Atos golpistas em Brasília não mudaram otimismo do investidor estrangeiro com o Brasil – pelo menos por enquanto
Ataques do último domingo (8) foram lidos como evento isolado e reação fortaleceu Lula. Gringos seguem de olho na agenda econômica
![Montagem mostra rostos estampados em cédulas de moda estrangeira | ações estrangeiras | estrangeiro](https://media.seudinheiro.com/uploads/2018/11/montagem-dinheiro-estrangeiro-715x402.jpg)
Desde o começo de 2022, já se notava uma diferença nas preferências políticas do investidor local em comparação ao estrangeiro.
Enquanto boa parte dos representantes brasileiros do mercado financeiro doméstico mantinha o casamento político-ideológico com Jair Bolsonaro (PL), os gringos preferiam flertar com Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Estrangeiros preferem Lula a Bolsonaro. Sou acusado de petista quando digo isso, mas não matem o mensageiro", disse inúmeras vezes Rogério Xavier, um dos nomes mais respeitados do mercado — e responsável pelo X no nome da gestora SPX.
Essa postura mais condescendente dos investidores globais em relação ao novo governo foi colocada à prova no último domingo, em meio aos atos golpistas que assolaram a Praça dos Três Poderes em Brasília. Mas, em linhas gerais, tudo segue como antes — a confiança não foi golpeada.
Leia mais:
- Biden fala com Lula por telefone sobre ataques em Brasília — saiba o que os dois conversaram
- Vai voltar? Bolsonaro prepara retorno ao Brasil em meio à pressão por extradição dos EUA
Para o estrangeiro, a resposta firme do Executivo, Legislativo e Judiciário contra a barbárie vista nas invasões reforçou a solidez da democracia brasileira, uma vez que até mesmo políticos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro repudiaram a baderna.
Quer uma prova? Na sessão da segunda-feira (9), pós-tentativa de golpe, os investidores internacionais ingressaram com R$ 400 milhões na B3 — as cenas de destruição rodaram o mundo, mas não frearam o fluxo estrangeiro.
Os investidores institucionais, por sua vez, retiraram R$ 307 milhões, e os individuais, R$ 152 milhões — duas categorias que são formadas quase que inteiramente por brasileiros. O Ibovespa ficou praticamente estável na segunda, fechando em leve alta de 0,15%; o dólar avançou 0,40%.
Além disso, um dos principais medidores de risco-país, o Credit Default Swap (CDS) de 5 anos — que vem em trajetória de queda desde o fim das eleições —, continuou em baixa nesta semana, indicando que a chance de o Brasil não honrar suas dívidas reduziu.
Mais que isso, as análises dão conta de que não só a democracia, mas o presidente Lula em si sai fortalecido. E se o petista pode fazer do limão uma limonada, como deve ficar o prognóstico para a economia e o mercado financeiro, do ponto de vista dos investidores estrangeiros?
A fim de entender esse sentimento após os atos de domingo, o Seu Dinheiro foi atrás de fontes ligadas ao investimento estrangeiro que pudessem interpretar os últimos acontecimentos.
Estrangeiro vê evento isolado
A principal preocupação expressada pelos gringos era a possibilidade de uma reação em cadeia dos atos golpistas.
Apesar de não ser possível dizer que esse risco esteja completamente descartado, dado que os apoiadores de Bolsonaro seguem convocando novas manifestações, a impressão dos investidores é a de que os ataques de domingo foram um evento isolado, que foi contido pelas autoridades e repudiado pela sociedade civil.
Para Daniela da Costa-Bulthuis, gestora para o Brasil da holandesa Robeco, uma das maiores casas de investimentos da Europa, os eventos de domingo não mudaram a percepção dos investidores estrangeiros sobre o Brasil.
“Na verdade, até reforça a visão de que o Brasil é uma democracia e que a sociedade valoriza suas instituições”, afirmou Daniela ao Seu Dinheiro.
Ela destaca, também, que os atos podem levar o governo Lula a juntar mais aliados no Congresso.
Na visão do economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, a ameaça à presidência de Lula poderia fazê-lo abraçar as pautas mais à esquerda da sua agenda econômica, como maiores gastos com bem-estar social, um papel maior do Estado na economia e uma atuação reduzida das forças de mercado.
Mas o fato de Lula ter pedido aos seus ministros para manter a agenda de anúncios do novo governo pode ter contribuído para acalmar os investidores.
“O governo, aparentemente, não vai usar esse evento para postergar o anúncio de medidas de ajuste, e é isso que o mercado espera. A questão fiscal, das reformas, continua sendo a variável chave para o estrangeiro”, disse Paulo Clini, diretor de investimentos da Western Asset.
Novos problemas, antigos desafios
A invasão dos palácios dos três poderes da República encontra paralelos com a do Capitólio dos Estados Unidos, ocorrida há dois anos: ambas foram organizadas e financiadas por opositores do governo recém-eleito, inconformados com a derrota nas urnas.
Devido às semelhanças embrionárias entre os dois ataques, o investidor estrangeiro espera também que a reação da economia e dos mercados seja parecida com o que houve por lá.
“Naquela ocasião, depois do evento, as consequências econômicas para o crescimento dos EUA foram quase nulas, não houve um impacto relevante. Então, devemos ter a mesma coisa no Brasil”, avaliou Clini.
Portanto, as preocupações continuam sendo as mesmas de antes dos protestos: a agenda econômica.
“Fala-se em estabelecer uma nova âncora fiscal, micropolíticas para fomentar a indústria, crescimento sustentável, proteção ambiental e realizar uma reforma tributária. Todos esses temas são muito atraentes para investidores globais de longo prazo que esperam ver os problemas estruturais do Brasil sendo resolvidos”, disse Daniela.
A equipe de estratégia de ações do Julius Baer aguarda por sinais de que o governo conseguirá acalmar as preocupações fiscais, o que poderia fazer as ações brasileiras se valorizarem.
Mas existe o risco de o governo Lula falhar na execução do plano e passar a tentar corrigir desequilíbrios por meio de intervenções no mercado.
“Isso aconteceu em gestões passadas e acabou em recessão. Cometer os mesmos erros do passado é o maior risco da atual administração”, avaliou a gestora da Robeco.
Unificação é dificuldade para estrangeiro
Ainda que o investidor estrangeiro refute a ideia de que os eventos de domingo sejam “divisores de águas”, ele frisa o desafio imposto ao governo Lula de promover a paz no País.
O Goldman Sachs ressalta que as tensões podem afetar a governabilidade e diz que tanto situação quanto oposição precisam trabalhar para “sanar as profundas brechas políticas e sociais abertas durante a campanha”.
Mas é importante notar que a análise dos gringos vale para um ambiente que não permitirá novas manifestações golpistas. Caso haja recorrência dos protestos violentos, a visão muda.
“Se o país ficar ainda mais dividido ou se o novo governo perder tempo aumentando a animosidade com os oponentes em vez de construir pontes e trabalhar em um plano econômico robusto, isso pode funcionar contra o ânimo dos empresários e dos investidores”, destacou Daniela.
*Colaborou Victor Aguiar
Como os trens do Rio de Janeiro se transformaram em uma dívida bilionária para a Supervia que o BNDES vai cobrar na Justiça
O financiamento foi concedido à concessionária em 2013, para apoiar a concessão do serviço de transporte via trens urbanos na região metropolitana do estado
Lula sanciona criação de título de renda fixa isento de IR para pessoa física para estimular indústria
O projeto apresentado pelo governo federal que institui a LCD foi aprovado neste ano pelo Congresso Nacional
Casa própria ameaçada no Minha Casa Minha Vida? Com orçamento pressionado, governo deve voltar a apertar regras e limitar financiamentos de imóveis usados
O governo estuda alterar as regras para priorizar o financiamento de imóveis novos
Mega-Sena acumula e Lotofácil faz mais um milionário, mas o maior prêmio da noite vem de outra loteria
Enquanto a Mega-Sena e a Quina “se fazem” de difíceis, a Lotofácil continua justificando o nome e distribuindo prêmios na faixa principal
Tributação dos super ricos é prioridade para o Brasil, diz Haddad na reunião do G20
Cooperação internacional é a aposta da área financeira nesta edição do encontro das 20 maiores economias do mundo
Compras na internet: como a “fraude amigável” está gerando um prejuízo de US$ 100 bilhões por ano para o varejo dos EUA
O golpe acontece quando o consumidor faz uma compra na internet com cartão de crédito e, quando recebe o produto ou serviço, solicita o estorno
A privatização da Sabesp (SBSP3) não foi suficiente? Tarcísio agora fala em vender a Petrobras (PETR4) e o Banco do Brasil (BBAS3), mas não tem a caneta
O governador de São Paulo acredita que há espaço para avançar nas privatizações de companhias estatais no Brasil inteiro
Eleições nos EUA não devem afetar relações com o Brasil, diz Haddad; ministro busca parceiros ‘além da China’ e fala em acordos com União Europeia
Haddad destacou que não existe transformação ecológica sem novos instrumentos financeiros e cita os ‘green bonds’ do governo
Depois de mais de 2 anos encalhada, loteria mais difícil de todos os tempos sai pela primeira vez e paga o segundo maior prêmio da história
Abandonado numa caderneta de poupança, o segundo maior prêmio individual da história das loterias no Brasil renderia cerca de R$ 1,5 milhão por mês
Banco Central vai seguir na regulação independente do PL sobre os criptoativos, diz técnico da autoridade monetária
Segundo Nagel Paulino, BC pretende concluir a sua estratégia regulatória de criptoativos até o início de 2025