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Ibovespa, dólar e juros fecham o dia em queda com inflação salgada e Brasília em foco

Ibovespa mercados em queda

Ao fim de uma sessão em que Ibovespa, dólar e juros fecharam o dia em queda e as bolsas americanas renovaram máximas, o Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, me fez uma pergunta em tom de brincadeira: quem está mentindo?

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A brincadeira faz todo o sentido. Embora pareça que dias como esse ficam mais comuns à medida que a saída da crise econômica pós-coronavírus é acompanhada de dados mistos da economia, tensões domésticas em Brasília e uma preocupação permanente com as contas públicas, o movimento é raro e chama a atenção. Principalmente quando acompanhado de uma boa dose de volatilidade e um noticiário carregado. 

Suspeito número 1

Temos três suspeitos. O primeiro é a bolsa brasileira, que até começou o dia em alta, tentando acompanhar a recuperação de mais de 2% do petróleo e surfar no otimismo visto nos mercados internacionais, mas não deu.

Depois de uma manhã instável, o Ibovespa se firmou no campo negativo e lá ficou, refletindo principalmente os acontecimentos em Brasília. Do lado do risco fiscal, os agentes financeiros ainda pesam o impacto do reajuste do Bolsa Família e da PEC dos precatórios. Ainda que com algum alívio se comparado ao estresse dos últimos dias.

Para o mercado, a ideia de um calote dos compromissos começa a parecer inviável e o que deve ocorrer é um parcelamento das dívidas. Com relação ao novo programa social, as palavras do ministro da Cidadania, João Roma,  proferidas ontem afastam momentaneamente o medo de um furo no teto de gastos.

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O valor de R$ 400 inicialmente ventilado pelo presidente Jair Bolsonaro não deve se tornar uma realidade, e Roma garantiu que a reformulação respeitará a saúde fiscal do país. 

Somado a isso temos a ata da última reunião do Copom e o índice de inflação oficial apontando para uma atuação mais dura do Banco Central brasileiro. Deixando os recordes da bolsa americana de lado, o principal índice da B3 fechou o dia em queda de 0,66%, aos 122.202 pontos. 

Suspeitos número 2 e 3

Enquanto isso, os mercados de câmbio e juros recebiam sem surpresas os dois principais eventos do dia. 

Primeiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que o IPCA teve a maior elevação no mês de julho em quase 20 anos, com uma aceleração de 0,96%, em linha com as expectativas do mercado.

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Já a ata do Copom reforçou o aumento de um ponto percentual já contratado para a próxima reunião e uma expectativa de que a inflação siga acelerando com a retomada econômica forte projetada para o segundo semestre. Os dirigentes do BC também voltaram a destacar a possibilidade de uma taxa de juros acima do nível considerado neutro, reforçando o que já havia sido dito no comunicado. 

Quem ficou de lado dessa vez foi o risco fiscal. Com a perspectiva de juros mais elevados, parte dos investidores desmontou posições defensivas na expectativa de que a taxa mais elevada atraia cada vez mais investidores estrangeiros.

O dólar à vista, que chegou a operar em alta no começo do dia, encerrou a sessão em queda de 0,96%, a R$ 5,1967. A aprovação do pacote de infraestrutura nos Estados Unidos, que vai injetar mais de US$ 1 trilhão na economia, também contribuiu para o movimento.

O BC foi duro e já plantou a ideia de um aumento de até 1,25 ponto percentual na próxima reunião na cabeça dos agentes financeiros. Mas o mercado já esperava isso. Nos últimos dias, a curva de juros ganhou inclinação expressiva. Com a ata confirmando o que já era esperado, os principais contratos de DI passaram por um dia de realização. Confira:

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Cortina de fumaça

Brasília tem se mostrado tão resiliente quanto coração de mãe — sempre cabe mais uma polêmica. 

O mercado financeiro, no entanto, mostra menos paciência. A votação da PEC do voto impresso, que está na pauta do dia na Câmara dos Deputados, deve ser rejeitada, mas a tentativa de tumultuar o processo democrático incomoda e é vista como desnecessária. 

A demonstração de força programada pelo presidente, com o desfile de veículos militares pela Esplanada dos Ministérios, causou desconforto, mas não intimidou. Para Marcel Andrade, head de renda variável da Vitreo, a derrota do governo deve fortalecer ainda mais o Centrão antes das eleições de 2022, fazendo com que o clima político mine os bons resultados mostrados pelas empresas brasileiras na temporada de balanços do segundo trimestre. 

Enfim, aprovado!

Em Wall Street, o tom dos negócios foi dado pelo Senado americano, que finalmente aprovou o pacote de infraestrutura de US$ 1,2 trilhão de dólares que deve se estender pelos próximos dez anos. 

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Embora a preocupação com os rumos da política monetária do Fed esteja longe de acabar, a notícia levou o Dow Jones e o S&P 500 a renovarem suas máximas históricas, acompanhando o mesmo movimento visto na Europa mais cedo. 

O Dow Jones e o S&P 500 subiram 0,46% e 0,10%, respectivamente. Já o Nasdaq fechou no vermelho, em queda de 0,49%. 

Sobe e desce do Ibovespa

Hoje o petróleo se recuperou parcialmente da queda sofrida ontem, o que fez com que as empresas do setor buscassem apagar as perdas da véspera. O principal destaque ficou com as ações da PetroRio, com uma alta superior a 6%. 

Vale destacar mais uma vez o bom desempenho das ações do setor de siderurgia. Com a aprovação do pacote de infraestrutura americano, a demanda por aço deve se elevar. A Gerdau é uma das companhias que mais devem se beneficiar da medida, já que conta com forte presença nos Estados Unidos. Confira os principais destaques de alta do dia:

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CÓDIGONOMEVALORVARIAÇÃO
PRIO3PetroRio ONR$ 18,726,48%
EMBR3Embraer ONR$ 19,603,27%
USIM5Usiminas PNAR$ 22,102,70%
GGBR4Gerdau PNR$ 31,742,52%
GOAU4Metalúrgica Gerdau PNR$ 14,531,61%

Na parte negativa da tabela, o destaque ficou com as ações do Iguatemi, em reação ao balanço divulgado na noite de ontem. Confira também as maiores quedas da bolsa hoje:

CÓDIGONOMEVALORVARIAÇÃO
IGTA3Iguatemi ONR$ 38,36-3,74%
ENEV3Eneva ONR$ 16,72-3,35%
CCRO3CCR ONR$ 12,43-2,89%
LAME4Lojas Americanas PNR$ 6,42-2,73%
LCAM3Locamérica ONR$ 25,33-2,69%

Resumo do dia

*Colaboraram Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos; Rafael Passos, sócio e analista da Ajax Capital; e Marcel Andrade, head de renda variável da Vitreo.

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