Em 2019, quando a Apple reportou pela última vez uma queda nos lucros, Wall Street só podia colocar a culpa na estagnação das vendas de smartphones. Desta vez, outros fatores abocanharam uma fatia da maçã.
Os bloqueios na China — que atrapalharam a produção do iPhone 14 Pro e do iPhone 14 Pro Max —, a queda da demanda por smartphones em meio à aceleração da inflação e o dólar mais forte são alguns dos motivos pelos quais a Apple viu seu lucro líquido cair 13% entre outubro e dezembro do ano passado na comparação com o mesmo período do ano anterior, para US$ 29,998 bilhões.
A receita, por sua vez, somou US$ 117,154 bilhões no período, um resultado 5,5% menor do que o obtido no mesmo trimestre de 2021 e também o pior desempenho desde 2016.
Ainda que os analistas e investidores já esperassem por resultados mais fracos, Wall Street penalizou as ações da Apple no after market em Nova York: os papéis AAPL chegaram a cair mais de 5% assim que os resultados foram anunciados.
Um trimestre difícil
O trimestre representa uma perda significativa para a Apple — e a primeira baixa nos lucros em relação às projeções em quase sete anos.
A queda de recordes negativos não parou por aí: essa também foi apenas a segunda perda de receita da Apple desde agosto de 2017, com as vendas ficando mais de 3% abaixo das estimativas.
Veja como a Apple se saiu em relação às projeções da Refinitiv:
- Lucro por ação: US$ 1,88 contra US$ 1,94 estimado, queda de 10,9% ano a ano;
- Receita: US$ 117,15 bilhões contra US$ 121,10 bilhões estimados, queda de 5,5% ano a ano;
- Receita do iPhone: US$ 65,78 bilhões contra US$ 68,29 bilhões estimados, queda de 8,17% ano a ano;
- Receita do Mac: US$ 7,74 bilhões contra US$ 9,63 bilhões estimados, queda de 28,66% ano a ano;
- Receita do iPad: US$ 9,40 bilhões contra US$ 7,76 bilhões estimados, alta de 29,66% ano a ano;
- Receita de outros produtos: US$ 13,48 bilhões contra US$ 15,23 bilhões estimados, queda de 8,3% ano a ano;
- Receita de serviços: US$ 20,77 bilhões contra US$ 20,67 bilhões estimados, alta de 6,4% em relação ao ano anterior;
- Margem bruta: 42,96% versus 42,95% estimado.
"Como o valor na nova geração de iPhones manteve o mesmo ticket da anterior, a desaceleração é facilmente atribuída a uma queda nos volumes: com a recessão batendo na porta, não está fácil fazer o upgrade", diz Richard Camargo, analista da Empiricus.
Ele destaca que a única vertical de negócios a apresentar crescimento foi a de serviços, que compila as receitas da Apple Store, do iCloud e outros. "Nesta vertical, a Apple teve receitas de US$ 20,7 bilhões, crescimento de 6,5% na comparação anual", afirma.
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Apple avisou antes
Durante a teleconferência de resultados do trimestre passado, o CFO da Apple, Luca Maestri, alertou que, embora o desempenho em 2022 fosse considerado bom, as coisas ficariam difíceis em 2023.
Embora Maestri não tenha fornecido orientação específica para o período, citando “incerteza contínua em todo o mundo”, ele ofereceu uma pista sobre o que a Apple tem reservado para os próximos meses.
Especificamente, o executivo espera que o desempenho da receita desacelere na comparação anual. O principal problema, disse ele aos acionistas, é que a empresa espera quase 10 pontos percentuais de efeitos negativos do câmbio.
As vendas de Mac, explicou ele, também “cairão substancialmente” em comparação com o crescimento que o negócio experimentou durante a pandemia.
A Apple não forneceu orientações para o atual trimestre encerrado em março. A empresa não fornece projeções desde 2020, em princípio citando a incerteza causada pela pandemia.