Quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, a ideia era dominar o país com uma invasão rápida e incontestável. Mais de um ano depois, o que se vê é Kiev resistindo com o apoio do Ocidente e o presidente russo, Vladimir Putin, se desdobrando no front da guerra.
Uma das estratégias usadas pelo chefe do Kremlin para manter a supremacia russa foi recrutar reservistas — um plano que provocou uma fuga em massa do país, já que os cidadãos em idade de combate temeram a convocação.
Não foi suficiente, e Putin teve que lançar mão de forças paralelas para enfrentar uma Ucrânia armada pelos EUA, pela Europa e outros aliados. Foi aí que o grupo Wagner, uma força liderada por mercenários que contava com o apoio do empresário russo Yevgeny Prigozhin, entrou em cena.
O grupo atua recrutando imigrantes ilegais, especialmente os vindos da África, e presos, com a promessa de cidadania e liberdade caso sobrevivam aos confrontos mortais na Ucrânia.
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Wagner entra em ação
Desde que a guerra começou, o grupo Wagner passou a vasculhar os centros penitenciários russos em busca de centenas de prisioneiros nacionais ou estrangeiros — muitas vezes com o próprio Prigozhin recrutando os combatentes.
Antes de ir ao front, essas pessoas são recrutadas. Em poucas semanas, elas aprendem métodos de combate comuns, que são extremamente resumidos, o que torna a missão na guerra ainda mais perigosa.
A ação do Wagner é tão intensa que chegou a impactar a população carcerária na Rússia. Um levantamento feito em novembro pelo site Mediazona revelou que, em dois meses, o número de homens nas prisões do país teve uma queda de 23 mil, de um total de 349 mil.
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O tiro pela culatra de Putin
O plano de Putin parecia perfeito: trocar sentenças e ilegalidade por liberdade e cidadania após a luta na guerra da Ucrânia — mas o tiro saiu pela culatra.
O homem forte do Kremlin não contava com dois entraves: os recrutados estavam morrendo em massa no front de batalha, desencorajando outros presos a se alistarem, e o Wagner começou a ficar poderoso demais.
O grupo ficou tão poderoso que, em junho deste ano, Prigozhin se rebelou contra o governo russo e liderou uma insurgência, que ameaçou lançar Moscou em uma guerra civil e derrubar Putin. O empresário, no entanto, recuou, acabou exilado em Belarus e foi visto poucas vezes em público desde então.
Putin, claro, manifestou sua indignação na ocasião do motim fracassado e prometeu punir todos os envolvidos na "rebelião armada", acusando-os de traição ao estilo "facada nas costas".
Nesta quarta-feira (23), a imprensa internacional repercute a notícia de que o nome de Prigozhin constaria na lista de passageiros de uma aeronave da Embraer que caiu durante um voo entre Moscou e São Petersburgo com sete passageiros e três tripulantes a bordo.
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Putin e Prigozhin: anjos e demônios
A atuação do Wagner na Ucrânia trouxe à cena a figura de Prigozhin, oligarca que controlava várias empresas russas. Elogiado e demonizado, era crescente o debate sobre o quão perto ele realmente estaria de Putin quando liderava os mercenário, de quais privilégios desfrutava e até mesmo se ele nutria ambições presidenciais.
Prigozhin agia como pessoa física — sua relação com o Estado era informal e, portanto, frágil, e poderia terminar sem aviso prévio. Ele nunca esteve perto o suficiente de Putin para ser confiável em nível governamental.
A notoriedade do empresário começou após a anexação da Crimeia. Os conflitos em Donbass, como é conhecida a região leste da Ucrânia, mais o impasse da Rússia com o Ocidente abriram espaço para táticas geopolíticas cinzentas que as instituições oficiais teriam dificuldade em oferecer.
O oligarca começou a usar ferramentas informais de influência — mercenários e mecanismos de mídia — que eram novas na Rússia e permitiam que o país operasse fora de vista e sem ser responsabilizado.
Prigozhin atingiu o alvo: se o governo fosse incapaz de resolver certas tarefas — ou não quisesse ser visto na execução delas —, essas ferramentas quase estatais poderiam preencher a lacuna. Putin gostou da abordagem, que também está sendo usada na guerra na Ucrânia.
O chefe do Kremlin concordou em terceirizar certas funções do governo, mas não legitimou Prigozhin. Pelo contrário, o presidente russo, vislumbrando a ascensão do empresário, começou a ordenar, nos meses antes da insurreição, que o Wagner tirasse o pé do acelerador no front de batalha.
Foi então que os problemas entre o governo russo e Prigozhin se acentuaram, com o empresário criticando decisões do Ministério da Defesa e liderando um motim contra Moscou.