Um pé no abismo e outro na casca de banana: como identificar ações de empresas decadentes
Excesso de otimismo, planos mirabolantes e desprezo pela inovação estão entre as receitas para uma empresa falhar, segundo o gestor que se dedicou a descobrir empresas terríveis
Olá, seja muito bem vindo ao nosso papo de domingo que às vezes é sobre tecnologia, às vezes sobre investimentos, mas raramente sobre algo interessante.
Na semana passada, dediquei essa coluna aos ensinamentos do livro Art of Execution, do investidor Lee Freeman-Shor.
Como sempre deixo meu e-mail para contato ao final do texto, foi natural, ao longo desta semana, receber várias mensagens com pedidos de outras sugestões de leituras para investidores.
Atendendo a esses pedidos, vou compilar os ensinamentos de outro livro de finanças com o qual aprendi muito.
Falo do livro Dead Companies Walking: How A Hedge Fund Manager Finds Opportunity in Unexpected Places, do gestor de investimentos Scott Fearon.
Assim como a recomendação da semana passada, o livro do Scott está disponível apenas em inglês, mas vou fazer um resumo dos meus pontos preferidos.
Leia Também
Mais mortos do que vivos
Diferentes dos investidores famosos que conhecemos e admiramos, como Warren Buffett e Peter Lynch, que construíram suas reputações identificando empresas incríveis, o Scott Fearon seguiu o caminho contrário.
Dedicou sua carreira a descobrir empresas terríveis. Aquelas com um pé no abismo, e outro na casca de banana.
Seu livro é dedicado a diversas histórias de posições vendidas a descoberto; ou seja, apostas em ações que, na visão dele, deveriam se desvalorizar muito.
Empresas farmacêuticas com produtos revolucionários que não faziam muito sentido, redes de restaurantes com planos de expansão muito além de suas aptidões naturais, varejistas que decidiram mudar completamente seu negócio do dia para a noite…
Diversos casos que misturam excesso de otimismo, planos mirabolantes e desprezo pela inovação.
Das inúmeras lições de Scott, a primeira que me lembro, e que espero genuinamente ter incorporado para sempre, é a seguinte:
Apenas vender a descoberto empresas que estejam em direção à falência.
Uma posição vendida (ou short, como dizemos no mercado) é uma posição com payoff ruim.
O máximo que você pode ganhar é 100%, caso a ação vá a zero.
Porém, você pode acumular perdas de 100%, 200%, 300%... perdas potencialmente ilimitadas, caso a ação dispare.
Scott é completamente avesso a pequenas posições vendidas que busquem retornos de 5%, 10%...
Na opinião dele (e eu não poderia concordar mais), identificar uma empresa com fundamentos ruins já é difícil o bastante…
Prever como vai se comportar o fluxo dos investidores nessa empresa é ainda mais difícil.
Mas como Scott identifica uma empresa que esteja em direção à falência?
Nas palavras dele, a tragédia acontece em duas etapas: primeiro gradualmente, e depois subitamente.
Primeiro as receitas começam a decair (gradualmente), e então o endividamento explode (rapidamente)...
Junto às considerações gerais sobre o caso de investimento, esses dois indicadores são excelentes referências.
O exemplo perfeito, contado no livro, foi a quebra da Blockbuster, a maior rede de locadoras de filmes dos EUA no começo dos anos 2000.
O próximo Steve Jobs
A análise de investimentos é uma mistura de matemática com criatividade.
Sim, nos damos ao trabalho de entender as demonstrações contábeis das empresas em que investimos.
Esse trabalho, porém, diz respeito ao passado. Afinal, os números nos mostram o que aconteceu, e não o que acontecerá.
Decidimos investir ou não numa empresa pelo que imaginamos que acontecerá no futuro.
E como bem sabemos, retornos passados não são garantias de retornos futuros.
A parte do futuro na equação é extremamente complexa.
No geral, estamos buscando entender o que a companhia enxerga para o seu futuro.
Você pode entender que a Tesla deverá se tornar a referência global de carros autônomos.
Mas caso Elon Musk decida, amanhã, trabalhar num submarino elétrico, você não terá muito o que fazer. Ele está no comando, você está apenas no banco do passageiro, tentando entender o que se passa na companhia.
Por isso, o management das empresas que investimos é peça fundamental no retorno do nosso investimento.
Sobre os CEOs dessas empresas, Scott faz um alerta maravilhoso: a chance é alta de que esse CEO não seja o próximo Steve Jobs.
CEOs não são CEOs à toa. É como se a seleção natural empurrasse para o topo as pessoas agressivas, sonhadoras e otimistas.
Veja o caso de Elizabeth Holmes, fundadora de umas maiores fraudes corporativas que o mundo já viu, a Theranos.
Ela prometia uma máquina praticamente caseira, que com uma gota de sangue, conseguiria realizar uma série de exames laboratoriais.
Ela falava como Steve Jobs, fazia apresentações como Steve Jobs, e até se vestia como Steve Jobs.
Mas no final, era apenas a Elizabeth Holmes.
Aos interessados na história completa, recomendo o excelente livro Bad Blood.
Em resumo, Scott diz adorar identificar CEOs problemáticos e apostar em suas quedas. É só procurar, você vai ver que eles existem aos montes.
Fraudes contábeis
Como disse, o livro é repleto de ensinamentos maravilhosos, mas meu espaço aqui é limitado para trazer todos eles.
Por último, quero mencionar as fraudes contábeis.
Scott considera que as fraudes contábeis são como mortes por ataque de tubarão.
Durante um ano, ocorrerão apenas alguns poucos acidentes envolvendo ataques de tubarão ao redor do mundo.
Mas quando eles acontecerem, serão manchetes em todos os lugares.
Na prática, o tanto de atenção dedicada ao tema nos levará a uma percepção incorreta de que eles são mais comuns do que parecem.
O mesmo ocorre no mundo corporativo e no mercado de ações.
Fraudes são raras.
O mais comum é simplesmente encontrarmos empresas ruins, com planos estratégicos ruins.
Ao invés disso, muitos investidores dedicam um tempo excessivo a procurarem por fraudes.
Afinal, que tipo de venda a descoberto seria mais óbvia do que uma fraude?
Contudo, a maioria dos analistas passarão suas carreiras sem identificarem uma fraude de grande magnitude.
Claro, a contabilidade está longe de ser perfeita e muitas empresas gostam de viver perigosamente, sondando, mas raramente cruzando a barreira da contabilidade criativa.
Mesmo assim, escândalos contábeis da escala de uma Enron (aos interessados, sugiro o maravilhoso documentário Enron: Os Mais Espertos da Sala, disponível na Netflix) são raros e dificilmente você ganhará dinheiro apostando neles.
Contato
Dediquei o texto de hoje a três assuntos tratados no livro (os meus preferidos), mas há pelo menos uma dezena de boas ideias. Recomendo muito que, caso você esteja interessado, compre o livro e dedique algumas horas à leitura.
Se você gostou dessa coluna, pode entrar em contato comigo através do e-mail telaazul@empiricus.com.br, com ideias, críticas e sugestões.
Também pode conhecer o fundo de investimentos que implementa as ideias que eu, o Rodolfo Amstalden e Maria Clara Sandrini nos dedicamos semanalmente a produzir.
E claro, siga acompanhando meu trabalho através do Podcast Tela Azul, em que, todas as segundas-feiras, eu e meus amigos André Franco e Vinicius Bazan falamos sobre tecnologia e investimentos.
Aproveite para se inscrever no nosso Telegram; todos os dias, postamos comentários sobre o impacto da tecnologia no mercado financeiro (e no seu bolso).
Um abraço!
O strike de Trump na bolsa: dólar perde força, Ibovespa vai à mínima e Petrobras (PETR4) recua. O que ele disse para mexer com os mercados?
O republicano participou do primeiro evento internacional depois da posse ao discursar, de maneira remota, no Fórum Econômico Mundial de Davos. Petróleo e China estiveram entre os temas.
Não deu para o Speedcat: Ações da Puma despencam mais de 20% após resultados de 2024 e empresa fará cortes
No dia anterior, a Adidas anunciou que superou as projeções de lucro e receita em 2024, levando a bolsa alemã a renovar máxima intradia
A bolsa da China vai bombar? As novas medidas do governo para dar fôlego ao mercado local agrada investidores — mas até quando?
Esta não é a primeira medida do governo chinês para fazer o mercado de ações local ganhar tração: em outubro do ano passado, o banco central do país lançou um esquema de swap para facilitar o acesso de seguradoras e corretoras à compra de ações
Todo vazio será ocupado: Ibovespa busca recuperação em meio a queda do dólar com Trump preenchendo o vácuo de agenda em Davos
Presidente dos Estados Unidos vai participar do Fórum Econômico Mundial via teleconferência nesta quinta-feira
Dólar abaixo de R$ 6: moeda americana renova série de mínimas graças a Trump — mas outro motivo também ajuda na queda
Enquanto isso, o Ibovespa vira e passa a operar em baixa, mas consegue se manter acima dos 123 mil pontos
Quando o sonho acaba: Ibovespa fica a reboque de Wall Street em dia de agenda fraca
Investidores monitoram Fórum Econômico Mundial, decisões de Donald Trump e temporada de balanços nos EUA e na Europa
Efeito Trump na bolsa e no dólar: Nova York sobe de carona na posse; Ibovespa acompanha, fica acima de 123 mil pontos e câmbio perde força
Depois de passar boa parte da manhã em alta, a moeda norte-americana reverteu o sinal e passou a cair ante o real
Metralhadora giratória: Ibovespa reage às primeiras medidas de Trump com volta do pregão em Nova York
Investidores ainda tentam mensurar os efeitos do retorno de Trump à Casa Branca agora que a retórica começa a se converter em ações práticas
Donald Trump 2T1E: Ibovespa começa semana repercutindo troca de governo nos EUA; BC intervém no dólar pela primeira vez em 2025
Enquanto mercados reagem à posse de Trump, Banco Central vende US$ 2 bilhões em dois leilões de linha programados para hoje
Banco Central fará primeira intervenção no dólar em 2025 no dia da posse de Donald Trump nos EUA
Banco Central venderá US$ 2 bilhões nesta segunda-feira (20) em dois leilões de linha; entenda como e quando ocorrem as operações
As ações queridinhas dos gestores estão na promoção e eles não podem fazer nada. Azar o deles!
Enquanto os gestores estão chupando o dedo, assistindo boas oportunidades passar sem poder fazer nada, você pode começar a montar uma carteira de ações de empresas sólidas por valuations que raramente são vistos
Entre a paciência e a ansiedade: Ibovespa se prepara para posse de Trump enquanto investidores reagem a PIB da China
Bolsas internacionais amanhecem em leve alta depois de resultado melhor que o esperado da economia chinesa no quarto trimestre de 2024
Empresas recompram R$ 26 bilhões das próprias ações na B3 em 2024. E vem mais por aí — saiba para onde o investidor deve olhar neste ano
Na ponta vendedora aparecem os investidores estrangeiros e institucionais, com montantes de R$ 32 bilhões e R$ 39 bilhões, respectivamente
A Nova Zelândia é aqui: Ibovespa tenta manter recuperação em dia de IBC-Br e varejo nos EUA depois de subir quase 3%
Enquanto a temporada de balanços começa em Wall Street, os investidores buscam sinais de desaquecimento econômico no Brasil e nos EUA
Onde investir 2025: essas são as 9 ações favoritas para lucrar na bolsa em 2025 — e outros 5 nomes para garantir dividendos pingando na conta
Para quem estiver disposto a desafiar o pessimismo macroeconômico, há quem veja 2025 como uma janela interessante para aproveitar ativos atraentes; veja as indicações
Agora vai? Ibovespa engata alta de mais de 2% junto com Nova York e chega aos 122 mil pontos; dólar fecha em baixa de R$ 6,0252
Dados de inflação e da indústria nos EUA mexem com as bolsas aqui e lá fora, mas tem banco grande dizendo que a euforia pode ser exagerada; entenda os motivos
O Grand Slam do Seu Dinheiro: Vindo de duas leves altas, Ibovespa tenta manter momento em dia de inflação nos EUA
Além da inflação nos EUA, Ibovespa deve reagir a Livro Bege do Fed, dados sobre serviços e resultado do governo
Onde investir 2025: Inflação a 10% e dólar a R$ 10? O que pode salvar a economia enquanto o mercado se prepara para o pior
Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset, e Felipe Miranda, fundador e estrategista-chefe da Empiricus, revelam os riscos e oportunidades para o investidor neste ano
Itaú BBA corta projeções para a bolsa brasileira, mas ainda vê escalada de 20% do Ibovespa até o fim de 2025 — e revela 10 ações para investir neste ano
Para os analistas, a bolsa encontra-se com um valuation favorável, mas a dinâmica de resultados corporativos em 2025 tem um viés levemente negativo
Olha nos classificados: Depois da leve alta de ontem, Ibovespa se prepara para mais um dia difícil pela frente hoje
Petróleo acima dos US$ 80 e juros das Treasuries de 10 anos próximos de 5% mantêm pressão sobre os mercados financeiros internacionais