Talvez o clichê do mundo corporativo que melhor se aplique ao bilionário Elon Musk seja o famoso skin in the game - a pele no jogo, em uma tradução livre.
Em 2016, o empresário excêntrico (ou visionário, como preferem seus seguidores) passou semanas dormindo no chão de uma fábrica da Tesla para evitar mais atrasos no lançamento de seu Model 3.
Outro exemplo controverso desse traço de personalidade foi sua afirmação, em novembro do ano passado, de que quem trabalha “apenas” 40 horas por semana nunca mudará o mundo.
Mas talvez nenhum desses episódios seja tão emblemático quanto a concentração do patrimônio de Musk em ações das empresas que ajudou a construir.
Cerca de 99% da fortuna do bilionário, avaliada em 23 bilhões de dólares, segundo a Forbes, está aplicada em papéis da montadora Tesla e da fabricante de foguetes SpaceX.
Por esse motivo, a liquidez de seus ativos é bastante limitada, e qualquer movimentação pode afetar tanto o equilíbrio de poder quanto o valuation de suas “crias”. Na prática, o multi bilionário não tem o mesmo acesso a recursos que a maioria de seus pares.
“Algumas pessoas acham que eu tenho muito dinheiro. Na verdade eu não tenho”, disse Musk na última quarta-feira (4) em um depoimento em Los Angeles, após confirmar o valor de seu patrimônio.
O bilionário foi absolvido pelo juri nesta sexta-feira por ter chamado um mergulhador britânico de pedófilo em seu Twitter, quando um grupo de adolescentes ficou preso em uma caverna na Tailândia em julho de 2018.
Vernon Unsworth pedia uma indenização no valor de 190 milhões de dólares. Dependendo da severidade de uma eventual condenação, Musk poderia ter de se desfazer de parte de seus papéis.
O bilionário sem dinheiro
O desgosto de Elon Musk por uma carteira balanceada não vem de hoje. Desde que vendeu sua startup de sofware Zip2, em 1999, por US$ 300 milhões e sua participação no PayPal anos depois por US$ 1,4 bilhão, o bilionário segue apostando todas as suas fichas nos mesmos cavalos.
Seus investimentos na Tesla e na SpaceX no início da década passada rapidamente consumiram a maior parte de sua fortuna feita no Vale do Silício.
Em 2018, toda a remuneração de Musk no comando da Tesla foi convertida em ações.
E para deixar seu caixa ainda mais deficitário, o empreendedor carrega US$ 500 milhões em dívidas com bancos.
Seus credores, o Morgan Stanley e o Goldman Sachs possuem como garantia quase metade de sua participação nas companhias.