O Domingão de Páscoa está chegando, mas por causa do lockdown o almoço terá bem menos pessoas reunidas à mesa aqui em casa.
No entanto, eu tenho certeza que não é apenas a minha ceia que será assim. Acredito que você e outros milhões de brasileiros espalhados pelo país também terão de fazer sacrifícios neste fim de semana.
Enquanto alguns terão de ficar distantes de amigos e parentes especiais, outros, lamentavelmente, não poderão nem usufruir da costumeira fartura desta época do ano, já que a quarentena afetou severamente as economias de muitas famílias.
Felizmente, apesar dessa mudança repentina de planos em 2020, tenho plena confiança de que os nossos hábitos pascoalinos devem voltar à normalidade em 2021.
Alguns vencedores
O hábito de reunir a família e ver a criançada desembrulhando um monte de ovos de chocolate voltará mais forte do que nunca no ano que vem.
Mas se esse costume deve permanecer vivo, acredito que a quarentena servirá para alterar outros hábitos para sempre, o que inclusive pode gerar boas oportunidades para alguns setores – falaremos sobre dois deles hoje, e deixarei de fora o e-commerce dado que ele é bastante óbvio para todo mundo.
Um deles é o segmento bancário. Sendo sincero, eu nem me lembro quando foi a última vez coloquei meus pés em uma agência. Mas ainda tem (ou, pelo menos, tinha antes da quarentena) muita gente que insiste em pegar filas e atravessar aquela maldita porta giratória para realizar transações simples que levariam menos de um minuto no app.
Depois de anos investindo no desenvolvimento de seus aplicativos e tentando incentivar a sua utilização, a quarentena pode ser o empurrãozinho que faltava para que os bancos consigam introduzir de uma vez por todas o hábito digital em seus clientes.
Para as instituições financeiras isso representa mais do que uma mudança de costumes. É uma enorme oportunidade de reduzir o número de agências e aumentar ainda mais a sua eficiência e rentabilidade – sem abrir mão de qualidade, é claro.
Os bancos que estiverem preparados certamente sairão mais fortes dessa crise.
Terceirização de frotas
Para as companhias que utilizam muitos veículos para prestação de serviços e estão com as finanças apertadas por causa da quarentena, a terceirização da frota pode ser uma ótima solução.
Para começar, o dinheiro dos carros vendidos pode ser utilizado para pagar obrigações urgentes (como, por exemplo, salários, dívidas, impostos, etc). Além disso, essas companhias vão perceber como é vantajoso não precisar se preocupar com a compra, a venda e nem a manutenção dos veículos.
A terceirização de frotas é uma solução mais barata, libera bastante capital (um bem escasso neste momento em que os bancos fecharam a torneira de crédito) e ainda permite um foco maior nas atividades que realmente importam para a companhia.
Algumas armadilhas também
Mas as crises proporcionam grandes oportunidades para o investidor. Além de ações do Itaú (ITUB4), a Carteira Empiricus sugere um outro banco que se beneficiará ainda mais dessa mudança de hábitos, além da locadora de veículos mais exposta ao segmento de terceirização de frotas e que deve sair ainda mais forte dessa crise. Deixo o convite aqui para quem quiser conhecer a publicação.
Mas os momentos de grandes incertezas também trazem algumas armadilhas perigosíssimas para investidores sedentos por novas oportunidades.
Recentemente, temos visto a ascensão da plataforma de vídeo conferências Zoom devido a explosão de reuniões pela internet. Isso fez com que as ações da companhia chegassem a subir 130% na Nasdaq em 2020, enquanto praticamente todo o restante do mercado despencou.
Acredite se quiser, o valor de mercado dela chegou a superar a marca de 50 vezes a sua receita e 1900 (!) vezes os seus lucros anuais – a Amazon, que é considerada cara por muita gente, negocia a 90 vezes lucros.

Olha, eu até entendo que esse momento deve servir para catapultar a visibilidade da companhia e aumentar os seus lucros trimestrais.
Mas será que isso é motivo suficiente para você pagar esses valuations estratosféricos pelas ações dela? Ainda mais em um momento tão delicado para a economia mundial, que parece caminhar a passos largos para uma séria recessão?
Será que permaneceremos trancafiados para sempre em nossas casas e todas as nossas reuniões daqui para a frente serão realizadas apenas pela web?
Será que a Zoom se aproveita de um modelo de negócios com grandes barreiras de entrada, protegido por patentes que afastam concorrentes ou, então, possui uma base de clientes fiéis à sua marca a ponto de estes descartarem plataformas concorrentes caso elas venham invadir o seu mercado?
Nenhuma das respostas para as perguntas acima me parece afirmativa. Por isso, apesar de continuar utilizando o Zoom em minhas reuniões durante a quarentena, ficarei longe das ações da companhia por enquanto e sugiro que você faça o mesmo.