Corinthians e Caixa Econômica Federal finalmente apararam as arestas e puseram fim a um impasse jurídico que se arrastava por anos. Clube e banco chegaram a um acordo sobre a dívida contratada para a construção da Neo Química Arena, antiga Arena Corinthians.
O alvinegro paulista anunciou a assinatura do acordo por meio de seus canais nas redes sociais.
Os detalhes do acordo não foram divulgados. “A Caixa não comenta os aspectos específicos de processos judiciais ou renegociações em andamento”, diz um comunicado divulgado pelo banco.
Entretanto, informações que circularam nos últimos meses permitem juntar os pontos e chegar aos valores e termos da negociação concluída agora.
Uma breve história do estádio do Corinthians
Durante décadas, a construção de um novo estádio próprio para o Corinthians figurou como lenda urbana paulistana.
Nos anos 1970, nenhum estádio parecia suficiente para comportar a crescente torcida corinthiana.
A modesta Fazendinha, construída no terreno da sede social do clube, no Parque São Jorge, era usada cada vez mais raramente.
O histórico presidente corinthiano Vicente Matheus chegou a lançar um carnê para a construção de um estádio para 200 mil pessoas em Itaquera, na zona leste de São Paulo.
Mais de 30 anos separaram o “carnê do Itaquerão” do lançamento da pedra fundamental da Arena Corinthians, em maio de 2011.
Três anos depois, o estádio seria inaugurado a tempo da realização da Copa do Mundo de 2014.
Com capacidade para 47.605 torcedores, a Arena Corinthians custou R$ 1 bilhão, segundo informe apresentado ao Ministério do Esporte em 2015.
A dívida do Corinthians com a Caixa
Pelo plano financeiro original, a construção do estádio teria três fontes principais de financiamento:
- créditos tributários concedidos pela Prefeitura de São Paulo;
- comercialização dos naming rights; e
- um financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Em 2020, o Corinthians fechou acordo com a Neo Química, pertencente à Hypera (HYPE3), em relação aos chamados naming rights.
A farmacêutica pagou R$ 300 milhões para que a Arena Corinthians passasse a ser chamada de Neo Química Arena até 2040.
Já o financiamento cedido pelo BNDES foi intermediado pela Caixa. Originalmente contratado por R$ 400 milhões, o empréstimo é calculado atualmente em pouco mais de R$ 600 milhões.
A receita com bilheteria só entraria posteriormente na equação. Em 2022, a renda média do Corinthians em jogos na Neo Química Arena é de quase R$ 2,5 milhões por jogo.
Toda a receita com ingressos é destinada a uma conta específica destinada à quitação das parcelas da dívida corinthiana com a Caixa.
O impasse com a Caixa
O impasse entre o Corinthians e a Caixa Econômica Federal começou em 2019.
Depois de seis meses de atrasos nos pagamentos, a Caixa foi à Justiça para cobrar uma dívida de R$ 536 milhões.
Desde então, banco e clube tentavam uma saída amigável para o impasse.
Em março, ao prorrogar o prazo para que as partes chegassem a um acordo, o juiz Victorio Giuzio Neto chamou a atenção para o risco de o estádio ser transferido para a Caixa e ir a leilão em caso de decisão desfavorável ao Corinthians.
A proposta corinthiana aceita pelo banco
Agora, Corinthians e Caixa confirmam o acordo, mas se recusam a comentar os detalhes.
Entretanto, um documento aprovado por unanimidade pelo conselho deliberativo do Corinthians no fim de junho dá excelentes pistas sobre a proposta aceita pelo banco.
De acordo com o site MeuTimão.com, especializado no dia-a-dia do clube, a dívida atual com o BNDES é de R$ 611 milhões. O Corinthians terá até 2041 para quitá-la.
O clube começará a pagar os juros em 2023. A amortização do principal da dívida terá início somente em 2025.
As parcelas serão reajustadas anualmente pelo CDI (atualmente em 13,25% ao ano), acrescidas de uma taxa de 2%.
Parte dos valores pagos pelo clube sairá da receita com os naming rights. Outra parte substancial deve vir da renda com bilheteria.
A expectativa agora é de que, com o acordo, seja extinta a ação por meio da qual a Caixa cobrava o Corinthians na justiça.