Uma das frases clássicas do Coringa em Batman: O Cavaleiro das Trevas pode definir o estudo recente do Federal Reserve, o Banco Central americano, sobre as stablecoins: “O que acontece quando uma força imparável encontra um objeto que não pode ser movido?”
Não é de hoje que a autoridade monetária norte-americana está de olho nas criptomoedas. Desde o ano passado, diversas empresas passaram a olhar para os ativos digitais, em especial o bitcoin (BTC). Esses ativos digitais, rebeldes e diversos, acabaram fugindo das mãos dos reguladores do mundo todo.
Mas isso está prestes a mudar. Em um estudo divulgado nesta terça-feira (1º), o Fed destaca a importância das stablecoins no cenário atual, mas também ressalta a importância do impacto no sistema financeiro tradicional.
O que são as stablecoins?
De maneira geral, as criptomoedas não possuem lastro, mas as stablecoins (“moedas estáveis”, em tradução livre) são uma classe especial de ativos digitais. Elas possuem paridade com ouro ou dólar, por exemplo.
As maiores e mais conhecidas são o tether (USDT) e o USD Coin (USDC), respectivamente a terceira e a quarta maiores criptomoedas do mundo, com paridade com o dólar americano.
As stablecoins entraram no radar dos investidores porque elas ajudam a reduzir os custos de negociação dentro da rede (blockchain) de outras criptomoedas. Contudo, os órgãos reguladores ligaram um alerta vermelho para as empresas por trás dessas moedas digitais.
Porto seguro digital
Na prática, as empresas por trás das stablecoins acabam atuando como bancos, porque precisam ter o equivalente em dólares para conseguir emitir as criptomoedas correspondentes, já que elas têm paridade de 1 para 1.
Com isso, a publicação do Federal Reserve constatou que as stablecoins atreladas ao dólar “exibiam qualidades de ativos seguros”, em detrimento de outras criptomoedas. Em momentos de queda nas cotações das demais moedas digitais, os investidores buscam segurança nas stablecoins.
“Esses episódios demonstram o potencial de as stablecoins servirem como um porto seguro digital durante as dificuldades do mercado.”
Relatório do Federal Reserve sobre as stablecoins.
Stablecoins dentro da lei
Mas o Fed não pretende deixar os investidores por sua conta e risco no mundo das criptomoedas. Afinal, qualquer pessoa pode criar seu próprio ativo digital com algum conhecimento em programação e criptografia.
Pensando nisso, o Federal Reserve recomendou vistorias e auditorias para checar se as empresas por trás da emissão dessas stablecoins têm fundos, recursos e liquidez necessários para conter possíveis perdas do mercado.
O relatório é assinado por Gordon Liao e John Caramichael, especialistas requisitados pelo Federal Reserve para pesquisas com stablecoins.
No Congresso
No mesmo dia da divulgação do relatório do Federal Reserve, o Senado americano marcou a audiência para analisar uma proposta que busca regularizar as stablecoins.
Um comitê especializado do Senado terá uma audiência especial com o tema “examinando o relatório do grupo de trabalho do presidente sobre mercados financeiros sobre stablecoins”, em tradução livre, no dia 15 de fevereiro.
O relatório será analisado uma semana após a Câmara dos EUA realizar sua própria audiência.
Entre os presentes que prestarão depoimento a favor do uso de stablecoins, estão nomes de grandes executivos do mercado de criptomoedas, como:
- Jeremy Allaire, do Circle;
- Sam Bankman-Fried, da FTX;
- Alesia Jeanne Haas, da Coinbase;
- Brian Brooks, da Bitfury.
E por aí vem mais…
A própria Casa Branca pretende elaborar um documento sobre criptomoedas, mas de maneira mais ampla do que os relatórios recentes, que focaram nas stablecoins.
O presidente americano, Joe Biden, deve divulgar esse relatório “ainda no início de fevereiro”, segundo o Business Insider. A expectativa gira em torno do pacote de infraestrutura do chefe da Casa Branca, o chamado BBB (Build Back Better, ou “construir de novo e melhor”, em tradução livre).
O pacote estipula que serão gastos cerca de US$ 1 trilhão para obras em estradas, ferrovias e no sistema de transporte americano. Entretanto, desse total, cerca de US$ 550 bilhões devem ser de recursos com impostos vindos da taxação de criptomoedas.
Vale destacar que o plano ainda não foi posto formalmente no papel, mas a intenção de Biden foi suficiente para desagradar os investidores em criptomoedas à época.