Blefe? Mesmo com cartas ruins, Ibovespa segue firme e engata a terceira alta seguida
O Ibovespa fechou em alta de mais de 3% e, com isso, voltou ao patamar dos 77 mil pontos, apesar dos dados preocupantes do mercado de trabalho nos EUA. O dólar à vista caiu e fechou a R$ 4,99
Quem joga pôquer sabe que nem sempre vence quem tem as melhores cartas. Sair com um par de ases é ótimo e abre o caminho para a vitória, mas, nos momentos adversos, uma boa dose de sangue-frio pode virar um jogo perdido — e o Ibovespa e as bolsas americanas tiveram nervos de aço nesta quinta-feira (26).
Às 10h00, horário de abertura do pregão por aqui, os investidores tinham acabado de receber uma péssima notícia dos Estados Unidos: os novos pedidos de seguro-desemprego no país dispararam e atingiram uma quantia recorde, comprovando que o surto de coronavírus vai deixar uma marca profunda na economia americana.
Com esse dado em mente e o sinal negativo visto nas bolsas da Europa, o Ibovespa entrou no jogo — vale lembrar que o índice brasileiro já vinha de duas sessões em alta, o que aumentava ainda mais a percepção de que o dia seria de perdas firmes por aqui.
Mas, ao fim da partida, o Ibovespa viu sua pilha de fichas aumentar mais um pouco. Para ser mais preciso, em 3,67%, aos 77.709,66 pontos — o maior nível de fechamento desde o dia 13. Apenas nessa semana, o índice já acumula ganhos de 15,86%.
- Eu gravei um vídeo para explicar a dinâmica por trás desse novo alívio nas bolsas. Veja abaixo:
O Ibovespa não foi o único vencedor da rodada desta quinta-feira: nos Estados Unidos, o Dow Jones subiu 6,38%, o S&P 500 avançou 5,94% e Nasdaq teve alta de 5,60%, também dando continuidade à sequência positiva vista nessa semana.
É claro que, se olharmos num horizonte mais amplo, tanto o Ibovespa quanto os índices americanos ainda amargam perdas expressivas — o que sempre estimula movimentos compradores. Mas como as bolsas do Brasil e dos EUA conseguiram sair por cima, após receberem cartas tão ruins?
Foco seletivo
Os investidores mostraram-se naturalmente mais cautelosos em relação aos números mais recentes do Departamento de Trabalho dos EUA. O total de novos pedidos de auxílio-desemprego chegou a 3,28 milhões na semana até 21 de março — um aumento de mais de 3 milhões em relação à semana anterior, quando apenas 282 mil pedidos foram feitos.
Trata-se do maior nível já registrado na série histórica do departamento — o recorde anterior era de 695 mil, marcado em outubro de 1982. O dado superou a média das projeções dos analistas consultados pela Business Insider, que apontava para cerca de 2,7 milhões de pedidos de seguro-desemprego na semana.
A forte elevação ocorre em paralelo à disseminação do coronavírus pelo território americano. Segundo dados compilados pela universidade John Hopkins, já são mais de 76 mil casos da doença e cerca de 700 mortes no país — a região de Nova York é a mais crítica nos EUA.
No mundo, já são mais de 500 mil pessoas infectadas e aproximadamente 23 mil óbitos confirmados por causa do coronavírus — autoridades do mundo todo têm incentivado o isolamento social e o fechamento dos comércios não-essenciais para tentar conter o avanço do vírus.
Essa situação pressiona especialmente os pequenos e médios negócios, que costumam ter uma situação de caixa mais apertada e, consequentemente, não conseguem suportar um período prolongado sem atividades — o que, infelizmente, ocasiona uma elevação no desemprego, conforme revelado pelos dados dos EUA.
Dito tudo isso, os mercados acionários optaram por não pesar a mão nessas informações. Por mais que o número de pedidos de seguro-desemprego seja alarmante, uma alta expressiva já era esperada — as projeções mais pessimistas trabalhavam com um cenário de 4 milhões de novas solicitações.
Ao invés de olhar para os dados em si, os investidores em bolsa preferiram se segurar à expectativa em relação aos pacotes de estímulo econômico e injeção de liquidez anunciados por diversos governos e bancos centrais do mundo, apostando que tais medidas vão conseguir frear o impacto econômico do surto do coronavírus.
Um pacote de US$ 2 trilhões já foi aprovado pelo Senado americano — e, a partir dos números preocupantes do mercado de trabalho, há até quem aposte que novas rodadas de auxílio serão disparadas. Assim, paradoxalmente, o dado ruim desencadeou uma onda positiva nas bolsas.
Dólar em queda no mundo
Essa leitura, no entanto, não se aplicou ao mercado global câmbio. Com os indícios de que a economia dos EUA será fortemente afetada pelo coronavírus, os investidores optaram por se desfazer da moeda americana, assumindo posições em outras moedas fortes.
Por aqui, o dólar à vista chegou a cair 1,17 na mínima, a R$ 4,9738. Acabou terminando num nível mais elevado, de R$ 4,9970 (-0,71%) mas, ainda assim, rompeu uma marca importante: não encerrava uma sessão abaixo dos R$ 5,00 desde 13 de março.
O índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta com as principais divisas do mundo — como o euro, a libra e o iene — caiu mais de 1% nesta quinta-feira, evidenciando o fortalecimento dessas moedas, que também são consideradas 'portos-seguros' em tempos de crise.
E mesmo em relação às divisas de países emergentes, o dia foi de desvalorização do dólar. Além do real, moedas como o peso mexicano, o rublo russo, o peso chileno e o rand sul-africano também fecharam em alta, mostrando uma menor aversão ao risco no câmbio.
Coronavírus avança
Por mais que o Ibovespa tenha se salvado de uma queda hoje, os novos números do surto de coronavírus no país podem trazer pressão às negociações nesta sexta-feira (27).
Há pouco, o ministério da Saúde informou que o Brasil já tem 2.915 casos confirmados e 77 mortes relacionadas à doença — um salto expressivo em relação aos números de quarta-feira (26), quando eram contabilizadas 2.433 pessoas infectadas e 57 óbitos.
O dado só foi revelado após o fechamento dos mercados e não foi repercutido na sessão de hoje. Em Wall Street, o EWZ — principal ETF de ações brasileiras negociado em Nova York — recuava 1,18% no after market por volta de 17h40.
Juros seguem em baixa
No mercado de juros futuros, os investidores digeriram os dados do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em janeiro. O indicador, uma espécie de prévia do PIB, avançou 0,24% no mês.
Além disso, o Banco Central (BC) também alterou sua projeção para o PIB em 2020, de alta de 2,2% para zero — corroborando o cenário de estagnação econômica por causa da crise do coronavírus.
Nesse cenário, os investidores promoveram ajustes negativos nas curva de juros de médio prazo, prevendo que será necessário manter a taxa Selic em níveis mais baixos por um período prolongado de tempo, de modo a estimular a atividade no país.
Veja abaixo como ficaram os principais DIs nesta quinta-feira:
- Janeiro/2021: de 3,40% para 3,49%;
- Janeiro/2022: de 4,50% para 4,43%;
- Janeiro/2023: de 6,03% para 5,70%;
- Janeiro/2025: de 7,46% para 7,02%.
Top 5
Veja abaixo os cinco papéis de melhor desempenho do Ibovespa na sessão de hoje:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
CVCB3 | CVC ON | 12,38 | +32,41% |
BRKM5 | Braskem PNA | 19,23 | +28,03% |
YDUQ3 | Yduqs ON | 32,34 | +20,72% |
GOLL4 | Gol PN | 13,04 | +19,20% |
COGN3 | Cogna ON | 5,85 | +17,00% |
Confira também as cinco maiores quedas do índice:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
BTOW3 | B2W ON | 56,11 | -6,48% |
PCAR3 | GPA ON | 66,32 | -5,26% |
SUZB3 | Suzano ON | 28,05 | -4,43% |
EMBR3 | Embraer ON | 10,13 | -4,16% |
TOTS3 | Totvs ON | 53,17 | -3,33% |
Vale (VALE3) é a mais barata do setor de mineração e sai ganhando com futuro promissor do minério de ferro
Eu, Matheus Soares, enxergo um grande potencial na commodity independentemente da crise de sua maior exportadora: a China — e a mineradora brasileira sai ganhando com isso
XP Malls (XPML11) vai pagar o segundo maior dividendo de sua história neste mês; veja quem tem direito a receber
De acordo com comunicado enviado ao mercado na noite de quinta-feira (18), o XPML11 distribuirá R$ 0,91 por cota neste mês
Boa Safra (SOJA3) supera o “El Niño” da bolsa e capta R$ 300 milhões em oferta de ações
Apesar do momento de seca da bolsa, a Boa Safra encontrou uma boa demanda para os papéis no mercado; preço por ação saiu a R$ 16,50
Bolsa hoje: Ibovespa sobe com Petrobras (PETR4) e sustenta os 125 mil pontos; Petz (PETZ3) dispara 40% após anúncio do fusão com Cobasi
RESUMO DO DIA: A madrugada foi agitada para o mercados, com novos ataques de Israel ao Irã em retaliação e o conflito no Oriente Médio concentram as atenções hoje, com o compromisso dos dois lados de que não haverá escalada de tensão — o que deve refletir também no Ibovespa. O petróleo chegou a saltar […]
Petrobras (PETR4): e se a melhor e pior notícia que a empresa poderia dar vierem juntas, o que seria das ações?
De uns tempos para cá, a Petrobras vem testando os nervos dos investidores. Há alguns dias, rumores de que os saudosos dividendos extraordinários que foram retidos pela companhia finalmente poderiam sair, o que animou o mercado — e fez as ações saltarem. Mas logo veio um potencial balde de água fria: Aloizio Mercadante poderia assumir […]
Bolsa hoje: Nova York e Petrobras (PETR4) contaminam Ibovespa, que fecha próximo da estabilidade; dólar tem leve alta a R$ 5,25
RESUMO DO DIA: Para acertar o alvo, às vezes é preciso mais de uma flecha, ainda que a mira esteja no ponto certo. Mesmo com as incertezas sobre os juros e a questão fiscal no ar, o Ibovespa conseguiu terminar o dia em tom positivo. O principal índice da bolsa brasileira ficou próximo da estabilidade […]
Smart Fit (SMFT3) vai virar “monstro”? Banco recomenda compra das ações e vê espaço para rede de academias dobrar de tamanho
Os analistas do JP Morgan calcularam um preço-alvo de R$ 31 para os papéis da Smart Fit (SMFT3), o que representa um potencial de alta da ordem de 30%
Ozempic que se cuide! Empresa de biotecnologia faz parceria para distribuir caneta do emagrecimento no Brasil e ações disparam quase 40%
Com o anúncio, a Biomm conquistou R$ 1,2 bilhão em valor de mercado na B3; a comercialização do similar do Ozempic deve ainda passar pelo crivo da Anvisa
Bolsa hoje: Vale (VALE3) não é suficiente e Ibovespa fecha em queda na esteira de Nova York; dólar cai a R$ 5,24
RESUMO DO DIA: O Ibovespa até tentou interromper o ciclo de quedas com o forte avanço do minério de ferro e a prévia do PIB, mas o tom negativo de Nova York falou mais alto e arrastou o principal índice da bolsa brasileira. Com isso, o Ibovespa terminou o pregão em baixa de 0,17%, aos […]
O fracasso das empresas “sem dono” na B3. Por que o modelo das corporations vai mal na bolsa brasileira
São vários exemplos e de inúmeros setores de companhias sem uma estrutura de controle que passaram por graves problemas ou simplesmente fracassaram
Leia Também
-
Vale (VALE3) é a mais barata do setor de mineração e sai ganhando com futuro promissor do minério de ferro
-
XP Malls (XPML11) vai pagar o segundo maior dividendo de sua história neste mês; veja quem tem direito a receber
-
Log (LOGG3) garante mais de R$ 500 milhões para o caixa com nova venda de galpões para fundo do BTG