Na semana passada, quando decidiu manter a taxa de juros dos EUA estável na faixa de 0% a 0,25% ao ano, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) também sinalizou que estava disposto a usar "todos os instrumentos" para dar suporte à economia do país. Pois a caixa de ferramentas começou a ser aberta nesta segunda-feira (15) — e as bolsas globais, incluindo o Ibovespa, gostaram do que viram.
O pregão de hoje pode ser dividido em duas etapas: antes das 15h, o tom era de cautela generalizada, em meio à maior percepção de risco entre os investidores; depois das 15h, o clima era de alívio com as novidades anunciadas pelo Fed.
Dando uma dimensão numérica à sessão: durante a manhã, o Ibovespa chegou a cair 2,85%, indo aos 90.147,92 pontos na mínima — lá fora, os mercados da Europa e dos EUA também apareciam no campo negativo. Mas, ao fim da sessão, o índice brasileiro recuava "apenas" 0,45%, aos 92.375,52 pontos.
- Eu gravei um vídeo para falar um pouco da dinâmica dos mercados na primeira metade desta sessão de segunda-feira — ou seja, antes do anúncio do Fed, quando a cautela era bem mais intensa. Veja abaixo:
Ok, ainda foi a quarta baixa seguida do Ibovespa — e isso depois de sete altas consecutivas. Mas, considerando o tom amplamente negativo visto durante a manhã, as perdas moderadas do fechamento tiram um peso das costas do índice.
O Fed anunciou no meio da tarde que vai começar a comprar diretamente um "portfólio amplo e diversificado" de títulos de dívida de empresas privadas que são negociados no mercado — ao todo, foram destinados US$ 75 bilhões ao programa.
O objetivo é dar sustentação às empresas, fornecendo liquidez e crédito para enfrentar a crise — e injetando mais recursos na economia americana. A novidade também provocou uma virada em Wall Street: o Dow Jones (+0,62%), o S&P 500 (+0,83%) e o Nasdaq (+1,43%) fecharam em alta após passarem boa parte do dia em queda.
A notícia, assim, foi capaz de neutralizar a forte cautela vista durante a manhã, quando temores em relação a uma segunda onda do coronavírus na Ásia e nos EUA empurraram os mercados acionários globais ao campo negativo.
Afinal, um eventual avanço da Covid-19, se confirmado, tende a atrasar o processo de recuperação econômica do mundo. China, Europa e EUA já estão relaxando as regras de isolamento, em maior ou menor grau, e uma nova onda da Covid-19 poderia causar retrocessos nesse movimento.
O mercado de câmbio, por outro lado, não se mostrou muito contagiado pela novidade do Fed. O dólar à vista fechou em forte alta de 1,98%, a R$ 5,1422, cravando a quarta alta seguida. A divisa também se afastou do momento de maior estresse — na máxima, foi a R$ 5,2252 (+3,62%) — mas não conseguiu ter um alívio tão intenso quanto o da bolsa.
Afinal, o cenário doméstico também trouxe fatores de preocupação aos investidores e, por mais que o exterior tenha melhorado, os agentes financeiros preferiram não se expor tanto ao risco. Assim, por mais que o Ibovespa tenha suavizado as perdas, o dólar serviu como proteção — e, com isso, furou novamente o nível de R$ 5,10.
Deixando o governo
Por aqui, os agentes financeiros domésticos precisaram lidar com um novo foco de preocupação: a saída de Mansueto Almeida do cargo de secretário do Tesouro Nacional — ele deixará o posto até agosto, ajudando no processo de transição.
Mansueto é bastante respeitado pelo mercado e tido como um dos pilares dos ajustes econômicos que vêm sendo conduzidos nos últimos anos no país — e, considerando isso, sua saída é vista como um mau sinal em relação ao futuro das reformas.
Esse aumento na percepção de que os ajustes econômicos tendem a ser deixados de lado sem o secretário do Tesouro elevou a aversão ao risco por parte dos investidores, por mais que o próprio Mansueto tenha destacado que o ministro Paulo Guedes é o grande fiador das reformas.
No fim da tarde, o ministério da Economia confirmou que o economista Bruno Funchal vai assumir o cargo em 31 de julho — ele foi secretário da Fazenda do Espírito Santo em 2017 e 2018, atuando diretamente no processo de saneamento das contas do estado.
Alívio nos juros
Durante a manhã, o mercado de juros futuros mostrou-se mais estressado, reagindo ao ambiente mais cauteloso em termos domésticos e externos. No entanto, a novidade do Fed provocou uma onda de alívio nos ativos globais — o que ecoou especialmente sobre os DIs curtos.
Os vencimentos de menor prazo também ficaram de olho na decisão do Copom, na próxima quarta-feira (17), e na expectativa de corte de 0,75 ponto na Selic:
- Janeiro/2021: de 2,15% para 2,12%;
- Janeiro/2022: de 3,07% para 3,05%;
- Janeiro/2023: de 4,12% para 4,13%;
- Janeiro/2025: de 5,68% para 5,71%.
Cielo dispara
No front corporativo, destaque para as ações ON da Cielo (CIEL3), em forte alta de 14,01%, a R$ 4,80. Mais cedo, o Facebook anunciou que começará a viabilizar transações de pagamento via WhatsApp no Brasil, tendo fechado parceria com a Cielo para o serviço.
Confira abaixo as cinco maiores altas do Ibovespa nesta segunda-feira:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
CIEL3 | Cielo ON | 4,80 | +14,01% |
VVAR3 | Via Varejo ON | 15,62 | +6,69% |
GOLL4 | Gol PN | 19,51 | +5,23% |
SUZB3 | Suzano ON | 38,49 | +4,00% |
MRVE3 | MRV ON | 16,87 | +3,18% |
Veja também as maiores baixas do índice:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
IRBR3 | IRB ON | 10,35 | -9,92% |
ELET3 | Eletrobras ON | 28,86 | -3,61% |
BPAC11 | BTG Pactual units | 60,81 | -3,49% |
ELET6 | Eletrobras PNB | 30,45 | -3,12% |
EMBR3 | Embraer ON | 8,58 | -2,72% |