O principal índice acionário da B3 fez nesta sexta-feira (9) mais uma jornada solitária. Sem ímpeto em meio à indefinição fiscal, o Ibovespa terminou a última sessão da semana em baixa, apesar do cenário positivo visto no exterior.
Em Nova York, o clima foi de animação, com os investidores continuando a avaliar as perspectivas de estímulos para a economia dos Estados Unidos, demonstrado pelas altas nos índices acionários.
Ainda assim, o Ibovespa terminou a semana no azul: alta de 3,68% no período, revertendo a baixa do índice no mês de outubro.
A bolsa brasileira já tinha iniciado o dia em queda, depois que os agentes financeiros locais repercutiram o resultado surpreendente do IPCA de setembro, optando por um movimento de realização de lucros, após a forte alta de 2,5% observada nesta quinta-feira.
Oscilando entre a baixa pela manhã, na contramão dos mercados internacionais, e o movimento de alta iniciado por volta do 12h, em meados da tarde o Ibovespa se firmou no terreno negativo.
Novamente, as incertezas sobre a austeridade fiscal deram as caras, reforçadas pelo ajuste de posições antes do feriado da segunda-feira (12).
"Há um receio de ficar posicionado antes desse feriado em um cenário de incertezas como este", diz Henrique Esteter, analista de investimentos da Guide. "Pesaram as ações da Petrobras e da JBS, enquanto do lado positivo vimos as varejistas."
Por fim, o Ibovespa fechou em queda de 0,45%, aos 97.483,31 pontos.
"O problema fiscal continua no radar, e, enquanto não tivermos posição clara sobre o Renda Cidadã, o mercado tende a apresentar bastante volatilidade", diz Igor Cavaca, analista da gestora Warren.
Ele também cita o discurso de hoje do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em que o banqueiro disse que o cenário das contas públicas conta como fator de turbulência no mercado.
Nosso podcast da semana discutiu as incertezas sobre o Renda Cidadã — e aproveitou também para fazer um balanço sobre os IPOs, que travaram na B3. Para conferir, é só dar play.
"O recado também já foi dado por agências de rating", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, que cita a sinalização de S&P sobre a alteração do rating brasileiro se não houver visibilidade para a a trajetória das contas públicas de 2021, conforme noticiou a Bloomberg ontem.
Nem aliança ajuda bolsa a ganhar
Nem um contexto favorável no dia de hoje para o cenário político contribuiu para uma alta da bolsa.
O sinal local positivo para os investidores foi a aparente aliança entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em torno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial.
O projeto dispõe a respeito de medidas permanentes e emergenciais de controle do crescimento das despesas obrigatórias e o reequilíbrio fiscal e integra o chamado Plano Mais Brasil, do qual fazem parte também a PEC dos fundos públicos e do pacto federativo.
Os dois esperam acelerar o processo de aprovação da medida, que é essencial para conter despesas e servirá de base para a criação do programa Renda Cidadã.
Em entrevista, Maia afirmou que se tiver que escolher uma prioridade número um para ser aprovada ainda em 2020, seria a PEC Emergencial. Guedes, por sua vez, agradeceu o apoio de Maia.
"Estamos juntos pelas reformas. O Brasil está acima de quaisquer diferenças que possamos ter, e elas são pequenas”, disse o ministro.
Top 5
A MRV foi impulsionada pelas prévias operacionais divulgadas pela companhia e terminou como o grande destaque positivo do dia. Confira as principais altas do Ibovespa hoje:
CÓDIGO | EMPRESA | PREÇO | VARIAÇÃO |
MRVE3 | MRV ON | R$ 18,24 | 8,51% |
MGLU3 | Magazine Luiza ON | R$ 98,15 | 6,84% |
CYRE3 | Cyrela ON | R$ 26,23 | 4,59% |
CVCB3 | CVC ON | R$ 15,57 | 4,22% |
GOLL4 | Gol PN | R$ 19,11 | 3,24% |
Confira também as maiores baixas do dia:
CÓDIGO | EMPRESA | PREÇO | VARIAÇÃO |
IRBR3 | IRB ON | R$ 7,18 | -7,24% |
JBSS3 | JBS ON | R$ 19,30 | -4,08% |
PETR3 | Petrobras ON | R$ 19,91 | -3,30% |
MRFG3 | Marfrig ON | R$ 14,20 | -3,27% |
CSAN3 | Cosan ON | R$ 66,24 | -3,16% |
Externo positivo
No exterior, as bolsas americanas exibiram altas firmes.
Em meio a idas e vindas, os investidores avaliam as possibilidades de um pacote de estímulos à economia do país, ponderando se este será amplo ou parcial e se virá à tona antes da eleição de 3 de novembro.
Depois de tantas reviravoltas nos últimos dias em torno dos pacotes de estímulos à economia americana, o mercado busca sinais de novas esperanças. No fim da tarde de ontem, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, retomaram a conversa sobre o pacote de estímulos por telefone.
No fim da sessão, o S&P registrou ganhos de 0,78%, o Dow Jones, 0,49%, e a Nasdaq, 1,16%.
A novidade repercutiu bem nas bolsas asiáticas durante a madrugada, com a maioria delas fechando a sessão em alta.
Na Europa, os índices acionários em Londres (FTSE100) e em Paris (CAC-40) fecharam em alta superiores a 0,65%, enquanto em Frankfurt (DAX) a sessão foi encerrada próxima da estabilidade.
Dólar sofre queda global
O dólar, por sua vez, seguiu um movimento de desvalorização de escala global em razão do aumento da busca por risco e tem perda firme. A moeda americana operou toda a sessão em queda, não tendo apresentado alta em nenhum momento do dia.
O desempenho refletiu a busca ao risco nos mercados globais, exemplificado pela altas de bolsas americanas e também das europeias, o que fez o dólar se desvalorizar globalmente.
O Dollar Index, que compara a divisa a uma cesta de moedas como euro, libra e iene, recua 0,56%, para 93,08, nível próximo das mínimas de 52 semanas.
No fim do dia, moeda americana caiu 1,11%, cotada a R$ 5,5264. Frente a moedas pares do real, como o peso mexicano e o rublo russo, o dólar perdeu ao menos 0,25%.
"Tem muita expectativa de estímulo e isso anima o investidor, deixando o dólar fraco", diz Roberto Padovani, economista do banco BV. "A gente se beneficia disso hoje."
Juros acompanham, ignorando IPCA
Enquanto a expectativa dos analistas apontava para uma alta de 0,54%, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta manhã que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve uma alta de 0,64% no mês passado, o maior resultado para o período desde 2003.
Apesar da alta, a visão disseminada entre analistas é que a inflação permanece em um nível comportado para manter o atual patamar da política monetária.
"Apesar das recentes pressões sobre os preços dos alimentos, o núcleo e a inflação de serviços significativamente abaixo da meta devem continuar dando conforto ao banco central no curto e médio prazo", escreveu o economista-sênior para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, em relatório.
Ramos diz ainda que a elevada ociosidade do mercado de trabalho deve ser um dos fatores a contribuir para manter a inflação bem ancorada, na avaliação do banco.
"Sem dúvida, a queda do dólar frente ao real e aos nossos pares traz os prêmios de risco para baixo", diz Paulo Nepomuceno, operador de renda variável da Terra Investimentos.
Veja o fechamento das taxas alguns contratos:
- Janeiro/2021: 2,00% para 1,97%
- Janeiro/2022: estável em 3,23%
- Janeiro/2023: 4,70% para 4,67%
- Janeiro/2025: 6,61% para 6,55%