Não havia como esperar nada diferente: com a Guerra na Ucrânia e suas consequências econômicas — em particular, a inflação dos alimentos e o aumento dos combustíveis —, a reunião do G7 novamente teve como foco a Rússia de Vladimir Putin.
Dessa vez, a ideia central é a de impor um “teto” no preço dos combustíveis russos — a proposta foi trazida à pauta pelo presidente americano, Joe Biden.
E, não à toa, os EUA são os maiores defensores de uma sanção adicional às exportações russas de petróleo e gás natural. Em maio, a secretária do Tesouro, Janet Yellen já havia tentado emplacar a mesma ideia para os colegas europeus.
E como viabilizar essa medida? Bem, segundo as autoridades americanas, a meta é estabelecer uma espécie de tarifa ou teto a ser pago pelos combustíveis russos — segundo os EUA, isso ainda ajudaria a Europa a gastar menos.
Pela proposta, os europeus se recusariam a pagar acima de um preço fixo (ainda não especificado); os países do G7 disseram “concordar” em observar como isso pode ser feito.
O objetivo é reduzir a receita de energia de Moscou e aumentar a pressão sobre a Rússia, mas sem aumentar a inflação já crescente em todo o mundo.
A Alemanha é o país do G7 que mais se incomodou com os limites de preços, por temer que Putin possa ir adiante com o desligamento de gás para a Europa. O chanceler alemão Olaf Scholz disse que a ideia era muito ambiciosa e precisava de “muito trabalho” antes de se tornar realidade.
A tarefa realmente não é nada fácil. Um corte agora deixaria a Europa vulnerável, visto que o continente está tentando aumentar as reservas de gás para o inverno deste ano.
Apesar disso, um porta-voz da Comissão Europeia disse, em entrevista à CNBC, que a União Europeia compartilha as preocupações dos países do G7 sobre o peso dos aumentos dos combustíveis e a instabilidade do mercado.
E, ainda nesse panorama, a comissão continuará trabalhando com medidas para conter o aumento dos preços de energia, incluindo a avaliação da viabilidade de introduzir limites temporários de preços de importação, por se tratar de uma questão de urgência.
Além da bolha do G-7
Em entrevista à rede americana CNBC, alguns analistas do setor de energia disseram ver mais desvantagens do que vantagens nessa proposta.
O questionamento é o de como isso poderia funcionar. Eles alertam que o plano tem grandes chances de não sair como o planejado, principalmente se os principais consumidores não estiverem envolvidos.
Falamos de China e Índia, países que, na visão deles, se beneficiariam enormemente do “teto de preços” caso ele venha a ser adotado.
“O petróleo russo está sendo vendido com um forte desconto de US$ 30 ou mais quando comparado aos futuros de petróleo Brent de referência internacional a US$ 110 o barril — e China e Índia estão comprando.” disse Neil Atkinson, analista independente de petróleo em entrevista à CNBC.
Ainda para Atikson, uma decisão dessas só faria com que a Rússia “mexesse com as cabeças do Grupão” — os russos poderiam cortar os suprimentos de petróleo e gás à Europa e aos países do G7, já que Putin não ficaria sem reagir.
Outros analistas entrevistados também compartilharam do mesmo pensamento de que uma decisão como essa só daria certo na teoria, e não na prática —, e que algo assim só daria certo para países que estão na mesma página que o grupinho do G-7.
O presidente Vladimir Putin já mostrou sua disposição de reter o funcionamento de gás natural aos chamados “países hostis” que se recusarem a atender às suas exigências de pagamento de gás em rublos (a moeda russa).
Rússia reagiu?
A Rússia alertou que qualquer tentativa de limitar o preço do petróleo russo pode causar estragos no mercado de energia e elevar ainda mais o preço das commodities.
O vice-primeiro-ministro Alexander Novak descreveu na quarta-feira a decisão dos líderes ocidentais de considerar a imposição de um teto de preço como “outra tentativa de intervir nos mecanismos de mercado que só podem levar ao desequilíbrio”.
Novak disse estar confiante que a Rússia restaurará a produção de petróleo aos níveis pré-sanções nos próximos meses, em grande parte porque uma quantidade significativa de petróleo russo foi redirecionada para os mercados asiáticos.
*Com informações da CNBC