As ações ON da CCR (CCRO3) roubam a cena no pregão desta sexta-feira (7): disparam mais de 10% e lideram, com folgas, a ponta positiva do Ibovespa. E esse forte desempenho se deve à confirmação de uma notícia que já era especulada pelo mercado: a saída da Andrade Gutierrez do bloco societário da companhia.
E por que essa movimentação é tão relevante? Bem, é preciso antes entender a estrutura acionária da CCR e o perfil de seus sócios — e, para isso, vamos recorrer à última versão do acordo de acionistas da companhia, assinado em 2019.
Nesse documento, vemos que a empresa tem três sócios: Andrade Gutierrez, com 14,86% das ações ON; Mover (ex-Camargo Corrêa), com os mesmos 14,86%; e Soares Penido, com 15,05% — um bloco que corresponde a 44,77% do capital social total. O restante é negociado na B3.

- Quer receber os melhores conteúdos, movimentação do mercado e insights de investimento? Participe do nosso canal do Telegram
Não é segredo para ninguém que a Andrade Gutierrez passa por sérios problemas financeiros — a empresa foi um dos grandes alvos da Operação Lava Jato. E, por mais que a fatia detida na CCR seja um ativo valioso para a construtora, muitos acreditavam que era uma questão de tempo para que essa participação fosse vendida.
Pois o momento chegou: a Andrade Gutierrez recebeu uma proposta da IG4 Capital para a venda dos 14,86% da CCR — o que corresponde a pouco mais de 300 milhões de ações. Pelos termos da oferta, cada papel foi avaliado em R$ 15,44; a operação, assim, gira em torno dos R$ 4,6 bilhões.
E eu com isso?
Ok, a Andrade Gutierrez vai passar sua fatia na CCR adiante e levantar um grande volume de recursos. Bom para eles — mas por que isso é relevante para um acionista comum?
Há três questões a serem levadas em conta:
- Troca de sócio: a Andrade Gutierrez, como já foi dito, passa por dificuldades e não tem condições de fazer eventuais aportes ou investimentos na CCR;
- Bala na agulha: a IG4 Capital, por outro lado, é uma gestora focada em mercados emergentes e grande interesse em infraestrutura — eles são donos da Iguá Saneamento, que venceu uma das áreas do leilão da Cedae. Portanto, o potencial novo sócio tem condição financeira para investir;
- Preço da ação: ontem, as ações da CCR fecharam a R$ 12,12. Portanto, a oferta da IG4, de R$ 15,44, dá a entender que o novo sócio vê que os ativos estão subavaliados — o preço representa um prêmio de 27,4%.
Esses três fatores ajudam a explicar a disparada dos papéis da CCR, que hoje rondam o nível de R$ 14,50 e ficam mais próximos do valor proposto pela IG4 à Andrade Gutierrez.
CCR e Andrade Gutierrez: próximos passos
Essa operação, no entanto, ainda não foi consumada. Como a Andrade Gutierrez faz parte do acordo de acionistas da CCR, qualquer alienação deve ser analisada pelos demais signatários.
O contrato tem um termo simples: caso um dos sócios receba uma proposta de venda da participação, os demais terão até 30 dias para exercer o direito de preferência. Assim, caso Soares Penido ou Mover (ex-Camargo Corrêa) igualem a proposta da IG4, eles passarão na frente na disputa.
Essa incerteza quanto ao novo dono da fatia da Andrade Gutierrez ajuda a explicar a razão de as ações da CCR não se aproximarem ainda mais dos R$ 15,44 da proposta da IG4 — a perspectiva de um novo sócio anima o mercado, mas a possibilidade de um dos atuais controladores aumentar sua fatia é vista com alguma prudência.