Selic cai, mas rotativo do cartão não para de subir e vai a 445,7%; veja o que mais a nota de crédito do Banco Central revelou
Além dos juros do cartão, o BC também divulgou dados sobre o endividamento das famílias e inadimplência dos consumidores
Tema de fortes debates neste momento, o juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito subiu 4,4 pontos porcentuais de julho para agosto, informou o Banco Central. A taxa passou de 441,3% (dado revisado) para 445,7% ao ano, mesmo com o início do ciclo de queda da taxa Selic no mês passado.
O número é bastante destoante com o que vem sendo discutido nos corredores do BC e na sala de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Afinal, o juro básico da economia brasileira está em 12,75% ao ano — e deve cair ainda mais nos próximos encontros.
A modalidade emergencial de crédito está no centro das discussões econômicas e políticas do País neste momento devido às taxas mais caras do mercado. Atualmente, o tema está em tramitação no Senado, dentro do projeto de lei do Desenrola. A expectativa é de votação até a próxima quinta-feira (28).
Na Câmara, onde a matéria já foi aprovada, ficou definido que os juros do rotativo e do parcelado não poderão ultrapassar 100% do principal da dívida, caso os bancos não cheguem a um acordo sobre o assunto, chancelado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), em até 90 dias da entrada em vigor da lei.
Já no caso do parcelado, o juro caiu de 198,2% (dado revisado) para 194,5% ao ano entre julho e agosto. Considerando o juro total do cartão de crédito, que leva em conta operações do rotativo e do parcelado, a taxa passou de 101,9% (dado revisado) para 101,5%.
Além do rotativo do cartão de crédito
A taxa média de juros no crédito livre também mostrou redução em agosto ante julho. O porcentual passou de 43,8% ao ano para 43,5% ao ano. No oitavo mês de 2022, a taxa, por sua vez, era mais baixa, de 40,6%.
Para as pessoas físicas, a taxa média de juros no crédito livre passou de 58,3% para 57,7% ao ano de julho para agosto. No segmento de pessoas jurídicas, a taxa variou de 23,0% para 22,6% entre os dois meses.
Cheque especial
Entre as principais linhas de crédito livre para a pessoa física, o cheque especial mostrou estabilidade entre julho e agosto, com taxa de 132,0% ao ano. No crédito pessoal, a taxa passou de 42,6% para 42,1% ao ano.
Desde 2018, os bancos estão oferecendo um parcelamento para dívidas no cheque especial. A opção vale para débitos superiores a R$ 200. Em janeiro de 2020, o BC passou a aplicar uma limitação dos juros do cheque especial, em 8% ao mês (151,82% ao ano).
Juros da compra de carros
Os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central mostraram ainda que, para aquisição de veículos, os juros foram de 26,1% ao ano em julho para 26,2% em agosto.
Juros no crédito total
A taxa média de juros no crédito total, que inclui operações livres e direcionadas (com recursos da poupança e do BNDES), foi de 31,1% ao ano em julho para 30,7% ao ano em agosto. No oitavo mês de 2022, estava em 29,1%.
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Custo de crédito
Já o Indicador de Custo de Crédito (ICC) manteve estabilidade em agosto ante julho, aos 22,5% ao ano. O porcentual reflete o volume de juros pagos, em reais, por consumidores e empresas no mês, considerando todo o estoque de operações, dividido pelo próprio estoque.
Na prática, o indicador reflete a taxa de juros média efetivamente paga pelo brasileiro nas operações de crédito contratadas no passado e ainda em andamento.
Spread bancário
O spread em operações de crédito apresentou redução em agosto. Dados divulgados pelo Banco Central mostram que o spread bancário médio no crédito livre passou de 32,5 pontos porcentuais em julho para 32,3 pontos porcentuais em agosto, informou o BC.
No segmento pessoa física, o spread passou de 46,9 para 46,4 pontos porcentuais entre os dois meses. Para pessoa jurídica, o spread médio caiu de 11,9 para 11,6 pontos porcentuais na passagem de julho para agosto.
O spread é calculado com base na diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o que é efetivamente cobrado dos clientes finais (famílias e empresas) em operações de crédito.
O spread médio do crédito direcionado, caiu de 4,8 para 4,7 pontos porcentuais na passagem de julho para agosto.
Já o spread médio no crédito total (livre e direcionado) foi de 21,6 para 21,3 pontos porcentuais entre os dois meses. Acesse o relatório completo aqui.
Se tem crédito, tem inadimplência
A taxa de inadimplência nas operações de crédito livre com os bancos ficou estável em 4,9% em agosto ante julho (considerando o dado revisado do sétimo mês), informou o Banco Central.
Enquanto para as pessoas físicas, a taxa de inadimplência recuou de 6,2% para 6,1% de um mês para o outro, para empresas, subiu de 3,2% (dado revisado) para 3,3% no período - o maior porcentual desde agosto de 2018.
A inadimplência do crédito direcionado (recursos da poupança e do BNDES) continuou em 1,6% em agosto ante julho (considerando o dado revisado do sétimo mês). Já o dado que considera o crédito livre mais o direcionado mostra que a taxa de inadimplência também se manteve em 3,6% em agosto.
Endividamento das famílias
O endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro fechou o mês de julho em 47,8%, menor do que em junho (48,2%, dado revisado). O recorde da série histórica do Banco Central ocorreu há exatamente um ano, em julho de 2022 (50,1%). Se forem descontadas as dívidas imobiliárias, o endividamento ficou em 30,2% no sétimo mês de 2023, contra 30,5% em junho.
Julho foi o primeiro mês de operação do programa federal de renegociação de dívidas Desenrola. Na fase do programa iniciada no dia 17 daquele mês - e ainda em vigor -, é possível renegociar dívidas bancárias de consumidores que ganham até R$ 20 mil mensais, sem garantia do Tesouro Nacional.
Além disso, o nome de pessoas que tinham dívidas de até R$ 100 nos bancos foi "desnegativado" automaticamente, sem o perdão dos compromissos. A segunda fase, para quem ganha até dois salários mínimos (R$ 2.640), deve começar em outubro e terá garantia do Tesouro.
Segundo os dados do BC para o mês de julho, o comprometimento de renda das famílias com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) terminou o mês em 27,6%. Em junho, o porcentual era de 28,3%, recorde da série. Descontados os empréstimos imobiliários, o comprometimento da renda ficou em 25,5% no sétimo mês do ano, ante 26,1% em junho (dado revisado).
*Com informações do Estadão Conteúdo
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