Um está de chegada, o outro de saída. Mas o encontro não aconteceu por acaso entre um monte de caixas de mudança. Fernando Haddad e Paulo Guedes confirmaram nesta quinta-feira (08) que se reuniram em Brasília.
Cotado para assumir o Ministério da Fazenda no próximo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-prefeito de São Paulo qualificou como “excelente” o encontro com o ministro da Economia de Jair Bolsonaro (PL).
Guedes, por sua vez, admitiu ter conversado com a equipe de transição de governo sobre a necessidade de aprimorar o teto de gastos.
A reunião na visão de Haddad
Haddad afirmou que a reunião com Guedes tratou de um "plano geral de voo".
"Passamos em revista vários assuntos importantes. Obviamente que uma reunião de uma hora e meia não é possível esmiuçar todos os assuntos, mas foi excelente reunião. Fui muito bem recebido, definimos agenda de trabalho a partir da semana que vem", disse Haddad depois do encontro.
Apesar das especulações, não houve até o momento confirmação oficial de nenhum futuro ministro por parte de Lula até o momento. Haddad afirmou ter ido ao Ministério da Economia na condição de interlocutor do grupo de transição.
De acordo com ele, as agendas da semana que vem terão mais foco nas secretarias da Pasta. "Concluídos os relatos do grupo de transição, a gente precisa sentar com secretários das pastas para que a gente saiba a rotina de trabalho, as agendas que estavam em curso", afirmou o favorito para a Fazenda.
O Ministério da Economia deve ser desmembrado em três: Fazenda, Planejamento e Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).
"É uma transição normal, natural, a gente quer que seja mais suave possível", afirmou Haddad.
Neutralidade fiscal
Haddad defendeu o conceito de neutralidade fiscal. "O que a gente procurou passar na transição é conceito de neutralidade fiscal. Ou seja, a despesa em proporção ao PIB de 2023 não pode ser menor que a despesa em proporção ao PIB de 2022, para que não chegue em dezembro do ano que vem com problemas de dezembro deste ano", afirmou o ex-ministro da Educação em conversa com a imprensa ao término do encontro.
Ele também reiterou ser a favor de uma reforma tributária e da construção de um novo arcabouço fiscal no País, mas sem detalhar a melhor fórmula para a âncora.
Haddad e a PEC da Transição
O ex-prefeito paulistano ainda afirmou que o maior mérito da aprovação da PEC da transição na quarta-feira (07) no Senado é ter uma solução política para os impasses no Orçamento, que serão tratados na semana que vem entre ele e os secretários do Ministério da Economia para evitar descontinuidade de programas sociais.
De acordo com Haddad, o PT está em diálogo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e com lideranças da Casa para garantir aprovação da PEC por lá também.
"Queremos recuperar uma visão mais institucional do processo político, diminuir tensão entre poderes", afirmou. "Estamos dialogando com o Congresso, que é parte da solução."
O encontro na visão de Guedes
"Certamente estamos conversando com a transição, com a economia, mostrando que há aperfeiçoamentos e que vamos seguir aperfeiçoando essas ferramentas", relatou o ministro da Economia.
Guedes fez o comentário durante transmissão da Cerimônia de Premiação do XXVII Prêmio Tesouro de Finanças Públicas que tem como tema "O Brasil como uma potência verde".
Segundo ele, o teto é uma das ferramentas disponíveis e que a equipe econômica utiliza também várias outras.
"É preciso manter um duplo compromisso, com a responsabilidade fiscal de um lado. Estive em 16 sessões no Congresso explicando cada R$ 1 bilhão de furo do teto. Explicamos cada vez que furamos o teto pelo defeito de construção. O teto foi muito mal construído", disse ele.
De acordo com o ministro, ao longo do tempo, foram feitos reparos, mas sempre honrando o espírito de austeridade fiscal, e que o Tesouro e a Secretaria de Política Econômica (SPE) fizeram projetos de revisão de teto.
Guedes explicou que se há o objetivo de controlar a inflação, tem o sistema de metas e a variável de controle são os juros. Se a intenção é controlar o balanço de pagamentos, o desequilíbrio externo,a variável de controle é a variação cambial.
"No caso, o que queremos é a sustentabilidade fiscal. Tem muito mais a ver com dívida/PIB do que com teto", disse. "Veja que absurdo: estou atrasado para pagar o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), mas se eu pagar o BID, eu furo o teto", ilustrou.