A tartaruga e os quatro elefantes: Entenda se é hora de comprar ações com a possibilidade de queda dos juros
Nenhuma outra força é tão importante quanto os juros. Além de afetar a economia, as taxas afetam diretamente o preço dos ativos

Em um conjunto de dimensões distantes e de segunda mão, em um plano astral que nunca foi feito para voar, as névoas estelares ondulantes oscilam e se separam...
A tartaruga, cujo nome é Grande A'Tuin, vem nadando lentamente pelo abismo interestelar, com gelo de hidrogênio em seu enorme e antigo casco marcado com crateras de meteoros. Através de olhos do tamanho do mar, incrustados de remela e poeira de asteroides, ela olha fixamente para o Destino.
Num cérebro maior que uma cidade, com lentidão geológica, ela pensa apenas no peso.
A maior parte do peso é, obviamente, explicada por Berilia, Tubul, Grande T'Phon e Jerakeen, os quatro elefantes gigantes sobre cujos ombros largos e bronzeados repousa o Mundo.
Trecho retirado do livro The Colour of Magic, de Terry Pratchett
A Turtle Theory ou Teoria da Tartaruga tornou-se popularmente conhecida pelo escritor britânico de ficção científica Terry Pratchett em Discworld, sua série de 41 romances. De acordo com a teoria, o mundo é suportado por quatro elefantes gigantes que, por sua vez, ficam em cima de uma enorme tartaruga, chamada Grande A’Tuin, que nada lentamente pelo espaço.
É difícil e maluco imaginar uma tartaruga sustentando quatro elefantes no meio do universo, mas para facilitar a imaginação de todos, seria mais ou menos isso daqui:
Leia Também
Trump na sala de aula: Ibovespa reage a tarifas de 50% impostas pelos EUA ao Brasil
Rodolfo Amstalden: Nem cinco minutos guardados
A imagem dos quatro elefantes que sustentam o mundo é uma metáfora para explicar como o universo é mantido em equilíbrio a partir de uma série de forças que se conectam entre si. A tartaruga que sustenta os quatro elefantes é, portanto, a força que sustenta a estabilidade do mundo.
As taxas de juros e o mercado financeiro
Trazendo essa metáfora para o mercado financeiro, nenhuma outra força é tão importante quanto as taxas de juros. Além de afetar a economia em si, as taxas de juros têm múltiplas consequências sobre o preço dos ativos.
Quando as taxas de juros sobem, todos os preços dos ativos devem cair. É quase uma lei da natureza.
O primeiro efeito do juro se traduz em um aumento na despesa financeira das empresas. A empresa tem lá uma dívida atrelada ao CDI; quando os juros sobem, ela passa a pagar mais para o banco e sobra menos dinheiro para o acionista ou para investir em crescimento. O lucro cai.
O aumento do juro também implica menor consumo por parte das famílias naquela economia. As famílias compram menos. As empresas têm suas receitas caindo. O lucro também cai em função da menor demanda, somando-se ao impacto negativo gerado pela redução de despesa financeira.
Quanto menor o lucro, menor a predisposição do investidor em pagar ‘caro’ pela empresa. Simples, certo? O investidor paga mais caro por empresas que crescem lucro.
A coisa vai ficando ainda pior quando o lucro menor das empresas e o juro alto retiram a atratividade do investimento em ações. O momento ruim causa uma maciça migração da renda variável para a renda fixa.
Esse tem sido o Brasil dos últimos 2 anos.
- Leia também: Roberto Campos Neto se precipitou na última reunião do Copom? Gestor da XP e ex-Banco Central respondem
O Brasil dos juros
Com o juro básico indo a 13,75%, voltamos ao paraíso do CDI. Se você pode ganhar mais de 1% ao mês sem sair do seu sofá, sem risco de crédito e com liquidez diária, esse parece mesmo ser o caminho natural.
Pessoa física vende Bolsa todo dia e com isso cria-se um ciclo vicioso em que os gestores de fundo precisam se preocupar mais em honrar resgates do que propriamente selecionar as novas ações para comprar.
O cotista pede o resgate, o gestor é obrigado a vender; essa pressão vendedora empurra as ações ainda mais pra baixo; o cotista se aborrece e pede um novo saque. Um loop ruim e difícil de ser quebrado.
Vale a pena comprar ações?
Você pode estar concluindo que o momento é péssimo para comprar ações, certo? Não, errado.
Se a elevação do juro é péssima para ativos de risco, o contrário é verdadeiro: a queda do juro é ótima para ativos de risco.
Depois de ter subido de 2% para 13,75%, o consenso ta voltando a acreditar na queda do juro brasileiro. Difícil cravar o momento exato em que isso vai acontecer. Nem quero passar essa vergonha, na verdade. Mas é difícil imaginar um juro desse por muito mais tempo do que já está com tanta empresa já sofrendo as consequências disso.
Sem falar da inadimplência da pessoa física. Devemos chegar ao final do ano com 72 milhões de pessoas negativadas, o equivalente a 40% da população ativa. É muita coisa.
- Não dê dinheiro à Receita Federal à toa: você pode estar deixando de receber uma boa restituição do Imposto de Renda por algum equívoco na hora da declaração. Clique aqui e baixe GRATUITAMENTE um guia completo para não errar em nada na hora de acertar as contas com o Leão.
A tartaruga e a bolsa brasileira
Diante desse cenário, me parece que a tartaruga gigante que nada pelo mercado financeiro terá que mudar sua trajetória.
Se o juro recuar, vai ficar mais difícil sustentar múltiplos de preço tão descontados como os atuais.
Nesse gráfico da Brasil Capital, é possível observar como o múltiplo Preço/Lucro do Ibovespa se encontra em patamares bem abaixo da média histórica, mesmo fatiando o índice entre empresas de commodities e empresas locais.
Me parece que o atual patamar de preços aliado a possibilidade de queda de juro, torna o momento atual assimétrico.
Isso não significa que a bolsa vai subir de forma rápida e relevante. A não ser que o governo enderece nosso problema secular, que é a trajetória da dívida - o que não me parece o caso.
Mas na minha opinião, o investidor corajoso que está comprando ações hoje, após um árduo período colhendo prejuízo, me parece ter mais probabilidade de ganhar do que de perder.
Posso estar completamente errado, mas é justamente isso o que tenho feito na minha carteira pessoal:
A hora que a tartaruga mudar de direção, eu já estarei posicionado para me beneficiar dela.
Um abraço,
Matheus Soares
Felipe Miranda: Troco um Van Gogh por uma small cap
Seria capaz de apostar que seu assessor de investimentos não ligou para oferecer uma carteira de small caps brasileiras neste momento. Há algo mais fora de moda do que elas agora? Olho para algumas dessas ações e tenho a impressão de estar diante de “Pomar com ciprestes”, em 1888.
Ontem, hoje, amanhã: Tensão com fim da trégua comercial dificulta busca por novos recordes no Ibovespa
Apetite por risco é desafiado pela aproximação do fim da trégua de Donald Trump em sua guerra comercial contra o mundo
Talvez fique repetitivo: Ibovespa mira novos recordes, mas feriado nos EUA drena liquidez dos mercados
O Ibovespa superou ontem, pela primeira vez na história, a marca dos 141 pontos; dólar está no nível mais baixo em pouco mais de um ano
A história não se repete, mas rima: a estratégia que deu certo no passado e tem grandes chances de trazer bons retornos — de novo
Mesmo com um endividamento controlado, a empresa em questão voltou a “passar o chapéu”, o que para nós é um sinal claro de que ela está de olho em novas aquisições. E a julgar pelo seu histórico, podemos dizer que isso tende a ser bastante positivo para os acionistas.
Ditados, superstições e preceitos da Rua
Aqueles que têm um modus operandi e se atêm a ele são vitoriosos. Por sua vez, os indecisos que ora obedecem a um critério, ora a outro, costumam ser alijados do mercado.
Feijão com arroz: Ibovespa busca recuperação em dia de payroll com Wall Street nas máximas
Wall Street fecha mais cedo hoje e nem abre amanhã, o que tende a drenar a liquidez nos mercados financeiros internacionais
Rodolfo Amstalden: Um estranho encontro com a verdade subterrânea
Em vez de entrar em disputas metodológicas na edição de hoje, proponho um outro tipo de exercício imaginativo, mais útil para fins didáticos
Mantendo a tradição: Ibovespa tenta recuperar os 140 mil pontos em dia de produção industrial e dados sobre o mercado de trabalho nos EUA
Investidores também monitoram decisão do governo de recorrer ao STF para manter aumento do IOF
Os fantasmas de Nelson Rodrigues: Ibovespa começa o semestre tentando sustentar posto de melhor investimento do ano
Melhor investimento do primeiro semestre, Ibovespa reage a trégua na guerra comercial, trade eleitoral e treta do IOF
Rumo a 2026 com a máquina enguiçada e o cofre furado
Com a aproximação do calendário eleitoral, cresce a percepção de que o pêndulo político está prestes a mudar de direção — e, com ele, toda a correlação de forças no país — o problema é o intervalo até lá
Tony Volpon: Mercado sobrevive a mais um susto… e as bolsas americanas batem nas máximas do ano
O “sangue frio” coletivo também é uma evidência de força dos mercados acionários em geral, que depois do cessar-fogo, atingiram novas máximas no ano e novas máximas históricas
Tudo sob controle: Ibovespa precisa de uma leve alta para fechar junho no azul, mas não depende só de si
Ibovespa vem de três altas mensais consecutivas, mas as turbulências de junho colocam a sequência em risco
Ser CLT virou ofensa? O que há por trás do medo da geração Z pela carteira assinada
De símbolo de estabilidade a motivo de piada nas redes sociais: o que esse movimento diz sobre o mundo do trabalho — e sobre a forma como estamos lidando com ele?
Atenção aos sinais: Bolsas internacionais sobem com notícia de acordo EUA-China; Ibovespa acompanha desemprego e PCE
Ibovespa tenta manter o bom momento enquanto governo busca meio de contornar derrubada do aumento do IOF
Siga na bolsa mesmo com a Selic em 15%: os sinais dizem que chegou a hora de comprar ações
A elevação do juro no Brasil não significa que chegou a hora de abandonar a renda variável de vez e mergulhar na super renda fixa brasileira — e eu te explico os motivos
Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA
Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária
Rodolfo Amstalden: Não existem níveis seguros para a oferta de segurança
Em tese, o forward guidance é tanto mais necessário quanto menos crível for a atitude da autoridade monetária. Se o seu cônjuge precisa prometer que vai voltar cedo toda vez que sai sozinho de casa, provavelmente há um ou mais motivos para isso.
É melhor ter um plano: Ibovespa busca manter tom positivo em dia de agenda fraca e Powell no Senado dos EUA
Bolsas internacionais seguem no azul, ainda repercutindo a trégua na guerra entre Israel e o Irã
Um longo caminho: Ibovespa monitora cessar-fogo enquanto investidores repercutem ata do Copom e testemunho de Powell
Trégua anunciada por Donald Trump impulsiona ativos de risco nos mercados internacionais e pode ajudar o Ibovespa
Um frágil cessar-fogo antes do tiro no pé que o Irã não vai querer dar
Cessar-fogo em guerra contra o Irã traz alívio, mas não resolve impasse estrutural. Trégua será duradoura ou apenas mais uma pausa antes do próximo ato?