Quem já está aí na estrada há algum tempo teve a chance de investir, no início dos anos 2000, uma parte do seu FGTS em uma oferta de ações da Petrobras (PETR3; PETR4) e nos papéis da Vale (VALE3), durante a privatização da mineradora, então chamada Vale do Rio Doce.
Agora, esses mesmos trabalhadores terão novamente a chance de investir até 50% do seu FGTS - soma que inclui os valores em conta e os recursos eventualmente ainda investidos nas ações dessas duas empresas - na privatização da Eletrobras (ELET3; ELET6), que vai ser realizada por meio de uma oferta pública de ações estimada em R$ 35 bilhões.
Todos os trabalhadores residentes no Brasil com saldo em contas ativas ou inativas no FGTS poderão destinar até metade dos recursos do seu fundo de garantia a Fundos Mútuos de Privatização - FGTS (FMP-FGTS) constituídos especialmente para esta ocasião, a fim de participar da oferta.
Mas, no caso dos trabalhadores que ainda têm dinheiro investido em FMP-FGTS de Vale ou Petrobras, há duas maneiras de investir nas ações da Eletrobras - e eles só poderão escolher uma delas, segundo o prospecto da oferta: ou destinar uma parte dos recursos disponíveis em contas do FGTS a um FMP-FGTS Eletrobras comum, ou migrar seus recursos investidos em outros FMP-FGTS para um FMP-FGTS Eletrobras modalidade Migração.
Nesta outra matéria, eu já expliquei por que em geral vale a pena investir uma parte do seu FGTS na oferta da Eletrobras e mostrei o passo a passo para investir seu saldo disponível em conta no FGTS em um FMP-FGTS Eletrobras.
A seguir, eu vou falar sobre como migrar recursos ainda investidos em FMP de Vale ou Petrobras para um FMP que vá participar da oferta da Eletrobras - e se vale a pena fazer isso, afinal.
Investir parte do FGTS na oferta de ações da Eletrobras vale a pena? Confira a resposta no vídeo abaixo:
Como fazer a migração de recursos investidos em FMP de Vale e Petrobras para um FMP de Eletrobras
Todos os FMP-FGTS de Petrobras e Vale que ainda existem no mercado permitem resgates e migrações de recursos. Para pedir a migração para um fundo que vá investir na oferta da privatização da Eletrobras, você deve escolher uma instituição financeira que ofereça um FMP-FGTS na modalidade Migração. Lembre-se de que você deve ter conta aberta nesta administradora.
Nem todos os bancos e corretoras que lançaram FMP-FGTS Eletrobras - destinados a receber os recursos advindos das contas do FGTS - lançaram também versões Migração. Veja a seguir os FMP-FGTS Eletrobras Migração disponíveis até agora e suas respectivas taxas de administração:
Fundo | Instituição financeira | Taxa de administração (a.a.) |
Alfa II Migração Eletrobras FMP-FGTS | Banco Alfa | 0,45% |
BB Migração Eletrobras FMP-FGTS | Banco do Brasil | 0,20% |
Bradesco Migração Eletrobras FMP-FGTS | Bradesco | 0,40% |
Caixa Migração Eletrobras FMP-FGTS | Caixa Econômica Federal | 0,20% |
Genial Migração Eletrobras FMP-FGTS | Genial Investimentos | 0,20% |
Itaú Migração Eletrobras FMP-FGTS | Itaú Unibanco | 0,20% |
Safra Migração Eletrobras FMP-FGTS | Banco Safra | 0,15% |
Santander Migração Eletrobras FMP-FGTS | Santander | 0,20% |
XP Migração Eletrobras FMP-FGTS | XP Investimentos | 0,20% |
*Tabela atualizada em 06 de junho com taxas de administração reduzidas.
Após escolher o fundo, entre em contato com a instituição financeira administradora para dar início à migração dos recursos.
O período de reserva para quem vai aderir a um FMP-FGTS Migração começou na última sexta, 3 de junho, e vai até segunda-feira, dia 6 de junho, segundo o prospecto da oferta da Eletrobras.
O valor mínimo de investimento é de R$ 200, e é possível migrar até a totalidade dos recursos que você tem investidos em outros FMP, desde que o valor não ultrapasse o limite global de 50% do seu FGTS.
As dicas para escolher um bom fundo Migração são basicamente as mesmas para escolher um FMP-FGTS comum, como eu já expliquei nesta matéria.
Mas vale a pena migrar recursos de Vale e Petrobras para Eletrobras?
Quem investiu lá atrás em FMP de Vale e Petrobras e carrega a posição até hoje não tem do que reclamar.
Conforme a minha colega Flávia Alemi já mostrou aqui, os recursos do FGTS investidos em Vale renderam, nos últimos 20 anos, até 24 vezes mais que o fundo de garantia e 10 vezes mais que a poupança; já aqueles que foram investidos em Petrobras renderam até 10 vezes mais que o FGTS e quatro vezes mais que a poupança em 22 anos. Em ambos os casos, o investimento também superou o CDI com folga.
Mas será que é hora de se desfazer dessas posições e migrar para Eletrobras? Para Ruy Hungria, analista da Empiricus que anda bastante debruçado nas teses de investimento das três companhias, o mais interessante para o trabalhador com FGTS para investir é, se possível, diversificar.
Assim, para quem já tem posição em um FMP de Vale e/ou Petrobras, o mais indicado é, em vez de migrar, investir o saldo disponível na conta do FGTS em um FMP-FGTS Eletrobras comum. Ou, caso decida migrar, fazer a migração só de uma parte dos recursos e não de toda a sua posição em outros FMP.
Em tempo: migrar só uma parte dos recursos, deixando ainda alguma quantia aplicada em FMP de Vale ou Petrobras, pode ser interessante, por exemplo, para quem não tem saldo suficiente em contas no FGTS para participar da oferta, ou quem considera o valor disponível muito baixo.
Na opinião de Hungria, que também é colunista do Seu Dinheiro, as três companhias, embora também tenham riscos, contam com bom potencial de valorização, especialmente no longo prazo. Então são três boas ações para se ter na carteira.
Ele acredita que as ações da Eletrobras se valorizem de forma lenta, com os ganhos de eficiência advindos da privatização. “Até trocar a gestão, fazer melhorias e mudar regulamentos internos vai demorar. Não vai ser do dia para a noite”, diz.
A vantagem é que o risco da Eletrobras está mais relacionado a fatores internos - dificuldade de “arrumar a casa” - do que externos, como é o caso de Petrobras, com suas constantes ameaças de interferência política, ou Vale, exposta ao risco de uma desaceleração ou até recessão global, o que impacta muito a demanda por minério de ferro.
Mesmo assim, explica Hungria, Vale e Petrobras também têm potencial de valorização, estão baratas e constam entre as recomendações de ações da Empiricus.
“Vale é a que eu mais gosto. Está muito barata, gera muito caixa e paga muito dividendo. Continuaria a gerar muito caixa mesmo que o preço do minério caia mais e tem baixo risco de governança”, diz, complementando que, das três, é a ação com relação risco-retorno mais interessante.
"A Petrobras também está muito barata, mas não recomendamos uma exposição muito grande nessa ação por conta justamente do risco de governança”, completa.
*Colaboraram com informações para esta matéria a Genial Investimentos e a Quantum Finance.