário de investimento poderia ser drasticamente alterado caso Trump reassuma o controle, juntamente com a Câmara e o Senado.
Atualmente, o chamado "Trump Trade" está sendo negociado a preços elevados, refletindo a antecipação de uma possível reviravolta favorável aos democratas após a convenção partidária.
Esse contexto destaca a importância de se manter atento às dinâmicas políticas e suas implicações nos mercados, especialmente em um período de mudanças significativas.
Mas o que é exatamente o 'Trump Trade'?
A política econômica proposta por Trump, centrada na redução de impostos corporativos e na desregulamentação, provavelmente impulsionará o mercado de ações, continuando a tendência de crescimento observada desde sua ascensão política no último ano.
No entanto, suas políticas fiscais expansionistas, combinadas com a promessa de novas tarifas, podem impactar negativamente os títulos de dívida, causando uma inclinação mais acentuada na curva de juros e valorização do dólar — principalmente em relação a moedas de mercados emergentes.
Além disso, o aumento de tarifas sobre produtos chineses pode agravar as tensões comerciais e elevar os preços de produtos importados, gerando pressão inflacionária.
A política de excepcionalismo americano de Trump poderia isolar a China e distanciar os EUA da Otan, enquanto restrições à imigração poderiam aumentar os salários e, por consequência, a inflação.
Em termos microeconômicos, é provável que o setor de defesa receba mais investimentos e incentivos, beneficiando indústrias como a de aço e minério de ferro.
O setor petrolífero também estaria em uma posição vantajosa, enquanto a menor regulamentação poderia favorecer o setor financeiro.
Acontece que tivemos um fato novo
Neste contexto, a decisão do presidente dos EUA, Joe Biden, de não buscar a reeleição tem dominado as manchetes internacionais.
Embora essa notícia já fosse amplamente esperada e refletida nas previsões de mercado, ela levanta questões sobre mudanças nas probabilidades políticas futuras.
Agora, o foco está em quem os democratas escolherão como candidato, sendo Kamala Harris a favorita.
É crucial avaliar se essa escolha alterará significativamente as políticas propostas, o que parece improvável, e como isso afetará as chances dos democratas nas eleições presidenciais e parlamentares. Detalhes concretos sobre esses aspectos surgirão com o tempo.
Em uma carta pessoal, Biden expressou sua gratidão a Harris e a endossou como sucessora. Ele aposta que Harris pode energizar a campanha democrata na que será a corrida presidencial mais curta da história.
Notavelmente, a campanha de Harris arrecadou US$ 81 milhões nas primeiras 24 horas, estabelecendo um recorde histórico para a maior arrecadação em tão curto período por qualquer candidato.
Com Harris posicionada como a principal candidata à nomeação do partido, as especulações agora se voltam para quem ela escolherá como vice-presidente.
Embora eu pessoalmente não acredite que isso altere o resultado antecipado de uma vitória de Trump, é essencial lembrar que só existem cenários e probabilidades, não certezas.
Dependendo das estratégias eleitorais dos democratas, ainda é possível evitar uma "onda republicana".
A falta de urgência em precificar os riscos de um segundo mandato de Trump reflete a predominância das políticas do Fed sobre considerações fiscais.
Um corte esperado nas taxas de juros em setembro poderia minimizar o impacto de possíveis políticas fiscais expansivas no próximo ano.
Paralelamente, devemos continuar observando fenômenos de rotação setorial ao longo do semestre, semelhantes aos recentemente testemunhados.
Sem avalanche: Ibovespa repercute varejo e Galípolo depois de ceder à verborragia de Trump
Investidores seguem atentos a Donald Trump em meio às incertezas relacionadas à guerra comercial
Comércio global no escuro: o novo capítulo da novela tarifária de Trump
Estamos novamente às portas de mais um capítulo imprevisível da diplomacia de Trump, marcada por ameaças de última hora e recuos
Felipe Miranda: Troco um Van Gogh por uma small cap
Seria capaz de apostar que seu assessor de investimentos não ligou para oferecer uma carteira de small caps brasileiras neste momento. Há algo mais fora de moda do que elas agora? Olho para algumas dessas ações e tenho a impressão de estar diante de “Pomar com ciprestes”, em 1888.
Ontem, hoje, amanhã: Tensão com fim da trégua comercial dificulta busca por novos recordes no Ibovespa
Apetite por risco é desafiado pela aproximação do fim da trégua de Donald Trump em sua guerra comercial contra o mundo
Talvez fique repetitivo: Ibovespa mira novos recordes, mas feriado nos EUA drena liquidez dos mercados
O Ibovespa superou ontem, pela primeira vez na história, a marca dos 141 pontos; dólar está no nível mais baixo em pouco mais de um ano
A história não se repete, mas rima: a estratégia que deu certo no passado e tem grandes chances de trazer bons retornos — de novo
Mesmo com um endividamento controlado, a empresa em questão voltou a “passar o chapéu”, o que para nós é um sinal claro de que ela está de olho em novas aquisições. E a julgar pelo seu histórico, podemos dizer que isso tende a ser bastante positivo para os acionistas.
Ditados, superstições e preceitos da Rua
Aqueles que têm um modus operandi e se atêm a ele são vitoriosos. Por sua vez, os indecisos que ora obedecem a um critério, ora a outro, costumam ser alijados do mercado.
Feijão com arroz: Ibovespa busca recuperação em dia de payroll com Wall Street nas máximas
Wall Street fecha mais cedo hoje e nem abre amanhã, o que tende a drenar a liquidez nos mercados financeiros internacionais
Rodolfo Amstalden: Um estranho encontro com a verdade subterrânea
Em vez de entrar em disputas metodológicas na edição de hoje, proponho um outro tipo de exercício imaginativo, mais útil para fins didáticos
Mantendo a tradição: Ibovespa tenta recuperar os 140 mil pontos em dia de produção industrial e dados sobre o mercado de trabalho nos EUA
Investidores também monitoram decisão do governo de recorrer ao STF para manter aumento do IOF
Os fantasmas de Nelson Rodrigues: Ibovespa começa o semestre tentando sustentar posto de melhor investimento do ano
Melhor investimento do primeiro semestre, Ibovespa reage a trégua na guerra comercial, trade eleitoral e treta do IOF
Rumo a 2026 com a máquina enguiçada e o cofre furado
Com a aproximação do calendário eleitoral, cresce a percepção de que o pêndulo político está prestes a mudar de direção — e, com ele, toda a correlação de forças no país — o problema é o intervalo até lá
Tony Volpon: Mercado sobrevive a mais um susto… e as bolsas americanas batem nas máximas do ano
O “sangue frio” coletivo também é uma evidência de força dos mercados acionários em geral, que depois do cessar-fogo, atingiram novas máximas no ano e novas máximas históricas
Tudo sob controle: Ibovespa precisa de uma leve alta para fechar junho no azul, mas não depende só de si
Ibovespa vem de três altas mensais consecutivas, mas as turbulências de junho colocam a sequência em risco
Ser CLT virou ofensa? O que há por trás do medo da geração Z pela carteira assinada
De símbolo de estabilidade a motivo de piada nas redes sociais: o que esse movimento diz sobre o mundo do trabalho — e sobre a forma como estamos lidando com ele?
Atenção aos sinais: Bolsas internacionais sobem com notícia de acordo EUA-China; Ibovespa acompanha desemprego e PCE
Ibovespa tenta manter o bom momento enquanto governo busca meio de contornar derrubada do aumento do IOF
Siga na bolsa mesmo com a Selic em 15%: os sinais dizem que chegou a hora de comprar ações
A elevação do juro no Brasil não significa que chegou a hora de abandonar a renda variável de vez e mergulhar na super renda fixa brasileira — e eu te explico os motivos
Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA
Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária
Rodolfo Amstalden: Não existem níveis seguros para a oferta de segurança
Em tese, o forward guidance é tanto mais necessário quanto menos crível for a atitude da autoridade monetária. Se o seu cônjuge precisa prometer que vai voltar cedo toda vez que sai sozinho de casa, provavelmente há um ou mais motivos para isso.
É melhor ter um plano: Ibovespa busca manter tom positivo em dia de agenda fraca e Powell no Senado dos EUA
Bolsas internacionais seguem no azul, ainda repercutindo a trégua na guerra entre Israel e o Irã