O fracasso do bitcoin: a maior criptomoeda não protegeu contra a inflação nem consolidou-se como reserva de valor. E agora?
Sami Kassab e Kunal Goel, analistas do Messari, fazem um balanço do bitcoin entre junho e agosto deste ano e contam o saldo desses meses
A maior criptomoeda do mundo não atravessa seus melhores dias — meses, sendo bem sincero. O bitcoin (BTC) perdeu mais de 70% do valor desde as máximas históricas em quase US$ 69 mil e não conseguiu confirmar algumas narrativas que envolvem as moedas digitais.
Quem afirma isso é o Messari, plataforma de research e agregador de informações on-chain de criptomoedas. No relatório intitulado State of Bitcoin Q3 2022, Sami Kassab e Kunal Goel, analistas da casa, fazem um balanço do bitcoin entre junho e agosto deste ano.
E o saldo é um grave zero a zero. O desempenho do BTC foi extremamente fraco no período, acumulando queda de 5% no período — após uma queda de 56,7% no segundo trimestre de 2022.
Mas pesou do lado positivo da balança a melhora de eficiência da rede do BTC. A blockchain manteve o crescimento, com aumento do hashrate — a taxa de mineração — e praticamente estabilidade do consumo de energia, uma das principais críticas à criptomoeda.
Bitcoin, você fracassou!
O relatório começa respondendo uma das principais críticas do mercado tradicional ao bitcoin. A maior criptomoeda do mundo não serviu como proteção (hedge) contra a inflação crescente em todo o planeta.
Na publicação, o Messari leva em conta a inflação dos EUA, que acumula alta de 8,3% nos últimos 12 meses. No mesmo período, o bitcoin caiu 59,3%.
Outro ponto destacado é o fato de que o “ouro digital” também não conseguiu se consolidar como reserva de valor frente a momentos de risco elevado.
“O preço do bitcoin sofreu no momento em que o Federal Reserve [Fed, o Banco Central dos EUA] adotou uma postura mais conservadora, com menor liquidez e taxas de juros mais elevadas”, escrevem os analistas do relatório.
Volatilidade controlada
Em contrapartida, a volatilidade do bitcoin permaneceu em tendência de queda nos últimos meses, o que pode ser considerado um ponto positivo para a rede.
A média móvel de preços em relação aos últimos 30 dias (RV-30, como descrito no gráfico abaixo) para agosto foi de 60%, enquanto o mesmo indicador de junho foi de 80%.
Este indicador por si só pode ser considerado positivo, mas dentro de um contexto ele traz uma perspectiva ainda melhor.
As empresas, entidades e mesmo investidores menores tendem a não liquidarem suas posições quando os preços ficam mais estáveis — ainda que, vale lembrar, o valor desses ativos na tela esteja baixo. Dessa maneira, choques nas cotações tendem a ser cada vez mais raros.
Bitcoin, você não foi tão mal assim
Um dos gráficos que mais chamou a atenção dos analistas do Messari e é um dos destaques do relatório é o consumo de energia do bitcoin.
Vale relembrar que o método de validação da rede do BTC é o proof-of-work (PoW, a prova de trabalho) e exige grandes quantidades de energia para manter a rede ativa.
Esse é um dos motivos para boa parte das criptomoedas da nova geração já adotarem o método de proof-of-stake (PoS, a prova de participação). Recentemente, o ethereum (ETH) migrou para esse sistema com a atualização The Merge.
Eficiência da blockchain
Em números, a rede consumia praticamente a mesma quantidade de energia que em janeiro de 2021 — cerca de 100 terawatt-hora (TWh).
No mesmo período houve um crescimento exponencial da rede e a adoção do bitcoin também foi ampliada nesse espaço de tempo.
Essa eficiência energética se deve principalmente às novas placas usadas para a mineração de criptomoedas, as chamadas ASICs. Elas permitem um uma taxa de hashes maior com menor consumo de energia, com modelos cada vez mais acessíveis na média.
Bitcoin e a energia limpa
É difícil estimar o consumo exato de energia do bitcoin devido ao caráter descentralizado da mineração. Do mesmo modo, a matriz energética que alimenta as máquinas também é uma apenas uma projeção e não um número absoluto.
Mesmo assim, as estimativas do Bitcoin Mining Council (BMC) avaliam que o BTC sempre teve uma matriz energética sustentável, utilizando mais de 55% de fontes renováveis em seu processo de mineração desde o segundo trimestre de 2021.
Esse número cresceu para pouco mais de 60% no mesmo período deste ano.
Emissão zero de gás estufa
Com isso, o bitcoin é uma das atividades que menos emite CO2 na atmosfera e tem praticamente desperdício zero de energia em relação a outras atividades analisadas.
O flaring, método de queima de gás liberado durante a extração de petróleo da natureza, é extremamente mais poluente do que a mineração de BTC.
Estimativas do relatório mostram que o flaring global emite quase 23 vezes mais CO2 do que a mineração de bitcoin. Só os Estados Unidos correspondem a duas vezes o gás carbônico produzido pela manutenção da rede do BTC.
Bitcoin, sua nota final é…
Os analistas do Messari entendem que o momento macroeconômico de baixa liquidez e problemas envolvendo questões paralelas ao mercado de criptomoedas praticamente extinguiram a narrativa de que o bitcoin é um hedge contra a inflação e uma boa reserva de valor em momentos de incerteza econômica.
Por outra perspectiva, o BTC já sobreviveu a momentos piores ao longo de sua história. Além disso, o crescimento da rede, entrada de novos desenvolvedores e criação de protocolos que permitam ampliar os usos do bitcoin são pontos de entusiasmo a serem levados em conta.
Por fim, um ativo que está alinhado com as práticas de ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) tende a ganhar os holofotes em um mundo cada vez mais preocupado com desenvolvimento sustentável. O saldo disso é um agridoce zero a zero.
Halving do Bitcoin (BTC): ETFs mudaram o jogo do maior evento do mercado de criptomoedas?
O halving do Bitcoin, um evento programado que ocorre a cada quatro anos, deve acontecer dentro de 25 dias. E agora?
A menos de um mês do halving, bitcoin (BTC) está apenas 4% abaixo das máximas históricas; até onde o preço vai?
Assim, a alta do BTC pode impulsionar ainda mais o mercado e dar espaço para uma altseason, uma disparada das altcoins, as criptomoedas alternativas ao bitcoin
Estamos a 25 dias do halving — e o bitcoin (BTC) sabe disso: criptomoeda salta e recobra US$ 70 mil hoje
Atualmente, a recompensa pela mineração é de 6,25 BTC e, a pós o halving de 2024, a ela irá cair para 3,125 BTC
Com queda de 5% na semana, rali do bitcoin (BTC) perdeu vapor — e para JP Morgan período de correção ainda não acabou
Apesar de o mercado cripto ter reagido positivamente à perspectiva de três cortes de juros nos EUA, os preços não param de cair
US$ 150 mil é pouco? O próximo gatilho para uma nova disparada do Bitcoin revelado — não é o halving
Depois de um período de disparada violenta, o Bitcoin deu uma ‘acalmada’, em um processo de correção que já era esperado pelo mercado. Um dos grandes motivos por trás do rali recente que renovou as máximas da maior criptomoeda do mundo foi a aprovação do primeiro ETF de Bitcoin à vista (spot) nos EUA, movimento […]
CVM dos EUA quer tornar ethereum (ETH) um valor mobiliário; ETF da criptomoeda está ameaçado agora?
De acordo com fontes de dentro da SEC, o modelo de validação da rede do ethereum seria um pretexto para definir a rede (blockchain) como um valor mobiliário
Jerome Powell impulsionou o bitcoin (BTC): não foi a decisão sobre juros, mas comunicado que fez criptomoeda subir mais de 4% hoje
Após o Fed anunciar a manutenção dos juros norte-americanos na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, como esperado, Powell deu sua tradicional coletiva de imprensa
Por que você deveria comprar Bitcoin (BTC) hoje — e o que pode acontecer se você não fizer isso
O Bitcoin vem surpreendendo até mesmo os mais otimistas ao ter batido recorde atrás de recorde de uns para cá. Com um desempenho impressionante, a pergunta que coloca uma pulga atrás da orelha dos investidores agora é: ainda dá tempo de comprar, mesmo depois de uma alta tão forte? Principalmente depois da queda que temos […]
O purgatório do ethereum (ETH). ETFs da criptomoeda provavelmente não virão em 2024. Saiba quais são as alternativas
Probabilidade de o ethereum ser destaque em termos de performance de preço neste ano é pequena, ou pelo menos menor do que a de seus concorrentes
A temporada de criptomoedas ‘alternativas’ está chegando e a Coinext vai lançar 20 novas criptomoedas em sua plataforma
Essa classe de criptomoedas tende a ser mais barata e com uma volatilidade de preços maior, o que aumenta o risco do investimento — e também o retorno
Leia Também
Mais lidas
-
1
Acordo bilionário da Vale (VALE3): por que a mineradora pagou US$ 2,7 bilhões por 45% da Cemig GT que ainda não tinha
-
2
Após prejuízo bilionário, CEO da Casas Bahia está “confiante e animado” para 2024 — mas mercado não compra ideia e ação BHIA3 cai forte na B3
-
3
Ação do ex-dono do Grupo Pão de Açúcar desaba quase 50% na bolsa francesa em um único dia e vira “penny stock”