A tragédia que se abateu sobre o litoral norte de São Paulo durante o Carnaval interrompeu muita coisa: descansos, acessos, estradas, mas principalmente vidas.
Pelo menos 46 mortes foram confirmadas até a manhã desta Quarta-Feira de Cinzas. Dezenas de pessoas seguem desaparecidas e milhares estão desabrigadas na esteira de uma modalidade de catástrofe que se repete ano após ano, a cada temporada em uma região diferente do Brasil.
Um dos descansos interrompidos foi o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele passava o Carnaval em uma base naval na Bahia quando as imagens da destruição no litoral norte paulista passaram a rivalizar em atenção com as dos desfiles das escolas de samba.
Na manhã da segunda-feira, 51º dia de seu terceiro mandato, Lula deixou a Bahia, fez uma escala em São José dos Campos e em seguida desceu a Serra do Mar com destino a São Sebastião. A cidade histórica foi a mais afetada pelas fortes chuvas.
Lula e sua mensagem de união
Lá, Lula apareceu ao lado de antagonistas declarados como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto.
Lula, como é de amplo conhecimento, é do PT. Tarcísio foi ministro de Jair Bolsonaro e derrotou o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na disputa pelo governo paulista. Felipe Augusto, por sua vez, é tucano.
O presidente fez questão de dar destaque à situação. "Queria mostrar a vocês uma cena que há muito tempo vocês não viam: um governador, um presidente, um prefeito, sentados numa mesa em função de algo comum que atinge a todos nós", disse Lula ao pegar o microfone.
"Juntos seremos mais fortes e São Sebastião será recuperada", afirmou.
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Comparações com Bolsonaro
Lula nem precisou mencionar seu antecessor. Os partidários do presidente rapidamente passaram a comparar o comportamento do petista com o de Bolsonaro. Mais especificamente com a reação do ex-presidente às chuvas na Bahia em dezembro de 2021.
Na ocasião, Bolsonaro passava férias em Santa Catarina e manifestou a expectativa de não ter que interromper o descanso para ir à Bahia, então governada pelo petista Rui Costa, atual ministro-chefe da Casa Civil.
O fato é que, pertinentes ou não, as comparações não desfazem o rastro de destruição de catástrofes anunciadas.
Lula retornou à Bahia ainda na segunda-feira. Na terça-feira, 52º dia de seu mandato, usou as redes sociais para divulgar as ações adotadas pelo governo para mitigar o sofrimento da população atingida até aquele momento.
Seja no âmbito federal, estadual ou local, porém, tragédias como a do último fim de semana elevam a pressão por ações - e não apenas reações - capazes de ir além dos discursos de união.