Passado o feriado do Dia do Trabalho, os mercados brasileiros voltaram a operar normalmente nesta segunda-feira (4). E a reabertura das negociações foi marcada por um tom bem mais pessimista por parte dos investidores, tanto no Ibovespa quanto no dólar à vista.
Também, pudera: o noticiário doméstico e internacional esteve carregado de fatores de riscos nos últimos dias. E, para completar, os ativos locais começaram a semana com um peso nos ombros: a necessidade de correção, já que os mercados brasileiros estiveram fechados na última sexta-feira (1) — e, lá fora, o primeiro de maio foi bastante negativo.
O resultado não poderia ter sido diferente: o Ibovespa passou o dia em queda e fechou o pregão em baixa de 2,02%, aos 78.876,22 pontos, enquanto o dólar à vista subiu 1,51%, a R$ 5,5208 — e olha que a moeda americana chegou a bater os R$ 5,6123 na máxima (+3,19%).
- Eu gravei um vídeo para explicar a dinâmica dos mercados brasileiros nesta segunda. Veja abaixo:
A forte onda de aversão ao risco vista por aqui foi desencadeada por fatores internacionais e domésticos. Lá fora, declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, inspiraram cuidado e reacenderam os temores de novas turbulências geopolíticas, mesmo em meio à pandemia de coronavírus.
Desde a última sexta-feira, Trump voltou a culpar a China pela disseminação da doença e afirmou que os EUA não vão mais cortar as tarifas comerciais impostas ao país, descumprindo os acordos feitos antes do surto global.
A fala do presidente americano provocou fortes perdas em Wall Street já na sexta passada e contaminou os demais mercados globais neste início de semana: na Europa, onde as bolsas também estiveram fechadas no 1º de maio, as principais praças tiveram baixas de mais de 2% hoje.
E mesmo nos Estados Unidos, o tom dos investidores continuou sendo de cautela: o Dow Jones (+0,11%) e o S&P 500 (+0,42%) apenas flutuaram ao redor da estabilidade ao longo do dia, conseguindo exibir um leve desempenho positivo no fim da sessão.
Tensão doméstca
Além de toda a cautela externa, os mercados brasileiros também tiveram que lidar com uma forte prudência vinda do cenário local: o noticiário político contribuiu para manter os investidores em estado de alerta, altamente sensíveis a qualquer novidade vinda de Brasília.
Há dois pontos de turbulência: em primeiro plano, aparece a deterioração cada vez mais nítida nas relações entre o presidente Jair Bolsonaro e os demais poderes — nos últimos dias, ele tem centrado fogo no Supremo Tribunal Federal (STF).
No domingo (3), Boslonaro participou novamente de atos anti democracia e que pediam o fechamento do Congresso — uma postura que rendeu mais uma enxurrada de notas de repúdio de outras lideranças políticas e aumentou a percepção de crise em Brasília.
Ainda na capital federal, destaque para a aprovação, pelo Senado, do pacote de auxílio financeiro emergencial para Estados e municípios, no montante de R$ 125 bilhões — uma pauta que vem sendo chamada de 'bomba fiscal', dada a cifra elevada e a falta de contrapartidas para governadores e prefeitos.
Como o texto foi alterado pelos senadores, ele deve ser analisado novamente pela Câmara. E, considerando o estado das relações entre governo e Congresso, deve-se esperar pouca disposição para aliviar o tom do projeto.
Essa combinação de fatores domésticos e externos provocou a forte alta do dólar à vista. Apesar disso, o mercado de juros futuros mostrou-se relativamente comportado, com um ligeiro viés de alta nos vencimentos de médio e longo prazo.
As curvas curtas, por outro lado, fecharam em baixa, em meio à percepção de que a fraqueza na economia forçará o Banco Central a continuar cortando a Selic — mais cedo, o boletim Focus mostrou que o mercado trabalha com um cenário de juros em 2,75% ao fim do ano:
- Janeiro/2021: de 2,77% para 2,70%;
- Janeiro/2022: de 3,66% para 3,60%;
- Janeiro/2023: de 4,81% para 4,90%;
- Janeiro/2025: de 6,55% para 6,61%.
Balanços em foco
No front corporativo, diversas empresas que compõem o Ibovespa reportaram nesta manhã seus resultados trimestrais, com destaque para a Gol — a companhia aérea viu seu prejuízo disparar a R$ 2,28 bilhões no período, pressionada pelo dólar em alta e pelo coronavírus.
Como resultado, as ações PN da empresa (GOLL4) despencaram 10,08% nesta segunda e apareceram entre as maiores quedas do índice — veja abaixo a lista com os cinco papéis de pior desempenho:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
AZUL4 | Azul PN | 15,16 | -12,87% |
EMBR3 | Embraer ON | 7,72 | -10,75% |
GOLL4 | Gol PN | 11,15 | -10,08% |
CSNA3 | CSN ON | 8,23 | -8,15% |
BRML3 | BR Malls ON | 9,35 | -6,87% |
No lado oposto, destaque para os papéis do setor de telefonia e telecomunicações, com Telefônica Brasil PN (VIVT4) e Tim ON (TIMP3) liderando os ganhos:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
VIVT4 | Telefônica Brasil PN | 48,33 | +5,87% |
TIMP3 | Tim ON | 13,45 | +5,41% |
ABEV3 | Ambev ON | 11,76 | +3,70% |
MGLU3 | Magazine Luiza ON | 51,44 | +3,50% |
VVAR3 | Via Varejo ON | 9,50 | +3,49% |