BDR: Suas opções na Bolsa dobraram
A partir do mês que vem, investidores pessoa física passarão a contar com mais de 550 opções de investimento em ações de emissão estrangeira.

Ontem, fomos surpreendidos com a resolução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em relação aos famosos BDRs, os certificados de ações de empresas estrangeiras negociados na Bolsa de Valores do Brasil.
Mas antes de falar sobre as novidades, vou dar um passo atrás para garantir que estamos na mesma página.
O que é um BDR?
Um BDR é um instrumento financeiro, como uma ação, que permite ao investidor brasileiro investir em ações, títulos de dívida ou ETFs (fundo que replica um índice de referência), de empresas negociadas fora do país.
Para isso, o investidor conta com uma instituição depositária, que emite certificados no Brasil e representa legalmente os ativos negociados em outras bolsas de valores.
Grosso modo, é como se essa instituição depositária – que pode ser um grande banco, por exemplo – comprasse determinada quantidade das ações da Apple no mercado norte-americano e as guardasse em uma custodiante devidamente regulada, emitindo no Brasil certificados que fazem referência a esses títulos.
Ou seja, essas instituições atuam como uma verdadeira ponte.
Leia Também
Anatomia de um tiro no pé: Ibovespa busca reação após tarifas de Trump
Na prática, é como se você comprasse uma ação nos Estados Unidos, por exemplo, mas sem ter que abrir uma conta lá fora e arcar com todos os custos de remessa de recursos, custos operacionais mais altos, spread no câmbio, e por aí vai…
Também preciso mencionar aqui que existem quatro classes de BDRs emitidos:
- BDR Não Patrocinado – Nível 1
- BDR Patrocinado – Nível 1
- BDR Patrocinado – Nível 2
- BDR Patrocinado – Nível 3
Quando digo que um BDR é Patrocinado, significa que o emissor original daquelas ações – a Apple, por exemplo – é o responsável pela emissão dos certificados de depósito emitidos no Brasil.
Do mesmo modo, um BDR Não Patrocinado é um título emitido no Brasil por uma instituição depositária que não tem ligação com o emissor-lastro. Em geral, grandes instituições financeiras.
Como o mercado financeiro brasileiro ainda é pouco desenvolvido e não há grande incentivo para que as empresas estrangeiras emitam seus títulos diretamente por aqui, hoje, mais de 99% dos 557 BDRs listados na B3 são do tipo Não Patrocinado.
Importante dizer que é do emissor desses recibos no Brasil toda a responsabilidade de atender aos requisitos básicos de comunicação e eventos relacionados aos títulos (dividendos, emissões etc.), exigidos pela CVM.
Agora, quando falo de nível (I, II ou III), me refiro ao grau de alinhamento da emissão com as normas contábeis e de regulamentação adotadas no mercado brasileiro, sob a supervisão da CVM, e ao propósito da emissão.
Enquanto no Nível 1 o emissor não precisa ser registrado na CVM e não é obrigado a seguir as normativas do órgão, nos níveis 2 e 3, sim. No nível mais avançado (III), inclusive, com opção de captação de recursos no país.
Perfeito, entendi, mas quais são as novidades?
A grande novidade é que a partir do dia 1º de setembro de 2020, os investidores NÃO qualificados, ou seja, que não têm mais de R$ 1 milhão em investimentos, poderão investir nos BDRs Não Patrocinados de Nível 1.
Agora, cabe apenas a aprovação da B3. Ou seja, está muito perto de acontecer, já que essa decisão era muito aguardada pela Bolsa brasileira.

Desta forma, a partir do mês que vem, investidores pessoa física passarão a contar com mais de 550 opções de investimento em ações de emissão estrangeira. Entre elas, ações da Apple, da Microsoft e da Amazon.
Esse movimento traz um salto de sofisticação muito importante para o portfólio dos investidores, já que temos menos de 400 ações brasileiras listadas na B3.
E quando digo que o investidor conseguirá sofisticar o portfólio, refiro-me especialmente à ampliação da capacidade de diversificação geográfica, que permite ao investidor extrair mais retorno pela mesma unidade de risco, além, claro, de ampliar setorialmente as opções de investimento.

Para dar um exemplo disso, repliquei graficamente o desempenho do Ibovespa, principal índice de ações brasileiras, versus o desempenho do BDRX, que é um índice brasileiro composto por 306 BDRs Não Patrocinados negociados no país.
Importante ressaltar que trouxe o desempenho desse índice em reais e em dólares norte-americanos, já que quando você investe em um BDR da Apple, por exemplo, você também corre o risco cambial, já que as ações são cotadas em dólar.
Como você pode notar na representação, o desempenho das ações de emissões estrangeiras desde 2013, excluindo a variação cambial, entregaram um retorno duas vezes maior do que o investidor brasileiro conseguiria investindo em um fundo que replica o Ibovespa.
Se computasse a variação cambial, o retorno seria ainda maior: quase nove vezes o do Ibovespa.
Claro que aqui peguei uma janela específica. Se olhássemos esse mesmo gráfico desde 2016, quando a Bolsa começou a subir no Brasil, a conclusão seria diferente, mas o que quero mostrar é que essa ampliação de instrumentos à disposição trará incontáveis benefícios para os investidores individuais.
Neste sentido, casas independentes de análise, como a Inversa Publicações, passam a ser cada vez mais importantes para te ajudar a equilibrar todos os pratos.
Mas as novidades não param por aí.
A resolução da CVM trouxe mais três novidades.
Além dessa “permissão” para negociar os mais de 550 títulos já listados na B3, a CVM autorizou a emissão de BDRs que tenham por lastro ETFs (fundos que replicam um índice de referência, como o Ibovespa, por exemplo) e títulos de dívida negociados fora do país.
Assim como autorizou que empresas brasileiras listadas lá fora, como é o caso da XP Investimentos e da Stone, também emitam seus BDRs por aqui.
Ou seja, mais um leque de oportunidade que se abre aos investidores locais e um passo gigante no processo de desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil.
Inclusive, posso afirmar tranquilamente que esse movimento mostrou que a CVM está atenta ao estágio de maturidade do mercado e ciente do risco de evasão de recursos do país (e da B3) em busca de oportunidades nos mercados internacionais.
É, definitivamente, um novo mundo que se abre aos investidores brasileiros.
E como diria o pai da economia comportamental, Daniel Kahneman, a dificuldade da escolha aumenta à medida que as opções crescem.
Afinal, é sempre mais fácil escolher o sorvete quanto só existem três opções, não?
Por isso, te convido a receber minhas ideias de investimento sem conflitos de interesse semanalmente para acompanhar os próximos passos dessa decisão que deve trazer muitas consequências para o seu bolso. É 100% gratuito, basta clicar aqui.
Gostou dessa newsletter? Então me escreva no e-mail ideias@inversa.com.br
Um abraço e até a próxima!
Sem avalanche: Ibovespa repercute varejo e Galípolo depois de ceder à verborragia de Trump
Investidores seguem atentos a Donald Trump em meio às incertezas relacionadas à guerra comercial
Comércio global no escuro: o novo capítulo da novela tarifária de Trump
Estamos novamente às portas de mais um capítulo imprevisível da diplomacia de Trump, marcada por ameaças de última hora e recuos
Felipe Miranda: Troco um Van Gogh por uma small cap
Seria capaz de apostar que seu assessor de investimentos não ligou para oferecer uma carteira de small caps brasileiras neste momento. Há algo mais fora de moda do que elas agora? Olho para algumas dessas ações e tenho a impressão de estar diante de “Pomar com ciprestes”, em 1888.
Ontem, hoje, amanhã: Tensão com fim da trégua comercial dificulta busca por novos recordes no Ibovespa
Apetite por risco é desafiado pela aproximação do fim da trégua de Donald Trump em sua guerra comercial contra o mundo
Talvez fique repetitivo: Ibovespa mira novos recordes, mas feriado nos EUA drena liquidez dos mercados
O Ibovespa superou ontem, pela primeira vez na história, a marca dos 141 pontos; dólar está no nível mais baixo em pouco mais de um ano
A história não se repete, mas rima: a estratégia que deu certo no passado e tem grandes chances de trazer bons retornos — de novo
Mesmo com um endividamento controlado, a empresa em questão voltou a “passar o chapéu”, o que para nós é um sinal claro de que ela está de olho em novas aquisições. E a julgar pelo seu histórico, podemos dizer que isso tende a ser bastante positivo para os acionistas.
Ditados, superstições e preceitos da Rua
Aqueles que têm um modus operandi e se atêm a ele são vitoriosos. Por sua vez, os indecisos que ora obedecem a um critério, ora a outro, costumam ser alijados do mercado.
Feijão com arroz: Ibovespa busca recuperação em dia de payroll com Wall Street nas máximas
Wall Street fecha mais cedo hoje e nem abre amanhã, o que tende a drenar a liquidez nos mercados financeiros internacionais
Rodolfo Amstalden: Um estranho encontro com a verdade subterrânea
Em vez de entrar em disputas metodológicas na edição de hoje, proponho um outro tipo de exercício imaginativo, mais útil para fins didáticos
Mantendo a tradição: Ibovespa tenta recuperar os 140 mil pontos em dia de produção industrial e dados sobre o mercado de trabalho nos EUA
Investidores também monitoram decisão do governo de recorrer ao STF para manter aumento do IOF
Os fantasmas de Nelson Rodrigues: Ibovespa começa o semestre tentando sustentar posto de melhor investimento do ano
Melhor investimento do primeiro semestre, Ibovespa reage a trégua na guerra comercial, trade eleitoral e treta do IOF
Rumo a 2026 com a máquina enguiçada e o cofre furado
Com a aproximação do calendário eleitoral, cresce a percepção de que o pêndulo político está prestes a mudar de direção — e, com ele, toda a correlação de forças no país — o problema é o intervalo até lá
Tony Volpon: Mercado sobrevive a mais um susto… e as bolsas americanas batem nas máximas do ano
O “sangue frio” coletivo também é uma evidência de força dos mercados acionários em geral, que depois do cessar-fogo, atingiram novas máximas no ano e novas máximas históricas
Tudo sob controle: Ibovespa precisa de uma leve alta para fechar junho no azul, mas não depende só de si
Ibovespa vem de três altas mensais consecutivas, mas as turbulências de junho colocam a sequência em risco
Ser CLT virou ofensa? O que há por trás do medo da geração Z pela carteira assinada
De símbolo de estabilidade a motivo de piada nas redes sociais: o que esse movimento diz sobre o mundo do trabalho — e sobre a forma como estamos lidando com ele?
Atenção aos sinais: Bolsas internacionais sobem com notícia de acordo EUA-China; Ibovespa acompanha desemprego e PCE
Ibovespa tenta manter o bom momento enquanto governo busca meio de contornar derrubada do aumento do IOF
Siga na bolsa mesmo com a Selic em 15%: os sinais dizem que chegou a hora de comprar ações
A elevação do juro no Brasil não significa que chegou a hora de abandonar a renda variável de vez e mergulhar na super renda fixa brasileira — e eu te explico os motivos
Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA
Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária
Rodolfo Amstalden: Não existem níveis seguros para a oferta de segurança
Em tese, o forward guidance é tanto mais necessário quanto menos crível for a atitude da autoridade monetária. Se o seu cônjuge precisa prometer que vai voltar cedo toda vez que sai sozinho de casa, provavelmente há um ou mais motivos para isso.
É melhor ter um plano: Ibovespa busca manter tom positivo em dia de agenda fraca e Powell no Senado dos EUA
Bolsas internacionais seguem no azul, ainda repercutindo a trégua na guerra entre Israel e o Irã