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É hora de trocar os títulos públicos de prazos mais curtos pelos mais longos?

Ilustração sobre investimento de longo prazo

Após dispararem em março e passarem por altos e baixos em abril e maio, os juros futuros tiveram um período de alívio nos meses seguintes.

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Assim, os títulos públicos prefixados e atrelados à inflação, cujos preços haviam despencado no auge da crise do coronavírus nos mercados, puderam se recuperar e até zerar as perdas do ano, no caso de alguns vencimentos.

Porém, em agosto, os juros voltaram a disparar, sobretudo os de prazos mais longos. Os juros mais curtos, mais afetados pela política monetária e as expectativas mais imediatas para Selic e inflação, naturalmente continuam reduzidos, apesar de também terem subido um pouco. É que, com a forte crise econômica, os preços seguem controlados e a taxa básica não deve ser elevada tão cedo.

Já os juros longos, mais relacionados ao risco-país, foram fortemente afetados pelo aumento da percepção de risco fiscal, conforme eu mostrei em matéria publicada na última segunda-feira (31).

As ameaças ao teto de gastos e as tensões em Brasília em torno de questões como o Orçamento de 2021, o programa Renda Brasil e até a uma possível demissão do ministro da Economia, Paulo Guedes, contribuíram para que o mercado passasse a exigir taxas mais altas para financiar um governo potencialmente mais gastador.

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Como resultado, essa alta dos juros futuros tornou a desvalorizar os títulos pré e indexados ao IPCA, que agora voltaram a pagar taxas mais altas. Bom para quem ainda não tinha esses papéis na carteira e desejava comprá-los, mas ruim para quem já detinha esses títulos, comprados a taxas mais baixas.

Como os investidores mais experientes do Tesouro Direto já devem saber, esses títulos se desvalorizam quando a expectativa é de alta nos juros, e se valorizam quando a perspectiva é de queda (nesta matéria eu explico com mais detalhe como se dá a precificação dos títulos públicos).

Na matéria com o balanço dos investimentos de agosto, publicada na segunda (31), é possível notar que todos os títulos prefixados e indexados à inflação tiveram perdas em agosto, variando de -0,9% a -9,45%, dependendo do prazo e de se pagam juros semestrais ou não.

Isto posto, o investidor pode estar se fazendo duas perguntas:

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1) Vale a pena comprar títulos longos agora, ou é melhor esperar, pois os juros podem subir mais?

2) Quem tem títulos mais curtos na carteira deve vendê-los para realizar os ganhos, ou talvez até trocá-los por títulos longos, dado que os mais curtos agora têm menos potencial de valorização?

Antes de responder, devo lembrar que essas orientações são válidas para quem investe em títulos públicos com o intuito de ganhar com sua valorização, vendendo-os antes do vencimento a preço de mercado.

Para quem tem a intenção de levar o título ao vencimento, essas oscilações nos preços não fazem diferença, pois o investidor receberá, no fim do prazo, a rentabilidade contratada na compra de qualquer maneira.

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Sim, é uma boa hora para comprar títulos longos

Apesar da escalada recente dos juros longos, os especialistas que eu ouvi para essa reportagem não acreditam que as taxas devam subir muito mais, se é que vão continuar subindo.

Ao menos por ora, ainda estão confiantes que o governo vai encontrar uma solução razoável para a questão fiscal que vêm pressionando as taxas. Assim, o momento seria bom para se posicionar em títulos longos.

“Os preços dos títulos devem se recuperar no restante do semestre. Achamos que o Congresso e o Executivo vão se entender e que o teto vai ser cumprido. Mesmo que não haja grandes reformas, alguma coisa deve avançar”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Ele acredita que sim, para quem ainda não tem títulos longos, é uma boa hora de comprar. Essa também é a opinião de Camilo Cavalcanti, superintendente de investimentos da Infinity Asset.

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“Faz sentido ter títulos longos na carteira hoje, especialmente os indexados à inflação. Há taxas bastante atrativas. As coisas precisariam piorar demais para essas taxas terem novas altas”, diz Cavalcanti.

Ele acrescenta que o governo nem precisaria chegar a uma solução excelente para a questão fiscal, uma solução média já estaria bom para os juros darem uma aliviada e o investidor ter ganhos nesses papéis.

Segundo Marcos De Callis, estrategista da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento, em agosto os juros longos estavam precificando em torno de 50% de probabilidade de o governo furar o teto de gastos, que ele considera alta demais.

“Não é que não haja motivos para essa projeção, mas esse cenário seria tão ruim, que não conseguimos imaginar o governo realmente alimentando essa ideia”, diz.

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E quem tem títulos curtos na carteira, o que fazer?

O estrategista da gestora de fortunas diz que as carteiras de títulos públicos dos clientes estão com vencimentos bem curtos, mas que a casa aproveita esses momentos de estresse para ir alongando os prazos aos poucos.

De fato, os títulos mais curtos (até 2023) não tem mais tanto espaço de valorização, dado que a Selic não deve cair muito mais, se é que vai chegar a ser cortada mais uma vez.

Já os de prazos médios - com vencimentos em 2024, 2025 e 2026, por exemplo - têm ainda algum espaço de valorização, mas o risco-retorno não é tão interessante quanto o dos títulos mais longos, avalia Camilo Cavalcanti, da Infinity Asset.

Ele acha que faz sentido trocar os títulos mais curtos pelos mais longos, que no momento estão mais vantajosos, sobretudo os indexados à inflação. “Apesar de acreditarmos que o governo vai achar uma solução fiscal razoável para a questão fiscal, se alguma coisa der errado, o indexado conta com a proteção da inflação”, explica.

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Seus títulos preferidos são o Tesouro IPCA+ 2045 (NTN-B Principal) - mais volátil - e o Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055 (NTN-B), que tem uma volatilidade menor que o 2045 por pagar juros semestrais.

O 2045 está pagando, atualmente 3,71% ao ano mais IPCA, enquanto o 2055 paga 3,98% ao ano mais IPCA.

Gustavo Cruz, da RB Investimentos, acredita que os investidores que têm títulos mais curtos devem ir com calma, talvez esperar para os juros baixarem um pouco mais e venderem os papéis num preço maior.

“Se a pessoa não estiver precisando do dinheiro, acho melhor ter paciência e esperar um pouco para vender, porque eu acho que esse estresse de agosto vai ser devolvido. Eu não acho que esses títulos vão continuar tendo perdas” diz.

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Se a ideia for realmente alongar os prazos da carteira de títulos indexados à inflação para aproveitar as taxas atuais e lucrar com a sua queda, dado que elas podem realmente não continuar subindo como em agosto, talvez uma boa solução seja fazer essa migração aos poucos, para recuperar as perdas recentes com os títulos mais curtos, ao mesmo tempo em que se contratam taxas ainda altas nos títulos mais longos.

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