Em 2021, as empresas entraram de cabeça no mercado de criptomoedas — mas, por se tratar de um ativo de alto risco, também houve uma série de condições para que isso acontecesse. Uma delas, a “regra da morte” da Microstrategy, pode fazer o bitcoin (BTC) derreter ainda mais.
Esse dispositivo diz que a Microstrategy deve vender bitcoins se o preço da criptomoeda atingir o patamar de US$ 21 mil. Isso pode desencadear um efeito dominó no mercado e derrubar as cotações ainda mais, de acordo com José Arthur, CEO da Coinext.
Microstrategy e bitcoin em números — e porque isso preocupa
Mas qual o tamanho da posição da Microstrategy em bitcoin? De acordo com a última apresentação de resultados da empresa à SEC — a CVM americana —, a companhia possui a maior exposição do mundo à criptomoedas, com 125,051 BTCs.
Esse montante é mais que o dobro do que a segunda colocada possui: a Tesla, empresa de carros elétricos do bilionário Elon Musk, tem o equivalente a 42,902 BTCs (cerca de US$ 1,3 bilhão).
Já a Microstrategy tem US$ 3,78 bilhões em bitcoin, com o preço médio de US$ 38.865 por criptomoeda. E a injeção desse montante de tokens (criptomoedas) no mercado, caso a “Regra da Morte” seja acionada, certamente derrubaria as cotações.
Entendendo a Regra da Morte
A Microstrategy comprou bitcoins com uma dívida feita com o Silvergate Bank — processo conhecido como alavancagem, que é comum em empresas mas desaconselhado para investidores pessoa física — sob uma condição.
Os bitcoins da Microstrategy precisam valer pelo menos US$ 410 milhões no total — o dobro dos US$ 205 milhões tomados em dívida com o banco. Em caso de perda desse montante, a empresa teria que capitular (vender) suas criptomoedas.
No patamar de US$ 21 mil por BTC, a Microstrategy será obrigada a vender seus bitcoins; a cotação representa uma queda de 30% em relação aos patamares atuais da principal criptomoeda do mundo.
Qual a chance disso acontecer com as criptomoedas?
Nesta sexta-feira (13), o bitcoin opera em um movimento de recuperação, negociado no patamar de US$ 30 mil. “O próximo suporte está entre os US$ 27 mil e US$ 28 mil, o que dá certo conforto mas liga o alerta”, comenta o CEO da Coinext.
O patamar de US$ 21 mil pode parecer distante, mas as incertezas do mercado com a guerra da Ucrânia e fuga de ativos de risco em meio à alta de juros do Federal Reserve deixaram os investidores tensos.
Somado a isso, a recente perda de confiança do mercado, encabeçado pelo problema no protocolo da Terra (LUNA), injetou ainda mais aversão ao risco. E isso quer dizer que a possibilidade de novas quedas dentro do Longo Inverno Cripto podem acontecer e trazer o bitcoin para o nível de US$ 21 mil.
Com a palavra, Michael Saylor
Para tentar amenizar a situação, o CEO da Microstrategy, Michael Saylor, afirmou que existem outros dispositivos antes da Regra da Morte precisar ser acionada.
“Antes de atingirmos perdas de 50%, nós podemos pegar outro empréstimo com colateral em bitcoin, então nós nunca chegaríamos nessa situação”, afirmou Saylor, na entrevista de apresentação de resultados do primeiro trimestre da Microstrategy.
Na publicação de resultados do primeiro trimestre deste ano, a empresa reportou perdas de US$ 170,1 milhões com o investimento em BTC no período. Desde agosto de 2020, a empresa tem usado o bitcoin como hedge (proteção) contra a inflação, de acordo com o Saylor.
O castigo das ações de tecnologia e das criptomoedas
A perspectiva de juros mais altos derrubou o setor de tecnologia no último ano. Em 12 meses, o Nasdaq caiu 15,33% e as ações da Microstrategy acompanharam esse desempenho.
No período, os papéis MSTR perderam cerca de 64,93% do valor — os recibos de ações (BDRs, em inglês) na bolsa brasileira também recuaram 55,99%. Já o bitcoin cai 33,5% no mesmo intervalo de tempo.
Essa não é uma exclusividade dessas empresas. De acordo com a pesquisa da Kaiko, companhias com exposição ao bitcoin — além da Microstrategy, também é possível citar Tesla, Coinbase e Block — acumulam perdas de mais de 50%.
A queda das ações da Coinbase, inclusive, foi um dos motivos que levou à desistência do acordo de compra com o Mercado Bitcoin, o unicórnio brasileiro de criptomoedas.