Desde que a Rede D’Or (RDOR3) anunciou a compra da operadora de saúde SulAmérica, a Qualicorp (QUAL3) se viu no meio do fogo cruzado — e sem saber muito bem para qual lado correr.
Isso porque a Rede D'Or detém 29,98% das ações ordinárias da operadora, com amplos poderes políticos e temores de um eventual conflito entre a fatia detida pela rede de hospitais e SulAmérica.
Enquanto a operação ainda estava sendo analisada pelos órgãos regulatórios, boa parte do mercado acreditava em uma eventual venda da Qualicorp, mas o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Susep (Superintendência de Seguros Privados) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não pediram diretamente para que isso acontecesse.
A única restrição imposta ao negócio veio da ANS — que pediu que a Rede D'Or, por meio dos seus representantes no conselho, deixasse de ter poder em votações que envolvessem assuntos relacionados à SulAmérica. Além disso, a Qualicorp estaria proibida de fechar acordos de exclusividade com a nova operadora do grupo.
A solução encontrada pela rede de hospitais foi anunciada nesta segunda-feira (02). A Rede D’Or informou que irá transferir 70% da sua participação na Qualicorp para uma holding, que será gerida pela Prisma — uma gestora independente de investimentos alternativos.
Com isso, a Rede D'Or ficará com apenas 6% do capital social da empresa sob o seu guarda-chuva, e todos os direitos políticos e econômicos dos ativos ficarão por conta da gestora contratada.
As ações da companhia reagem de forma positiva: na máxima do dia, chegaram a disparar mais de 20%, mas perderam força ao longo da sessão — ao fim do pregão, QUAL3 registrava ganhos de 7,61%, a R$ 5,94.
Qualicorp: mudanças na gestão
A mudança implica em alterações no quadro de conselheiros da Qualicorp. O presidente do conselho de administração, Heráclito de Brito Gomes Júnior, Mauro Teixeira Sampaio e Martha Maria Soares Savedra, renunciaram aos seus cargos. Elton Carlucci será o novo CEO da companhia.
Para os analistas do JP Morgan, as mudanças são positivas para a Qualicorp, uma vez que solucionam o impasse com relação ao alinhamento dos conselheiros e colocam um executivo experiente do setor para comandar a companhia.
O banco americano lembra que o antigo CEO, Bruno Blatt, não entregou os resultados esperados em termos de crescimento e rentabilidade — o que deve resultar em um novo plano de crescimento para os próximos anos.
Já no conselho, os analistas lamentam a saída de Heráclito de Brito Gomes Júnior, mas acreditam em um quadro de conselheiros mais independente com a nova organização.