Sobrevivente da safra de IPOs da pandemia, a Vamos (VAMO3) segue crescendo — mas a concorrência no aluguel de caminhões, também
Se antes a Vamos (VAMO3) nadava sozinha neste mar, outras companhias agora desejam uma fatia desse mercado ainda pouco explorado
![Grupo Vamos](https://media.seudinheiro.com/uploads/2022/09/Divulgacao_Grupo-Vamos-1-628x353.jpg)
A safra de IPOs de 2020 e 2021 frustrou muita gente — e com razão. Afinal, a grande maioria das empresas que chegaram à bolsa desde então enfrentam desvalorização, algumas delas perdendo até 80% do seu valor. Mas, para quem apostou na Vamos (VAMO3), houve uma grata surpresa.
Para se ter uma ideia, apenas neste ano, a valorização do papel já é de 21,2% — no mesmo período, o Ibovespa avançou 7,35%, com um salto recente em agosto. E o bom desempenho, em linhas gerais, vem desde a estreia na bolsa.
À primeira vista, falar sobre uma companhia que trabalha com locação de caminhões e máquinas agrícolas pode parecer bem pouco sedutor. Mas os números da Vamos trazem brilho aos olhos, mesmo os de quem não conhece o setor a fundo.
Considere apenas a última linha do balanço da companhia no segundo trimestre: a empresa teve um lucro recorde de R$ 142,5 milhões, uma alta de 42,4% na comparação anual.
Destaques do balanço do segundo trimestre da Vamos (VAMO3)
Período | 2T22 | 2T21 |
Lucro líquido | R$ 142,5 milhões | R$ 100 milhões |
Receita líquida | R$ 1,1 bilhão | R$ 665,6 milhões |
Ebitda consolidado | R$ 450,4 milhões | R$ 253,8 milhões |
Hoje, a Vamos aposta em forte crescimento orgânico e expansão do mercado de locação desse tipo de veículo para avançar, conforme o modelo se torna mais conhecido no país.
Afinal, num período de crise e juros mais altos, é natural que toda empresa deseje cortar seus custos. E, ao colocar isso na ponta do lápis, a tendência é que seja mais barato alugar um equipamento de custo elevado, como um caminhão, do que comprar e fazer sua manutenção constantemente.
Para Gustavo Moscatelli, CFO do Grupo Vamos, trabalhar com foco nessa necessidade é um dos pontos fortes da empresa hoje.
"Nosso modelo de negócios acaba sendo uma alternativa em períodos de crise porque é um caminho para modernizar a frota de veículos sem afetar o capital da empresa com uma compra mais cara, é ganho de eficiência", afirmou, em entrevista ao Seu Dinheiro.
Segundo seus cálculos, o Brasil conta com uma frota de 3,8 milhões de caminhões, com uma idade média de 21 anos. Ou seja: necessitada de renovação.
Em relatório recente, o BTG Pactual apontou que a Vamos está em um momento bastante positivo graças à capacidade de repassar o maior custo de capital e a um melhor mix de clientes. Além disso, a empresa também tira proveito de uma concorrência fraca no mercado de aluguel de caminhões.
Vamos (VAMO3) navega sozinha, mas a concorrência tende a crescer
A Vamos é uma subsidiária de locação de caminhões do grupo de logística Simpar (SIMH3) — ex-JSL. Atualmente, a empresa tem 85% desse mercado de aluguel no Brasil com seus 35 mil ativos, sendo a maior no segmento de veículos pesados; consequentemente, tem vantagens competitivas consideráveis.
O plano é chegar a 2025 com 100 mil ativos. Apesar do número, o mercado de locação de veículos pesados ainda é pouco explorado no Brasil, o que representa um dos pontos de vantagem para a Vamos, aponta Moscatelli.
Segundo ele, somente 1% da frota de caminhões do país é alugada, enquanto na Europa e nos Estados Unidos esse número chega a 25% — dando dimensão do quanto a empresa ainda pode avançar.
Mas, se até agora a concorrência era considerada fraca, esse quadro começou a mudar e outras empresas já olham para o mesmo filão.
É o caso da Gerdau (GGBR4), que anunciou no último dia 2 uma parceria com a Randon (RAPT4), fabricante de implementos rodoviários, para entrar no mercado de locação de caminhões e semirreboques a partir de uma joint venture.
Nesta nova empresa, 50% do capital pertence à Gerdau Next — unidade de negócio de sustentabilidade, construção e mobilidade da siderúrgica — e outros 50% à Randon. No total, serão investidos R$ 250 milhões ao longo de três anos.
Em relatório, a XP Investimentos avaliou que a chegada de mais um concorrente ao mercado de locação de caminhões não deve trazer grandes impactos à Vamos, já que esse segmento possui muito espaço a ser ocupado.
A XP também elevou o preço-alvo de VAMO3, de R$ 19 para R$ 21 — potencial de alta de 47,3% se considerado o fechamento de quinta-feira (8). A ação ainda é a favorita da XP no setor de transportes, com destaque para seu poder de precificação.
![](https://media.seudinheiro.com/uploads/2022/09/VAMO3_2022-09-09_15-00-53.png)
“Vemos na Vamos um forte potencial de crescimento decorrente de um mercado de aluguel de caminhões ainda inexplorado no Brasil (penetração de apenas ~1%). Embora permaneçamos relativamente conservadores em comparação com as indicações da empresa, reconhecemos o forte crescimento contínuo”, diz o documento.
Volkswagen entra na arena
No fim de agosto, foi a vez do lançamento do VW Truck Rental pela VWFS (Volkswagen Financial Services) — globalmente responsável pelas operações financeiras do Grupo Volkswagen e independente da montadora.
O serviço de locação contará com um programa de assinaturas, como já acontece com veículos.
Vale lembrar que, além de já atuar com locação de veículos pesados em parceria com a LM Frotas, a Volkswagen é uma das líderes de vendas de caminhões no Brasil, o que pode facilitar seu acesso a clientes.
Além disso, uma das principais diferenças será o foco na pessoa física, de olho em caminhoneiros autônomos, que sofrem mais na busca por crédito para adquirir um veículo novo e podem encontrar uma solução na locação.
Em relatório, a XP comenta que a baixa penetração de mercado compensa a concorrência de médio prazo. Para os analistas, em um ambiente de mais competição, ambas as empresas devem ter atenção com sua capacidade de gestão de ativos em escala e maneiras de acessar capital a taxas de financiamento atraentes.
A visão de que a ameaça não é prejudicial ao negócio é compartilhada pelo próprio Gustavo Moscatelli, CFO da Vamos. Em sua avaliação, a entrada de novos players é capaz de impulsionar esse modelo de negócios, dando mais visibilidade para esse nicho.
"É um modelo ainda não conhecido, então quando vemos novos entrantes eles ajudam a mudar isso mais rápido. Num mercado tão grande há espaço para todo mundo e não é isso que vai fazer a Vamos crescer mais ou menos dadas as oportunidades que temos pela frente", define. Ele lembra, ainda, a diferença de atuação, já que a companhia hoje não atende pessoas físicas, por exemplo.
Aquisições são vantagem competitiva para Vamos (VAMO3)
Em março deste ano, a Vamos adquiriu 70% da Truckvan por meio da sua subsidiária Vamos Seminovos. Foi a sexta aquisição da companhia desde a realização do seu IPO.
O contrato de compra e venda prevê um aporte de capital no valor de R$ 30 milhões, além de uma compra de participação secundária no valor de R$ 54 milhões, feita parte à vista e parte parcelada, totalizando R$ 84 milhões. Com isso, a Truckvan foi avaliada em R$ 90 milhões.
A aquisição ajudou a companhia a se consolidar como uma plataforma de caminhões, máquinas e equipamentos, avançando em seu ecossistema, mas também na parte de serviços e venda cruzada.
Na avaliação de Diego Bellico e Gabriela Joubert, analistas do Inter, as aquisições feitas pela Vamos são uma vantagem competitiva importante para a empresa, que ganha tração em mercados complementares.
"Essa estratégia se mostrou acertada, uma vez que estamos falando de negócios com sinergia e que permitem ganho de mercado", diz Bellico, citando como exemplos a atuação da Vamos junto a concessionárias e no ramo de customização.
O analista ainda faz uma ressalva importante para os investidores que estão de olho em surfar a onda da Vamos: acabou em julho o prazo de 18 meses de restrição da negociação das ações da companhia para pessoas físicas.
A limitação ocorre porque o IPO da empresa ocorreu por meio de uma oferta restrita de ações, destinada a investidores profissionais e institucionais.
"Brinco que Vamos é quase uma renda fixa por causa da previsibilidade de receita: a partir do momento que ela aluga um caminhão para uma empresa, ela vai receber esse valor independente de como a economia vai se comportar durante esse contrato, ao mesmo tempo que é bastante atenta com o custo de suas dívidas por esse período."
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