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The Economist volta a destacar o Brasil dez anos depois de capa onde “tudo deu errado”; será que a revista vai acertar desta vez?

Capas do The Economist com o presidente Lula à frente, fazendo referência ao Brasil decolando, capa clássica da revista

Capas do The Economist com o presidente Lula à frente

Dizem que apenas os mal informados são otimistas. Mas até mesmo os bem informados estão começando a destorcer o nariz para o Brasil. Ao menos é o que diz a The Economist, em uma publicação da última quarta-feira (02). 

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A prestigiada revista britânica ficou famosa por suas capas envolvendo o Brasil. Em 2009, o título Brazil takes off (“Brasil decola”, em tradução livre), na qual o Cristo Redentor aparece voando sobre o Corcovado, virou piada menos de quatro anos depois.

Fonte: The Economist (2009)

Quatro anos mais tarde, a The Economist foi na direção oposta ao estampar a capa How Brazil blown it? (“Como o Brasil estragou tudo?”). Em 2016, ano do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, veio a reportagem The betrayal of Brazil (“A traição do Brasil”).

Dez anos depois de “estragar tudo”, a matéria da vez não foi para capa, mas dá uma perspectiva positiva para o terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

São diversos os fatores que fazem o futuro parecer melhor, de acordo com a publicação. A aprovação da reforma tributária, a nova âncora fiscal e a própria figura conciliadora do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fizeram as projeções da pasta para o PIB de 2023 sair de 1,9% para 2,5%. Para 2024, a expectativa é de um crescimento de 2,3%.

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Onde tudo começou: o que desanima no Brasil?

Antes de falar do que gera interesse externo em terras brasileiras, é preciso ponderar que nem sempre o Brasil foi visto com bons olhos. 

O Partido dos Trabalhadores do qual Dilma e Lula fazem parte não é conhecido pelas políticas de austeridade. Muito pelo contrário: o descontrole das contas públicas foi o que garantiu a aversão do mercado financeiro ao atual presidente. 

Após assumir, cerca de 90% dos gestores de fundos de investimento estavam céticos em relação ao terceiro mandato de Lula. O número caiu para 44% seis meses depois

No entanto, muito antes de Lula, os investidores internacionais já estavam de olho no Brasil. Os investimentos diretos no país (IDP) dobraram entre 2021 e 2022 na gestão de Jair Bolsonaro, ainda que a imagem do ex-presidente também não fosse positiva lá fora.

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Foram mais de US$ 90 bilhões (R$ 432 bilhões, nas cotações atuais) injetados por estrangeiros, segundo dados do Banco Central. 

“Os investidores estão definitivamente olhando para o Brasil agora de uma forma que não acontecia há dez anos”, diz Robin Brooks, do Institute of International Finance em Washington.

Reformas aquecem os motores da economia

A principal ponte entre Lula e o mercado financeiro é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O ex-prefeito de São Paulo conseguiu costurar um acordo com Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, para destravar a PEC da reforma tributária, parada no Congresso há mais de três décadas. 

Ainda que o primeiro teste de fogo tenha acontecido na Câmara e o texto esteja sob análise do Senado, há expectativas de que o projeto seja aprovado ainda este ano.

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A reforma tributária unirá impostos sobre bens e serviços em dois impostos sobre valor agregado (IVA), sendo um federal e outro local — leia mais sobre reforma tributária aqui. No primeiro ano após a implementação, o PIB poderia crescer 1,5%, segundo projeções do Banco Central. 

O ganho de eficiência gerado pela renovação do método fiscal salta aos olhos. Em 2019, o Banco Mundial estimou que as empresas precisam de 1.500 horas por ano para cumprir a legislação tributária brasileira. Acontece que a média global é de 233 horas.

O novo arcabouço fiscal também tem as digitais do ministro e segue pelo mesmo caminho. 

A nova regra que limita os gastos públicos deve auxiliar na contenção de despesas, tendo em vista que a dívida pública corresponde a 74% do PIB — isso nas contas do Banco Central. O Fundo Monetário Internacional estima que essa relação possa chegar a 90%. 

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Por falar no Banco Central do Brasil…

Não é novidade que Lula e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, não mantêm uma boa relação nos primeiros meses de governo. 

O presidente do Brasil e do BC trocaram farpas sobre a taxa de juros, que foi reduzida recentemente de 13,75% para 13,25% ao ano, uma queda de 0,50 ponto percentual.

Lula não comentou o corte dos juros que tanto criticava — as manifestações ficaram a cargo de Haddad, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e outros políticos influentes

O BC deve seguir com o corte de juros nas próximas reuniões, o que fará o Brasil sair da lista de países com as maiores taxas de juros do planeta. 

Estrada sinuosa

A perspectiva é boa para o Brasil. O caminho, porém, ainda precisa ser pavimentado até o sucesso à brasileira. 

Isso porque não é certo se o governo conseguirá aprovar todas as medidas de organização das contas públicas, ainda que elas estejam bem encaminhadas no Congresso.

Ouvida pela reportagem da The Economist, Vilma da Conceição Pinto, diretora da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, entende que há uma dificuldade em recuperar o dinheiro da evasão fiscal e que o governo precisará de tempo para aprovar novos impostos, visando o aumento da arrecadação.

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Estima-se que o governo federal consiga coletar apenas US$ 18 bilhões (R$ 86,4 bilhões) em impostos em 2024. A isenção fiscal de automóveis custou cerca de US$ 300 milhões (R$ 1,440 bilhão) e a perspectiva de extensão do programa à chamada linha branca — isto é, geladeiras, fogões, máquinas de lavar, etc — devem reduzir ainda mais a entrada de dinheiro nos cofres públicos. 

Ao mesmo tempo, Lula já aumentou gastos sociais nos primeiros 100 dias de governo em US$ 24 bilhões (R$ 112 bilhões) no começo do ano. ”O Brasil tem enorme potencial, mas consistentemente tem afundado sob seu próprio peso”, destaca a publicação. 

Seja como for, o Brasil sempre esteve nas capas de revista devido ao seu potencial. Basta saber se o Cristo irá decolar ou afundar nas próximas edições da The Economist.

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