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Apetite a risco é diferente de suportar o risco

bull market touro

Seguindo uma dica do blog da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), vou pedir sua atenção neste domingo para tratar da diferença entre apetite ao risco e capacidade de lidar com os riscos. Tema que parece interessante nesse atual momento de mercado, onde as oscilações do Ibovespa e do dólar destroem convicções.

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Tá difícil de entender a diferença? Com a Selic nas mínimas e longe do seu 1% ao mês, você se vê “empurrado” a diversificar e aceita comprar cotas de um fundo de ações (FIA). Você olha a reputação da casa, o rendimento passado, vê também que o fundo chegou a ter uns tombos de 15% em um mês, mas voltou como um foguete, e acha que consegue “encarar” algo do tipo sem problema. Foco no longo prazo!

No entanto, quando o período ruim chega (e ele sempre chega) e você sente o “calor” de ver sua cota caindo 15%, 20% ou até mais, você descobre que não tem capacidade de lidar com isso. Sofre (e perder dinheiro causa dor física), abandona o fundo na mínima, xinga o gestor, de forma pública se possível, e fala que nunca mais volta para esse cassino de bolsa e afins. Longo prazo que nada, até lá estarei morto e pobre! Volta pro seu hiperfundo qualquer coisa com 4% de administração e o "risco" de ganhar um carro.

O exemplo foi com um FIA, mas serve para o fundo de renda fixa com crédito privado, aquelas debêntures que pagam IPCA mais 10%, com a irresistível isenção de Imposto de Renda, e outros investimentos.

Ou como escreveu a CVM: O apetite é a quantidade de risco que o investidor está disposto a tomar visando a determinada recompensa. A capacidade é a habilidade de suportar perdas sem prejudicar seus objetivos financeiros.

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Ao estudo

Vou utilizar o material da CVM, que está no blog “Penso, Logo Invisto?”, e o texto original que inspirou a postagem, “Risk Profiling Through A Behavioral Finance Lens”, de Michael Pompian, do Instituto CFA. O texto é voltado para quem trabalha dando conselhos de investimento, mas creio que nos ajuda na difícil tarefa de descobrir quem somos como investidores.

Certamente o leitor já preencheu algum questionário para definir seu perfil de investidor no banco ou corretora, e tem sua classificação como conservador, arrojado, diferenciado e afins. A bronca de Pompian é justamente com a qualidade e a capacidade desses questionários em medir coisas diferentes como apetite a risco e a capacidade de lidar com o risco quando ele vira realidade.

A saída proposta pelo estudioso é usar ferramentas da economia comportamental para saber quais produtos e estratégias são mais indicados para cada tipo de investidor.

O que é risco?

Bom, antes de seguirmos adiante precisamos combinar algumas coisas. A primeira delas é: o que é risco? Podemos fazer um debate infindável aqui sobre o tema, mas para estarmos na mesma página, vamos falar que risco é a chance das coisas não saírem como o planejado.

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Feito isso, podemos falar que temos riscos conhecidos, riscos desconhecidos e os famosos “desconhecidos desconhecidos”, algo que ignoramos que desconhecemos (referência ao ‘unknown unknowns’ do ex-secretário americano Donald Rumsfeld”).

Seguindo o texto de Pompian, você ou seu consultor sabem quanto risco conhecido ou desconhecido você suporta? Vamos tomar risco conhecido como “risco normal”, algo que é compreensível e quantificável utilizando dados históricos e alguns parâmetros. Digamos até dois desvios padrão da média. Há o “risco anormal”, algo que ocorre a cada dez ou 20 anos, mas é devastador, provocando três ou mais desvios padrão da média.

A ideia de Pompian é simples, a ocorrência de riscos desconhecidos pode levar os investidores a atuar de forma (mais) irracional. Então, devemos considerar fazer um exercício sobre nossas possíveis reações aos riscos conhecidos e, principalmente, desconhecidos.

Saber essa capacidade de tolerar os riscos é chave para o futuro de um plano de investimentos, ou sobreviver ao mercado. No fundo, creio que só descobrimos essa capacidade quando tomamos umas porradas dessas.

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Duas grandes categorias

Seguindo as definições de Pompian, finanças comportamentais tentam entender e explicar o comportamento real do investidor em contraste com as teorias que nos dizem como ele deveria se comportar.

A forma como os investidores e o mercado pensam e se sentem se reflete na forma como eles se comportam ao tomarem decisões de investimento. E alguns comportamentos são inconscientes, modelados por experiências passadas, crenças pessoais, coisas que escapam à lógica e à razão.

Essas influências podem ser categorizadas e identificadas como vieses comportamentais e isso tem influência sobre a percepção e tolerância ao risco.

Pompian montou sua forma de categorizar os vieses (há inúmeros estudos e abordagem sobre o tema). Há vieses cognitivos e comportamentais. Não vou descer nos detalhes, mas a mensagem é que vieses de cognição podem ser moderados, é possível “melhorar” ou “moderar”, por assim dizer, a forma como raciocinamos.

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Com vieses comportamentais/emocionais não há muito o que fazer. É muito difícil mudar a forma como uma pessoa se sente. Então, a recomendação de Pompian é que temos de nos “adaptar” a esses vieses (como aversão à perda, excesso de confiança, autocontrole).

Detalhe importante, essa melhora ou adaptação de vieses tem de ser feita considerando o seu nível de renda, já que esse é fator objetivo que limita a capacidade de tomar risco. Ou em português claro, quanto desaforo seu bolso aguenta.

Os 4 tipos de investidor

Para Pompian, todo investidor deveria ser capaz de compreender essa relação entre o que quer (apetite) e o que pode (capacidade) em termos de risco.

Para ajudar nessa compreensão, Pompian lança mão de outro conceito criado por ele, o “Tipo de Investidor Comportamental” (TIC). São quatro tipos classificados de acordo com os vieses cognitivos ou comportamentais.

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O ponto destacado pelo autor é que tanto os investidores mais avessos ao risco quanto os mais propensos são dominados por vieses emocionais. No meio, está o público mais afetado pelas questões cognitivas, portanto são os mais suscetíveis às ações de educação financeira. Se reconhecer entre as categorias é importante para você fazer as perguntas certas para seu consultor e para você mesmo.

Exemplo: Investidores mais emocionais precisam focar em como o plano de investimento pode afetar assuntos emocionais, como segurança financeira, aposentadoria, legado para a família.

Vamos ver uma breve descrição desses quatro tipos e a orientação a cada um deles (cortesia da CVM):

Concluindo, tenha consciência dos riscos conhecidos, desconhecidos e como você de fato reagiria a eles. Tente saber quais vieses são preponderantes, quais podem ser melhorados (cognitivos) e a quais você tem de se adaptar (comportamentais). Se identificou com alguma das classificações acima?

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Segue o link para o blog da CVM e o link para o estudo completo. Lembrando que essa abordagem não é definitiva, mas apenas uma forma prática e objetiva de tentar uma avaliação própria ou de clientes.

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