Quem achou que trocando os fundos de ações pelos de renda fixa no ano passado estaria fazendo bom negócio deve estar se lamentando ao olhar o desempenho dos multimercados.
De acordo com dados consolidados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), os fundos multimercados macro tiveram o melhor desempenho da indústria em 2022.
Segundo a Anbima, a rentabilidade acumulada dos multimercados macro alcançou 17% no ano passado, desempenho acima dos principais indicadores de referência. Essa classe de fundos utiliza uma estratégia baseada em indicadores e cenários macroeconômicos, daí o nome.
Os multimercados livres, que não possuem obrigatoriamente o compromisso de concentração em nenhuma estratégia específica, não foram tão bem quanto seus pares, mas, ainda assim, acumularam ganhos de 9,4% em 2022.
Porém, os dados mostram que os investidores não aproveitaram essa rentabilidade exuberante. Isto porque os fundos multimercados também foram os que sofreram maior resgate de toda a indústria de fundos no ano passado, com R$ 87,6 bilhões.
"Isto mostra a aversão a risco que os investidores têm tido nos últimos meses, muito em função do período pré-eleitoral, e lá fora também, com discussões de inflação e guerra", afirmou Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima.
No total, a indústria de fundos teve o pior resultado de captação líquida da série histórica iniciada em 2002, com R$ 162,9 bilhões em resgates. Veja os detalhes no gráfico:

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Fundos de ações também tiveram fuga
Em meio a este cenário de busca por segurança, os fundos de ações também sofreram com resgate da ordem de R$ 70,5 bilhões. Mas, diferente do que aconteceu nos multimercados, essa classe teve a pior rentabilidade da indústria.
O destaque negativo ficou com os fundos que investem em ações estrangeiras, que tiveram queda de 13,9% no ano passado. Logo atrás, vieram os fundos de ações small caps, com -9,1%, e os fundos de ações livre, que recuaram 7%. Vale lembrar que o Índice Bovespa fechou o ano em alta de 4,7%.
Veja no gráfico a rentabilidade acumulada em 2021 e em 2022:

Para onde foi o dinheiro?
Com tantos resgates na indústria de fundos de investimento, inclusive nos fundos de renda fixa, vem o questionamento: para onde foi o dinheiro?
O vice-presidente da Anbima afirma que é difícil "carimbar" a grana, mas os dados mostram que parte dele está indo para títulos de renda fixa isentos de imposto, como CRIs, CRAs, LCIs e LCAs.
"O investidor tem um tratamento fiscal melhor quando compra títulos diretamente quando se compara com um fundo de renda fixa", afirmou Rudge.
Abaixo, uma comparação entre o estoque de títulos privados isentos versus a captação líquida dos fundos de renda fixa ao longo de 2022.

O que esperar da indústria de fundos em 2023
Se em 2022 a indústria de fundos sofreu, o que esperar do ano que se inicia sob um governo com novas diretrizes econômicas?
Rudge afirma que, no momento, é difícil ter clareza sobre a continuidade ou não do movimento de resgates. Mas ele afirma que as condições para que haja uma virada passam por um "arrefecimento dos ânimos" e uma maior previsibilidade sobre qual será o arcabouço fiscal do novo governo.
De acordo com o vice-presidente da Anbima, o aumento dos gastos do novo governo, aprovado ainda na transição, gerou muita incerteza em relação aos rumos da inflação e dos juros, condições essenciais para fomentar a captação da indústria de fundos.
"Seria muito importante para o governo entender a importância de ter equilíbrio nas contas para que os investidores saibam que é um governo fiscalmente responsável, preocupado em manter a inflação e os juros baixos", afirmou Rudge.
A expectativa de Rudge é que, com o fim da transição e os ministros empossados, haja melhora na sinalização sobre o que o novo governo pretende.