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Corte nos juros e tensão política fazem o dólar subir mais de 2%, cravando a sétima alta seguida

Dólar

O dólar à vista passou por uma forte onda de alívio na segunda metade de maio, saindo de níveis próximos aos R$ 6,00 e chegando a ser negociado abaixo dos R$ 5,00 no começo de junho. Essa calmaria, no entanto, durou pouco: a moeda americana cravou hoje a sétima alta consecutiva — e motivos não faltaram para estressar o mercado de câmbio.

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Em meio ao novo corte de 0,75 ponto na Selic — e à possibilidade de novas baixas na taxa de juros no curto prazo — e à escalada nas tensões políticas domésticas, o dólar à vista fechou a sessão desta quinta-feira (18) em alta de 2,09%, a R$ 5,3708. Somente nesta semana, o salto acumulado da divisa já chega a 6,51%.

A bolsa, por outro lado, teve um dia relativamente tranquilo: o Ibovespa até abriu a sessão no vermelho, mas virou para alta ainda durante a manhã e terminou o pregão com ganhos de 0,60%, aos 96.125,24 pontos. Lá fora, o dia também foi ameno nos principais mercados acionários, com os índices da Europa e dos EUA não se afastando muito da estabilidade.

A decisão do Copom, no início da noite passada, pode ser divida em duas partes: a atuação momentânea e as sinalizações para os próximos passos. No lado imediato, o corte de 0,75 ponto na Selic veio em linha com as projeções do mercado — as curvas de juros de curto prazo já precificavam esse movimento.

No quesito das indicações futuras, o BC promoveu algumas mudanças em sua comunicação: por mais que a autoridade monetária tenha dito em maio que o corte de ontem seria o último do ciclo, o Copom deixou a porta aberta para mais uma "redução residual".

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Ou seja: uma eventual nova baixa na taxa de juros, se concretizada, será menos intensa — provavelmente de 0,25 ponto. E, considerando as menções à ociosidade da economia e à recuperação lenta do nível de atividade, a perspectiva é de manutenção da Selic em níveis baixos por algum tempo.

Esse quadro traz algumas implicações para a bolsa e para o câmbio. A Selic mais baixa diminui a rentabilidade das aplicações em renda fixa, estimulando uma migração de recursos para o mercado de ações, que pode oferecer retornos mais atrativos. Assim, o corte nos juros tende a dar impulso ao Ibovespa e à bolsa.

Por outro lado, a queda na Selic provoca uma redução no chamado "diferencial de juros" entre EUA e Brasil — a subtração entre as taxas brasileira e americana. E, quanto menor esse número, menos atrativas são as aplicações no país para os investidores que buscam retornos fáceis.

Claro, esse é um dinheiro de caráter mais especulativo. Ainda assim, é um montante relevante de moeda estrangeira que deixa de entrar no país — o que diminui a oferta de dólares por aqui e acaba pressionando a taxa de câmbio.

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O cenário de mais cortes na Selic também provocou reações no mercado de juros futuros. Os DIs mais curtos caíram, ajustando-se às sinalizações do Copom, enquanto as curvas mais longas subiram, dada a percepção de que o BC terá que subir as taxas no longo prazo:

Dito tudo isso: o Copom não foi o único fator de influência para as negociações nos mercados brasileiros nesta quinta-feira. O noticiário político turbulento inspirou cautela, embora a bolsa tenha ignorado esses fatores de risco — ao menos, por enquanto.

Tensões em Brasília

Ainda no front doméstico, os agentes financeiros reagiram à notícia da prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro — a ação faz parte do desdobramento da investigação que apura o esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O noticiário é especialmente delicado porque Queiroz foi preso num imóvel pertencente à Frederick Wassef, advogado dos Bolsonaro — ele disse estar no local há cerca de um ano.

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Os possíveis desdobramentos da operação e eventuais envolvimentos da família do presidente em atividades ilícitas podem deteriorar o ambiente político, que vinha passando por uma trégua recente. Por enquanto, a leitura do mercado é a de que o apoio demonstrado pelo Centrão ao governo tende a se tornar mais difícil com os eventos de hoje.

Além disso, a leitura dos investidores é a de que a operação poderá provocar reações agressivas por parte do presidente, reativando as tensões entre governo, Congresso e STF — o que, naturalmente, traria ainda mais incerteza a Brasília e colocaria qualquer pauta econômica em segundo plano.

Por fim, uma segunda notícia abalou a administração Bolsonaro no meio da tarde: o ministro da Educação, Abraham Weintraub — um importante aliado do presidente e homem forte dentro da chamada ala ideológica do governo — deixou o cargo.

Exterior cauteloso

Lá fora, as bolsas da Europa fecharam em queda, enquanto os índices americanos tiveram oscilações tímidas: o Dow Jones (-0,15%), o S&P 500 (+0,06%) e o Nasdaq (+0,33%) apenas flutuaram entre perdas e ganhos.

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Novamente, foi vista uma dualidade entre os potenciais pacotes de auxílio econômico nos EUA e a percepção de que um novo avanço da Covid-19 poderia provocar retrocessos na reabertura econômica do mundo.

Só que, nesta quinta-feira, tivemos um fator extra de tensão: os dados mais fracos que o esperado no mercado de trabalho americano. Na semana encerrada em 13 de junho, foram 1,5 milhões de novos pedidos de seguro-desemprego, número acima das projeções de analistas.

Top 5

Veja abaixo as cinco ações de melhor desempenho do Ibovespa nesta quinta-feira:

CÓDIGONOMEPREÇO (R$)VARIAÇÃO
BPAC11BTG Pactual units69,90+9,12%
CIEL3Cielo ON5,63+8,69%
CSNA3CSN ON11,65+4,39%
SULA11SulAmérca units43,74+4,14%
UGPA3Ultrapar ON18,86+4,09%

Veja também as cinco maiores quedas do índice:

CÓDIGONOMEPREÇO (R$)VARIAÇÃO
MULT3Multiplan ON21,81-3,45%
CMIG4Cemig PN11,36-3,07%
ENGI11Energisa units47,60-3,05%
AZUL4Azul PN21,93-3,05%
RAIL3Rumo ON23,46-2,66%
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